quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

5 GRÁVIDAS FORAM COAGIDAS A ABORTAR POR SEREM SEROPOSITIVAS



Cinco grávidas dizem ter sido coagidas a abortar por terem VIH/sida

Discriminação é mais frequente nos locais de trabalho. Trinta e uma pessoas afirmam ter sido despedidas por estarem infectadas. Mas é a discriminação nos serviços de saúde que é mais surpreendente.


Três décadas a conviver com a infecção VIH/Sida não chegaram para acabar com o problema da discriminação em Portugal. O primeiro estudo para avaliar o estigma que persiste relativamente a pessoas portadoras do vírus permitiu perceber que a discriminação ainda é frequente, tanto nos locais de trabalho como nos estabelecimentos de ensino, e mesmo nos serviços de saúde onde os doentes são tratados.
Algumas das conclusões do Stigma Index Portugal, que inquiriu 1062 pessoas infectadas com VIH/Sida, são surpreendentes: cinco mulheres disseram ter sido coagidas, por técnicos de saúde, a interromper a gravidez, 45 foram pressionadas para fazer a esterilização e 84 garantiram que lhes aconselharam a não ter filhos. 
Foi justamente a discriminação nos serviços de saúde que mais impressionou o coordenador deste estudo e director do Centro Antidiscriminação (CAD), Pedro Silvério Marques: “É mais grave porque os profissionais de saúde têm a obrigação de estar mais informados”. Como é que ainda é possível haver quem aconselhe mulheres infectadas com VIH/Sida a abortar numa altura em que se sabe que o risco de transmissão do vírus é “praticamente nulo”, pergunta.
Mas há mais. Apesar de só 3% dos inquiridos afirmarem ter sentido discriminação por parte dos profissionais de saúde, nos 12 meses anteriores à realização do inquérito, 8,6% disseram que lhes foram recusados alguns cuidados de saúde. “Face à realidade actual da infecção, não se compreende este tipo de reacções por parte de profissionais de saúde”, insiste Silvério Marques.
No entanto, é nos locais de trabalhos que as queixas de discriminação são mais frequentes. Um terço do total dos inquiridos que foram despedidos (a maior parte estava desempregada) apontou “como razão [para o despedimento] o facto de viverem com VIH”. São 31 pessoas. Além disso, 56 garantiram que lhes foi recusada uma oportunidade de trabalho por esse motivo e 197 relataram que lhes alteraram as funções no local de trabalho. Os resultados do inquérito indicam que “20% dos patrões, 18% dos clientes e 13% dos colegas de trabalho tiveram atitudes discriminatórias ou muito discriminatórias”.

O problema também se faz sentir nos estabelecimentos de ensino. Dezasseis inquiridos disseram ter sido impedidos de frequentar um estabelecimento de ensino por terem VIH/Sida e dois afirmaram que os seus filhos foram excluídos de escolas, por sua causa, por serem portadores do vírus.

"Preferiram calar-se"
Silvério Marques esclarece que todos os inquiridos que afirmaram ser vítimas deste tipo de discriminação têm mais de 24 anos, o que faz pensar que em causa estarão "estabelecimentos de ensino para adultos, de ensino técnico ou recorrente ou cursos de formação profissional". Este esclarecimento seguiu-se à reacção do vice-presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas, que, confrontado com a notícia, garantiu “ter a certeza” de que as escolas públicas portuguesas não estão a recusar alunos com VIH/Sida ou filhos de pais com esta doença.  
A maior parte dos inquiridos que dizem ter sido vítimas de discriminação decidiu não se queixar. Uma das perguntas que se fazia aos inquiridos, que responderam sob garantia de anonimato, era a de se queriam algum apoio ou acompanhamento do CAD. “ Preferiram calar-se, ou porque não acreditam no sistema ou porque não se querem expor mais”, explica Silvério Marques.
A discriminação faz-se sentir ainda no âmbito familiar e da comunidade. Alguns dos inquiridos disseram mesmo ter sido forçados a mudar de casa. “Há pessoas que são postas na rua pela família, há familiares que se recusam a sentar à mesa [com infectados]”, relata o coordenador do estudo.
Silvério Marques defende, a propósito, que a legislação antidiscriminação poderia ser melhorada, incluindo-se um artigo sobre a discriminação em ambiente familiar ou social e abrindo a porta a que estes casos fossem considerados crimes públicos, de forma a que qualquer pessoa os possa denunciar.  O CAD recebe em média 25 queixas por ano.
Projecto internacional que em Portugal foi coordenado pelo Centro Antidiscriminação, com a associação SER+ e o Grupo Português de Activistas sobre Tratamentos de VIH/Sida, este estudo foi financiado pelo Programa ADIS-SIDA. Os locais de entrevistas foram os hospitais e centros hospitalares de Lisboa, Porto, Setúbal e Faro, os distritos em que a prevalência dos casos notificados até 31 de Dezembro de 2011 era superior a 5%, além de várias associações que trabalham nesta área.


Portugueses fazem mais exames médicos do que os recomendados

Estudo alerta para os riscos associados à realização excessiva de exames. A responsabilidade não é só dos utentes: os médicos também estão a utilizar em demasia os meios complementares de diagnóstico
A iniciativa de fazer estes exames considerados desnecessários recai sobre os profissionais de saúde 31,1% das vezes DANIEL ROCHA

    NB: O QUE GASTAM EM EXAMES DESNECESSÁRIOS SENÃO PREJUDICAIS À SAÚDE É O TRABALHO À COMISSÃO OU À IGNORÂNCIA E, DEPOIS, FAZ FALTA PARA ENQUADRAR OS ENFERMEIROS NOS SALÁRIOS A QUE TÊM TODO O DIREITO DO MUNDO


    Maioria dos portugueses ainda acredita que antibióticos devem ser usados em gripes e constipações

    Novo Eurobarómetro mostra que campanhas não estão a ser suficientes para contrariar o mau uso destes medicamentos: 69% dos portugueses inquiridos continuam a acreditar que os antibióticos servem para matar vírus e 61% acham que são indicados para constipações e gripes.
    A maior parte dos conselhos a alertar para o mau uso chegaram pelos profissionais de saúde PAULA ABREU
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    Apesar das campanhas a alertar para os perigos do abuso do consumo de antibióticos e para a importância de estes medicamentos serem utilizados apenas com prescrição médica, muitos mitos continuam a persistir entre os portugueses: 69% dos inquiridos num estudo continuam a acreditar que os antibióticos servem para matar vírus e 61% acham que são indicados para o tratamento de constipações e gripes.
    Em ambos os casos, os números melhoraram em relação a 2009 (menos nove pontos percentuais na primeira resposta e menos 12 na segunda), mas ficam muito acima da média da Europa a 27, onde 49% das pessoas acreditam que os antibióticos são eficazes contra os vírus e 41% nas outras doenças mencionadas. Os dados fazem parte da edição especial do Eurobarómetro — realizado pelo organismo de estatísticas da União Europeia — divulgado nesta sexta-feira sobre “Resistência Antimicrobiana”.
    O trabalho do Eurobarómetro contou com 26.680 entrevistas nos 27 países entre Maio e Junho deste ano. Em Portugal, a amostra foi de 1007 pessoas. Entre os inquiridos, 38% tinham tomado antibióticos nos últimos 12 meses (mais 3% que na média europeia e mais 5% do que em 2009, o que vai em linha contrária com a tendência de queda europeia). Além disso, verifica-se uma grande diferença entre géneros, com as mulheres a representarem 43% do total.
    Ainda alguns acessos sem receita
    Apesar do desconhecimento sobre as situações em que os antibióticos são adequados, há um dado positivo mas que também piorou cinco pontos percentuais em relação a 2009, com 88% dos portugueses a responderem que tomaram estes medicamentos mediante prescrição médica — que é, aliás, obrigatória. A média europeia fica ligeiramente abaixo, mas manteve-se: 87%. Ainda houve 2% de pessoas que assumiram tomar antibióticos que tinham em casa de vezes anteriores e 3% que conseguiram comprá-los na farmácia sem receita.

    Questionados sobre a última razão pela qual tomaram um antibiótico, em Portugal a maior parte dos inquiridos (22%) responderam que foi devido a uma gripe, 15% por garganta inflamada, 11% por constipação, 9% por bronquite e 6% por infecção urinária. Um cenário diferente do europeu, onde há um empate a 18% entre bronquites e gripes, seguidos de 13% de pessoas a responderem constipações, 11% garganta inflamada e 9% infecção urinária.
    Ainda nas perguntas relacionadas com o conhecimento destes fármacos, 79% dos portugueses (contra 84% dos europeus) disseram saber que o uso desnecessário faz com que os antibióticos percam o seu efeito. Mas, mais uma vez, os dados em Portugal revelam uma quebra de cinco pontos percentuais. Da amostra portuguesa, as pessoas entre os 25 e os 39 anos foram as que responderam mais acertadamente, tendo pelo menos completado o ensino secundário e dito que receberam informação sobre o tema.
    Informação não está a chegar aos cidadãos
    Alguns dos resultados parecem não estar a melhorar, em parte porque a informação não está a chegar por todos os canais aos cidadãos. Por exemplo, no último ano só 12% dos portugueses inquiridos se lembram de ter recebido informação sobre o mau uso de antibióticos ou o facto de não servirem para gripes e constipações, quando a média na Europa a 27 é de 33%. Além disso, entre os portugueses estão a ser os médicos (40% dos casos, contra 27% na União Europeia) e outros profissionais de saúde a passar mais as mensagens, sendo os casos de alertas nos meios de comunicação social muito menos mencionados do que em outros países.

    Em geral, em relação aos 27 países, o relatório demonstra que desde 2009 o consumo de antibióticos tem vindo a cair na maior parte dos países, a par com o aumento de campanhas de sensibilização para a importância de utilizarmos correctamente estes medicamentos. O problema, alerta o Eurobarómetro, é que mesmo assim os dados revelados pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças mostram que são cada vez mais os casos de bactérias que não respondem aos antibióticos — as chamadas bactérias multirresistentes.
    A Comissão Europeia está a explorar, através de 15 novos grupos de investigação, novas formas de harmonizar regras, recolher dados e chegar às melhores práticas para contrariar esta tendência, também no campo da agricultura e da alimentação animal, que coloca em risco a saúde pública. “Estou seriamente preocupado com o facto de os antibióticos, que nos permitiram no passado tratar infecções bacterianas mortais e salvar muitas vidas, estejam agora a ficar cada vez menos efectivos”, afirmou, num comunicado, o comissário europeu da Saúde, Tonio Borg.
    Dados em linha com relatório nacional
    Os números do Eurobarómetro para Portugal estão em linha com as preocupações do Ministério da Saúde e da Direcção-Geral da Saúde e com alguns dados recentemente publicados. De acordo com o relatório Portugal: Controlo de Infecções e Resistência aos Antimicrobianos em Números 2013, apresentado no dia 31 de Outubro, Portugal é o sétimo país europeu onde se consomem mais antibióticos fora do hospital, mas o seu uso em meio hospitalar também é excessivo, estando 12,7% acima da média europeia.

    Um dos problemas detectados é a nível hospitalar. Quando se é operado, dá-se por norma antibiótico para prevenir a infecção, mas o que se constata é que a sua administração se prolonga por tempo excessivo. A toma devia ser inferior a 24 horas, mas em 64% dos casos é superior. Nesse sentido, vai ser emitida uma norma a tornar regra uma administração que não vá além daquele período. Portugal tem uma taxa de consumo de antimicrobianos em meio hospitalar de 45,4%, muito acima da média comunitária, de 32,7%.
    O tema dos antibióticos tem estado na agenda das autoridades de saúde em Portugal, já que o país também está entre aqueles onde a resistência das bactérias a estes medicamentos mais tem aumentado entre humanos. Em Fevereiro, o Governo atribuiu mesmo o estatuto de programa nacional prioritário às infecções e às resistências aos antibióticos e a Direcção-Geral da Saúde comprometeu-se a estar mais atenta ao que os médicos prescrevem.
    Nos relatórios do Sistema Europeu de Vigilância da Resistência aos Antimicrobianos (EARS), Portugal surge, ano após ano, no grupo dos dez países europeus que mais consomem antibióticos. Esse consumo excessivo será, precisamente, um dos principais alvos do programa nacional prioritário.
    Por outro lado, Portugal continua também com um dos valores mais elevados entre 28 países de uma perigosa bactéria conhecida por MRSA (Methicillin-Resistant Staphylococcus aureus) e associada a infecções adquiridas em meio hospitalar. A resistência aos antibióticos é um dos mais preocupantes problemas de saúde pública, criado em grande parte pelo uso e abuso desta arma terapêutica. Os doentes infectados com estas bactérias resistentes têm opções limitadas de tratamento, exigindo um maior esforço (financeiro e não só) dos sistemas de saúde. Muitas vezes, resultam em estadias prolongadas nos hospitais e mesmo em morte.
        


    Centro Hospitalar de Coimbra forma parteiras angolanas e trata doentes estrangeiros

    Objectivo de plano de internacionalização é abrir as portas em áreas em que não há listas de espera e a excelência é reconhecida, diz administrador
    Em 2012, as unidades do SNS trataram 124.959 cidadãos estrangeiros PÚBLICO (ARQUIVO)

    No Centro Hospitalar Universitário de Coimbra (CHUC) estão neste momento a ser formadas 16 parteiras angolanas. Mas estas são apenas as primeiras de um grupo de 120 parteiras daquele país que vão receber formação no centro de simulação biomédica do CHUC, ao abrigo de um acordo com Angola, e esta é só uma das áreas do vasto plano de internacionalização que o centro hospitalar de Coimbra delineou até 2016.
    Os responsáveis da instituição que resultou da fusão de sete hospitais de Coimbra depositam grandes esperanças neste projecto de internacionalização. Dentro de três anos, o presidente do conselho de administração do CHUC, José Martins Nunes, acredita mesmo que 5% do financiamento, num orçamento da ordem dos 360 milhões de euros anuais, resulte já da abertura de portas ao estrangeiro. Serão 18 milhões de euros por ano.
    “É uma mudança de paradigma, para um hospital que era totalmente de serviços, passar a ser também de produtos”, explica Martins Nunes, que sublinha que “isto é o que fazem muitos hospitais noutros países há muito tempo”.
    Para começar, definiu-se “o posicionamento da marca CHUC” em quatro pilares. Um passa pela prestação de cuidados médicos altamente diferenciados, sempre em serviços em que não existem listas de espera, há capacidade instalada e reconhecida excelência, frisa o responsável. Não haverá  doentes portugueses a deixar de ser tratados? Não, garante. As áreas clínicas em que não existem listas de espera e há disponibilidade para tratar estrangeiros são a cirurgia cardíaca, a cardiologia de intervenção, a “reatribuição" de sexo, os transplantes de dador vivo renais e hepáticos e os tumores oculares, especifica.
    A experiência já arrancou. Desde há alguns meses que há doentes alemães a ser tratados no CHUC, recorda. No final de 2012, foi estabelecida uma parceria com a maior seguradora pública alemã, que implica que o centro hospitalar de Coimbra  seja a unidade de referência sempre que os segurados passem por Portugal e necessitem de assistência médica. Por enquanto, alguns alemães de passagem, alemães que residem em Portugal e portugueses que vivem na Alemanha têm sido tratados no CHUC com o cartão europeu de saúde, mas a ideia é que no futuro a experiência seja alargada, afirma Martins Nunes, que não consegue precisar o número de pacientes estrangeiros já assistidos no CHUC.
    O Centro de Tumores Oculares, que começou a funcionar em Novembro, permitirá, por outro lado, que doentes portugueses que antes tinham de ser tratados no estrangeiro possam ser assistidos aqui. Eram "cerca de 50" pacientes por ano. “Substituímos a importação e o país ganha com isso”, sintetiza o administrador, destacando que este centro foi construído com o apoio do mecenato.
    Outro pilar do programa de internacionalização passa pela investigação, com a criação de um Centro de Responsabilidade Integrada e a inauguração, prevista para Fevereiro, da “primeira unidade de ensaios clínicos de fase 1 do Serviço Nacional de Saúde”, uma forma de permitir aos doentes do CHUC “o acesso a medicamentos inovadores”.
    O outro pilar é o da formação e o quarto é o da consultoria. Além do acordo com Angola, há vários protocolos em curso e em negociação com entidades de vários países, incluindo europeus. Tudo isto, acredita Martins Nunes, acabará por ter um impacto indirecto nos médicos do CHUC, através do "reforço da rede de intercâmbio de experiências".
    Para debater esta experiência e "incentivar o diálogo sobre a criação de uma política de inovação no sector da saúde", o Núcleo de Internacionalização do CHUC está a promover esta terça-feira, no auditório do Hospital Pediátrico de Coimbra, um fórum com a participação de especialistas nacionais e estrangeiros. 
    Segundo a Administração Central do Sistema de Saúde, em 2012 as unidades do SNS trataram 124.959 cidadãos estrangeiros.

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