Ultimamente fala-se muito de violência. Pessoas eminentes, sábias e respeitáveis, se não incitam, antevêem comportamentos populares de revolta e agressão. Estranhamente, apesar do muito que se afirma, quase não se ouve dizer que a violência é uma coisa muito má, sempre de repudiar. Considerando-nos um país civilizado e até democrático, espanta a naturalidade com que tantas luminárias consideram o uso de métodos bárbaros.
Como somos um país civilizado e democrático, são poucos os que prometem às claras atacar e agredir. Por enquanto, hipocritamente, os intelectuais limitam-se a prever atitudes alheias. Não serão eles a bater, mas as forças populares, ficando-se na dúvida se as apoiam, embora evidentemente as compreendam.
É claro que, perante a terrível pressão a que a sociedade portuguesa está sujeita, seriam sempre naturais reacções agressivas. Isso acontece em vários países da Europa, mas, surpreendentemente, muito pouco em Portugal, apesar de a retórica das elites o prever há anos. Provavelmente o nosso país é mais civilizado e democrático do que se julga, hipótese que os nossos intelectuais nunca colocam. No fundo, eles, que se consideram génios, sempre desprezaram o povo, mesmo quando o lisonjeiam.
Alguns especialistas tentam até abordar as razões para o paradoxo. Por que razão a violência, há tanto tempo prevista, ainda não se realizou? Como nunca colocam a hipótese de estar errados, deve haver causas estranhas para a paz social. Curiosamente, entre os moti- vos invocados não aparece o mais óbvio: que a violência nada resolve e só agrava. Com conflitos, a austeridade ficaria maior, não menor; a crise aumentaria, não diminuiria; a situação seria mais grave, não menos. É surpreendente que tantas eminências nunca tenham pensado nisto.
O motivo é que, realmente, a generalidade da população parece mais a par dos contornos da crise do que aqueles que falam nos media. Estes compreendem muito menos do que os cidadãos comuns. Uma comparação ajuda a perceber.
Os portugueses não deveriam dar conselhos aos ucranianos sobre os alemães. Contas feitas, foi há mais de mil anos que os suevos e os visigodos nos inquietaram, enquanto os ucranianos já tiveram problemas bem mais recentes com a falta de espaço vital dos germânicos. Os ucranianos deviam ser, mais do que nós, especialistas dessa tão necessária arte europeia de saber tratar com aquele perigo. No entanto, estando, como estamos, do lado de dentro da armadilha, e vendo o frenesim com que Kiev se agita - "deixem-nos entrar, deixem-nos entrar!" -, exige a generosidade que digamos: calma. Escutem Viktor Ianukovich, o vosso Presidente, que teve o bom senso de qualquer dona de casa. Ele foi ao mercado, na loja do russo ouviu a oferta de gás, na quitanda da Merkel ouviu a promessa de sociedade, e decidiu bem. Optou pelo russo e não fechou as portas aos alemães. Foi medida prudente, não tanto porque não vale de nada fechar a porta aos alemães (não, já não é com Panzers que eles entram e, no entanto, entram), mas porque ganhar tempo e renegociar é essencial se quiserem ser mais do que sócios de segunda. Desde logo, deixem-nos lembrar com a sabedoria dos vencidos que vocês não negociavam para entrar na UE, mas para serem súbditos da dona da coisa. Adiando e obrigando-a a insistir, vocês conseguem mostrar que a Alemanha precisa dos outros. E talvez vocês consigam que até nós, de dentro da gaiola enferrujada, nos possamos dar conta desse facto.
Health at a Glance 2013
Health at a Glance 2013
"Health
at a Glance 2013" é
mais um relatório para esquecer.
Não
foi visado e recomendado pelo FMI, nem tem a benção dos restantes membros da
troika.
Em
tempos recuados os livros necessitavam de uma vistoria prévia (do poder real ou
da Igreja). Era o humilhante 'imprimatur'.
Os documentos de entidades ou organismos
externos que ultrapassam (contornam) este arcaico vexame (e este é o 2º
relatório da OCDE no espaço de 1 semana) devem ser considerados como
susceptíveis de enervar os mercados e desagradar aos credores, logo enviados
para o index.
O
esboço do alardeado 'programa cautelar' passa pela exigência de mais cortes no
sector da Saúde. Medidas que deverão ser 'construídas' à volta da máxima:
"Cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém".
Na verdade, os cidadãos sentem que há muito que
estão a ser depenados. Não sabiam era da intenção do 'pot-au-feu'.
Mas à primeira vista (At first glance) é
o que nos espera...
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