sábado, 11 de janeiro de 2014

UMA DOENÇA CHAMADA DIAGNÓSTICO

UMA PESSOA SAUDÁVEL É UMA QUE FOI MAL OBSERVADA (opinião médica)

[Os curandeiros itenerantes percorrem o país. Viajam em veículos futuristas e não cobram dinheiro pelos seus serviços. Nas praças dos mercados e das igrejas recebem as pessoas nos seus veículos, onde as examinam conscienciosamente e as classificam como doentes. A «unidade de investigasção móvel para a osteoporose», branca como o cálcio, saiu em tournée pela Alemanha pela primeira vez no verão de 2002, de Hamburgo até Erfurt. As mulheres com mais de 60 anos foram atraídas ao veículo para um «exaustivo check-up preventivo» com medição da densidade óssea incluída. Deste modo, podiam-se detectar as cidadãs com redução óssea devida à idade: aquilo que se conhec3e como osteoporose.A procura de mulheres doentes não estava isenta de um interesse pessoal: foi patrocinada por uma fundação e por 14 empresas farmacêuticas e fabricantes de produtos médicos (www.osteoporose.org, visitada em 22-11-2002)
Mas os homens também se vêem assediados, desta vez pelos empregados da empresa Pfizer, que percorre cerca de trinta cidades alemãs num camião azul e branco. O Homem Saudável, reza um rótulo, em grandes letras sobre o camião.A superfície de carga pode desdobrar-se de modo a que a base do solo triplique. No interior, há cinco cabinas de check-up, e um «painel de informação». Dentro do camião é realizado um exame a curiosos e a transeuntes com dez minutos de duração. O pessoal com formação médica mede o nível de colesterol, a glicose no sangue, a pressão sanguínea e controla o peso. «Se o homem não vai fazer testes, os testes vão onde está o homem», é o credo da Pfizer. Nas imediações de um grande torneio de golfe, por exemplo, 6297 homens saudáveis desfilaram pelo veículo de diagnóstico E pasme-se: metade dos examinados tinha uma pressão arterial elevada, e pelo menos 44% possuía valores sanguíneos fora do normal.
A unidade móvel da osteoporose e o camião da Pfizer parecem indiciar uma medicina que pretende abarcar a sociedade. Como se de medici ambulantes ou de curandeiros da Idadae Média se tratasse, actualmente os comerciantes de doenças saem realmente à caça de doentes. Descobrir doentes em toda a parte é o que interessa. Os alemães são vigorosos e de uma longevidade como nunca foram na história do país. Porém, as normas da ciência médica moderna não bastam aos germanos saudáveis. Os factores de risco médicos fixaram-se com tanta força nas suas consciências que qualquer um pode sofrer duma doença.
O processo é o seguinte: mede-se um valor de loaboratório numa grande quantidade de pessoas sadias, por exemplo, a dadores de sangue, recrutas e estudantes de educação física. O passo seguinte é calcular a média dos valores medidos. Os 95% centrais são definidos arbitrariamnet como «margem normal». Os 5% dispersos para cima ou para baixo são classificados de "anormais" e isto apesar de as pessoas a quem foram medidos os valores estarem saudáveis. (Os valores de laboratório explicados) Estugarda 2002.
Por conseguinte, pode-se considerar a Humanidade em peso como doente: sempre que houver 5% da população com um valor de laboratório que não é normal, deste modo, em cada novo exame aumenta a percentagem de anormais. Depois de se medir vinte valores , por exemplo, só 36% das pessoas estão totalmente sãs. E se medirem cem, já serão menos de 1%. Daí os médicos terem retirado uma conclusão maliciosa: uma pessoa saudável é alguém que não foi examinado, ou que não foi suficientemente bem examinado.
Com o colesterol, por exemplo, há alguns anos, na Alemanha definiram-se os valores-limite de tal maneira que as pessoas com valores "normais" eram uma minoria e as que tinham valores 2anormais" eram a maioria.
Como é possível?
Um amplo estudo realizado a 100.000 pessoas na Baviera deu como resultado um valor de 260 miligramas por decilitro de sangue. Não obstante, a "Iniviativa Nacional contra o Colesterol", uma união de interesses privada formada por 13 catedráticos em medicina, propôs 1990 um valor-limite de apenas 200 miligramas e realmente conseguiu impô-lo.
Os médicos da iniciativa contra o colesterol representavam associações do tipo lobby, entre as quais se encontrava a Associação Alemã para a Luta contra a Hipertensão e a Associação Contra os Lípidos, bekm como a Sociedade Alemã de Medicina de Laboratório. Num "documento de estratégia", reclamavam o alargamento agressivo do diagnóstico: «todos os médicos deveriam .  conhecer o índice de colesterol dos seus doentes.
Mediante este decreto instigado pelos médicos com interesses financeiros, a maioria dos alemães foi declarada paciente de risco. No grupo etário dos 30 aos 39 anos, segundo o valor-limite arbitrário, 68% dos homens e 56% das mulheres possuem um índice de colesterol patologicamente elevado.
Na faixa etária dos 50 aos 59 anos, vêem-se afectados inclusivamente 84% dos homens e 93% das mulheres.
Estes valores-limite revelam igualmente um resultado absurdo: os supostos pacientes que padecem do factos de risco sentem-se sãos e em forma. Se sofrem de alguma coisa, é precisamente desse estranho diagnóstico. O satírico vienense Karl Kraus tinha razão: o diagnóstico é uma das doenças mais frequentes que existe.] (Jörg Blech - in "Os inventores das doenças").
Este é o nosso sincero contributo pata os promotores de campanhas de rastreio "inocentes" e bem intencionadas.
Com amizade,
José Azevedo

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