RESOLUÇÃO
SECRETARIADO NACIONAL DE 19 DE Dezembro DE 2013
A 10ª avaliação do
PAEF terminou com o Governo e a Troika a sustentarem mais um balanço positivo
da implementação do programa de ajustamento.
Esta é uma posição a que
a UGT não pode deixar de contrapor a realidade vivenciada diariamente pelos
trabalhadores, reformados e pensionistas, resultado das políticas implementadas
que permanecem inalteradas, e o estado da nossa economia.
Para a UGT é claro
que a situação económica e social de Portugal é hoje muito preocupante, sendo
que todos os dados disponíveis por vários organismos nacionais e internacionais
evidenciam que a recuperação económica será muito mais lenta que o esperado,
tudo indiciando que, a não existir uma mudança de políticas, a mesma poderá
sofrer ainda um agravamento.
O
processo de ajustamento que se procurou realizar foi centrado na redução do
nível dos rendimentos dos portugueses e dos custos do factor trabalho
(salários, pensões e apoios sociais), pelo que se verificou um forte
desequilíbrio nos sacrifícios impostos, centrados sobretudo nos trabalhadores e
pensionistas, e um agravamento das situações de pobreza e exclusão, motivadas
quer pela forte redução do poder de compra das famílias, em virtude de uma
redução do nível salarial e das pensões, quer pelo agravamento do desemprego,
que continua hoje a níveis dramáticos e sem precedentes.
Mas a maior e mais
grave omissão em todo o processo, desde a construção do PAEF, passando pelas
suas sucessivas revisões, sempre foi a ausência de medidas que promovam o
crescimento económico e o emprego, criando condições para uma efectiva
recuperação económica do País. Estas medidas são, mais do que nunca,
necessárias e urgentes, não podendo continuar a adiar-se a sua introdução apenas
para o período após o fim do programa de ajustamento e a saída da troika do
nosso país.
Registamos os indicadores
positivos recentemente publicados em termos do crescimento do PIB, mas é prematuro
falar-se de uma retoma económica e, ainda mais prematuro, falar-se de uma
retoma sustentável para o País, sobretudo face à imutabilidade das opções e
políticas centrais do Governo português em áreas nucleares como o crescimento
económico e o emprego.
A UGT considera insustentável
continuar a insistir-se em políticas de austeridade e num ritmo de consolidação
orçamental que todos consideram ser excessivos, e não pode deixar de questionar
a justiça social dos resultados que vêm sendo apresentados, quando assistimos
ao agravamento das desigualdades na distribuição de rendimentos, ao crescimento
do desemprego, ao empobrecimento da generalidade das famílias e ao facto de o
principal factor de ajustamento estar estribado nos rendimentos do trabalho - salários
e pensões.
Apesar de os
responsáveis máximos das instituições da Troika, nomeadamente o FMI, assumirem
um discurso em que reconhecem terem subestimado os impactos das políticas de
austeridade, designadamente face aos óbvios efeitos económicos e sociais negativos
das medidas tomadas, esse mesmo discurso não encontrou ainda qualquer reflexo
nas missões técnicas enviadas a Portugal e em quaisquer reais medidas de
promoção do crescimento e do emprego.
A UGT defende que
é necessário criar condições mais adequadas à realidade económica e social do
País. É essencial discutir outras condições de cumprimento do programa de
ajustamento, nomeadamente os prazos para alcançar as metas do défice, a redução
das taxas de juro, a dilatação dos prazos de pagamento, permitindo a libertação
de recursos financeiros para a retoma económica e para as políticas sociais.
A UGT não
contesta a importância das exportações, mas é inviável fazer das mesmas o pilar
exclusivo em que deve assentar o crescimento da nossa economia. É necessário
apostar na promoção do mercado interno e na produção nacional, o que passa
necessariamente por promover um crescimento económico com mais investimento e
mais consumo. É hoje consensual que, até mais do que o financiamento à economia
e o acesso ao crédito por parte das empresas, um dos principais factores de
constrangimento ao reforço do investimento e a novos investimentos é o
insuficiente consumo privado, reafirmado pelas últimas estimativas da OCDE para
Portugal.
É assim necessária
uma discussão e o estabelecimento de uma política de rendimentos que não continue,
sempre e cada vez mais, a ter nos salários a única variável de ajustamento
económico e de promoção da competitividade. Os
rendimentos dos trabalhadores e suas famílias têm um papel central para a
recuperação da nossa economia, por via do aumento do poder de compra e do
consumo privado, pelo que a sua melhoria deve ser claramente um objectivo de
política económica e social.
Nesse sentido, a
UGT considera cada vez mais central colocar em cima da mesa o aumento do
salário mínimo.
Este
é um imperativo que, não obstante a inaceitável oposição da Troika, reúne cada
vez mais consenso por parte dos parceiros sociais e que a própria OIT já veio defender
como condição essencial para o crescimento económico e o emprego, sobretudo nos
países sujeitos a programas de ajustamento, isolando a Troika na sua
irredutibilidade quanto a esta matéria.
O
salário mínimo não pode continuar a ser condicionado por factores puramente
económicos, devendo ser visto como um instrumento social fundamental, não
apenas para reduzir a pobreza e as desigualdades e promover o trabalho digno, mas
também para promover a estabilidade económica por via do consumo interno.
Não deve ser esquecido ainda o
papel fundamental que desempenhará face à atual dinâmica de criação de emprego,
que se encontra fortemente associada à contratação precária – a prazo,
temporários, recibos verdes – e à descida do valor médio dos salários
oferecidos, degradando as condições de trabalho em Portugal e gerando o
empobrecimento dos trabalhadores.
Diga-se aliás
que, em matéria laboral e mesmo sendo reconhecido que a legislação existente
nunca constituiu um dos principais óbices à competitividade do País, Portugal
realizou já alterações na sua legislação com vista a dar cumprimento aos
objectivos traçados no Memorando de Entendimento. A UGT encarou com forte
apreensão algumas alegadas intenções veiculadas como medidas possíveis da
Troika, mas regista positivamente o compromisso, assumido ontem em concertação
social pelo Primeiro Ministro, em que reafirmou que o Governo e os Parceiros
Sociais fizeram já o que lhes incumbia nesta matéria, pelo que não estão em
causa alterações adicionais à legislação laboral.
A
insistência quanto à necessidade de se continuar a aprofundar a flexibilização
do mercado laboral visando uma maior desregulação, sem fundamentos económicos,
financeiros ou sociais, pretendendo mexer inclusivamente em matérias que foram
já objecto de compromissos tripartidos e que potenciam uma descida dos níveis
de protecção num País que tem dos mais elevados níveis de precariedade laboral
da Europa (como sucederia com o contrato único), revelariam um desfasamento –
ou mesmo um descaso - da realidade que não poderíamos deixar de rejeitar
liminarmente.
Tal
desconhecimento parece aliás estender-se a uma matéria fundamental para
trabalhadores e empresas, a da negociação colectiva. Assistimos hoje a um
bloqueio inaceitável que potencia a desregulação laboral, até pela criação de
vazios negociais, sem que pareça haver uma preocupação efectiva, quer por parte
da Troika, pela sua inflexibilidade em certas matérias, quer por parte do
Governo, desconsiderando inclusivamente compromissos assumidos tripartidamente,
em reconhecer o papel fundamental da negociação colectiva e em promover a sua
dinamização. Esta é uma matéria que a UGT quer ver discutida e tudo faremos
para pôr termo à insustentável paralisação dos processos negociais.
A UGT manifesta a sua oposição às reformas que
se pretendem implementar na esfera da Segurança Social, que em nosso entender
não atendem nem à profundidade da reforma efectuada em sede de concertação
social em 2006 e aos seus impactos em termos de sustentabilidade futura da
segurança social, nem respeitam o papel dos parceiros sociais nesta matéria.
Há
muito que o FMI vinha insistindo no aumento da idade legal de reforma em
Portugal, vindo agora o Governo, de forma unilateral e sem consenso entre os
parceiros sociais, concretizar tal alteração. Para a UGT, esta é uma alteração
inaceitável, que em nosso entender não encontra fundamento na preocupação da
sustentabilidade futura, relembrando que Portugal apresenta um risco moderado
quanto à sustentabilidade futura da segurança social no contexto europeu, como
aliás o próprio Governo português relembra no relatório do Orçamento do Estado
para 2014. Esta alteração cria, no imediato, distorções no funcionamento do
mercado de emprego, o que é especialmente negativo num momento crítico como o
actual, e, a médio prazo, uma profunda incerteza e instabilidade junto dos
trabalhadores.
A
manutenção de um tal caminho, bem como a diminuição de muitas prestações
sociais, apenas contribuirá para um agravamento do clima de instabilidade e de
conflituosidade sociais, o qual teria sempre impactos sociais e económicos
indesejáveis.
São fundamentais políticas
com sensibilidade social, em que o Estado não pode reduzir-se a um papel
meramente assistencialista, que respondam aos problemas do desemprego, dos
jovens, da pobreza, do acesso aos bens e serviços fundamentais, garante da
igualdade de oportunidades.
No que concerne à
falada reforma do Estado, a UGT entende que esta não pode deixar de passar por
um diálogo social e político sério, com um
calendário realista e deverá ter como objectivos centrais a melhoria do
funcionamento dos serviços públicos, a qualidade e o acesso dos cidadãos a
esses serviços e a melhor utilização dos recursos financeiros disponíveis. As
intenções veiculadas revelam, em nosso entender, a falta de uma visão
estratégica no que concerne ao desenvolvimento do País e a fragilidade das respostas
curto / longo prazo.
Em
suma, e conforme sempre assumimos perante o Governo e a Troika, a UGT defende e
continuará a defender uma mudança imediata de políticas que promova uma
articulação entre o rigor orçamental e as necessidades de crescimento e
emprego, não sendo aceitável que as instituições internacionais assumam erros
de concepção das suas políticas sem que tal leve à sua necessária inversão.
Não
podemos ainda deixar de salientar que as políticas a implementar deverão também
não apenas passar por um processo de diálogo político e social, mas ainda serem
assumidas num espírito de pleno respeito pela ordem, instituições e actores do
nosso modelo democrático e de relações sociais e laborais.
O SECRETARIADO
NACIONAL, REUNIDO EM LISBOA, NO DIA 19 DE DEZEMBRO, DELIBERA AINDA O SEGUINTE:
- Congratula-se
com o resultado da intervenção da UGT e dos seus sindicatos da área da
educação, junto do Ministério da Educação e Ciência, com vista à redução do
impacto negativo que constitui a imposição da realização de uma prova de
avaliação de conhecimentos e capacidades a docentes sucessivamente contratados
para responderem a necessidades do sistema educativo. No quadro desta
intervenção, o MEC assumiu e cumpriu o compromisso de libertar definitivamente
mais de 28.000 docentes contratados da obrigação de realizarem aquela prova,
tendo em conta que estes já contabilizam cinco e mais anos de serviço nas
escolas;
- Manifesta que
este compromisso só se tornou possível, por um lado, pela forte mobilização que
os sindicatos da UGT da área da educação realizaram em torno desta questão, mas
também da intervenção empenhada, solidária e inflexível da UGT. Sem deixarem de
continuar a contestar a existência de tal prova, estes sindicatos obtiveram
desta forma uma clara vitória para milhares de docentes contratados;
- Regista
negativamente a não evolução dos processos negociais na Administração Pública.
O Governo mantém a sua posição, pretendendo alargar o programa de rescisões
amigáveis a técnicos superiores, programa que pouco sucesso tem tido pelas
condições oferecidas e que vem servindo para exercer pressão ilegítima sobre
vários funcionários. Extremamente gravosas são as propostas dos projectos de
diplomas sobre o Regime de Proteção Social Convergente e sobre o aumento da idade
de reforma, que terão impactos negativos sobre os actuais reformados e tornarão
extremamente penalizadoras as condições de acesso à reforma, pelo que reivindica
do Governo uma real abertura negocial com os sindicatos do sector e com os
parceiros sociais;
- Exige que o Governo, na sequência das declarações públicas do
Secretário de Estado da Administração Pública sobre a matéria, dê corpo ao
anunciado respeito pela negociação colectiva no sector público, dando o devido
seguimento aos processos negociais em curso, designadamente aos referentes à celebração
de Acordos Colectivos de Entidade Empregadora Pública (ACEEP) nas autarquias e
nos demais organismos da Administração Pública;
- Saúda a posição
responsável que os seus Sindicatos da área dos transportes ferroviários
demonstraram no processo que, na CP, conduziu à prorrogação do acordo subscrito
em 17 de Julho deste ano, sobre o regime do trabalho suplementar e deslocações.
Ao levantarem o pré-aviso de greve que estava convocada para o trabalho
suplementar, deram um contributo decisivo para a manutenção da paz social e
para o reforço do diálogo e da negociação como forma da resolução de conflitos;
- Solidariza-se
com a luta que está a ser travada pelos seus sindicatos da área dos transportes
do sector empresarial do Estado: Carris, Metropolitano, STCP e Transtejo - no
sentido de se criarem dinâmicas de diálogo que permitam desbloquear o impasse
negocial que as respectivas administrações teimam em manter;
- Apoia a
continuidade da luta dos trabalhadores dos CTT e dos seus sindicatos nesta
Empresa pela manutenção dos seus serviços sociais após a privatização da
empresa,
- Exige do
Governo um processo negocial sério e com diálogo efectivo, no sentido da
sustentabilidade e manutenção dos regimes de complementos de reforma previstos
nas convenções colectivas do sector empresarial do Estado e que permita, ao
mesmo tempo, mitigar os sacrifícios que a suspensão, prevista na LOE/2014, do
pagamento destes complementos, significará em particular para os reformados da
Carris e do Metropolitano de Lisboa.
- Saúda o acordo
sobre a reforma do IRC alcançado entre o Governo e o PS, como factor motivador
do diálogo social e político num momento particular de crise, que reforça as
posições defendidas pela UGT, porque este entendimento vem beneficiar as PME’s
sustentando e reforçando o seu contributo para o relançamento da economia e dos
níveis de emprego;
- Manifesta a sua
solidariedade, apoio e disponibilidade para participar nas formas de luta
encetadas pelos trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo na
defesa dos seus postos de trabalho e na salvaguarda dos seus direitos e das
suas famílias, atenta a situação sócio-económica criada que afecta, de forma
dramática, toda a região e o País;
- Desafia o
Governo a levantar os bloqueios impostos à negociação colectiva, designadamente
no que respeita às Convenções Colectivas Sectoriais e à autonomia das partes
para contratar, cumprindo as condições decorrentes da legislação laboral e os
compromissos assumidos perante os parceiros sociais de apoio a uma negociação
efectiva e à sua dinamização;
- Apoia os seus sindicatos do sector bancário nos vários processos
negociais em que estão envolvidos, nomeadamente a restruturação imposta pelas
instâncias comunitárias ao Millennium/BCP, tendo de reduzir a sua dimensão, que
afectará mais de 1000 postos de trabalho. A brutal redução da actividade económica
resultante das medidas de austeridade é transversal a todos os sectores
económicos. Mesmo sectores onde a estabilidade no emprego sempre se pautou como
uma das suas características, como é o caso da Banca, há muito que vêem a ser
drasticamente reduzidos os postos de trabalho. No caso do Millennium/BCP, os
sindicatos da UGT foram chamados a negociar a suspensão temporária de direitos
contratuais, designadamente salariais, com retenção temporária de rendimentos
dos trabalhadores em nome da defesa do emprego. A UGT e
os seus sindicatos da FEBASE tudo farão para minimizar o efeito dessas
imposições.
O Secretariado Nacional
Lisboa, 19 de Dezembro de 2013
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