sábado, 23 de agosto de 2014

HISTÓRIA DA ENFERMAGEM [ 6 ]



PREFÁCIO

É importante ser capaz de pintar um quadro ou esculpir uma estátua, e assim conferir beleza a uns poucos objectos. Mas muito mais glorioso é esculpir e pintar a atmosfera na qual trabalhamos a fim de melhorar a qualidade do dia: esta é a mais sublime das artes. 
(Henry David Thoreau)

Durante muito tempo, definiu-se a Enfermagem como uma disciplina metade arte e metade ciência. Todavia, pôs-se maior ênfase nos seus aspectos científicos, sem ter somente em conta a sua condição de arte. A Enfermagem é uma das Belas-Artes. "A mais bela das Belas-Artes", segundo Florence Nightingale.
Não é meramente uma técnica, senão um processo que incorpora os elementos da alma, a mente e a imaginação. A sua verdadeira essência reside na imaginação creativa, o espírito sensível e a compreensão inteligente, que constituem o fundamento real dos cuidados de arte de Enfermagem eficazes.
São inumeráveis os documentos e obras de arte que captaram estes cuidados em toda a sua magnitude e que possam realizar consideravelmente o estudo da história da Enfermagem por meio da representação visual. Em todas as galerias de arte podemos admirar santos protectores, mães amamentando, curas milagrosas, doentes acamados... Muitas das mais belas pinturas e esculturas sobre temas de Enfermagem são obra dos grandes mestres e de artistas contemporâneos. Todas elas ajudam a compreender a arte da Enfermagem.
A Enfermagem: a mais bela das artes, história ilustrada, foi trabalho amoroso e a consecução de um sonho. Foi um trabalho porque me esforcei por plasmar com realismo a beleza eloquente da Enfermagem e dos cuidados, de forma que todos aqueles que lerem o texto e contemplem as ilustrações possam apreciar a sua vitalidade.
O meu amor tanto pela história como pela Enfermagem proporcionaram-me a motivação para mostrar o desenvolvimento da Enfermagem integrando uma infinidade de ilustrações seleccionadas e documentos escritos.
O sonho de redigir e publicar este texto pertence na sua origem à Dr.ª Teresa Christy, falecida demasiado jovem e demasiado depressa".mas não sem antes ter alimentado o meu interesse pela história da Enfermagem e ter-se convertido em mentora das minhas primeiras incursões na investigação histórica. As palavras desta história são minhas, mas a alma é de Terry.
Este texto tem como fim uma história ilustrada da Enfermagem desde os tempos primitivos até à actualidade. Foi escrito para Enfermeiras, outros profissionais interessados e profanos. Se utilizaram diversas formas de arte para representar as variações e as mudanças havidas nos papeis e funções da Enfermagem enquanto que  produzidos pelas principais forças sociais, políticas e históricas da sociedade.
Também se plasmaram as modificações na imagem da Enfermagem, na sua progressão como processo em evolução. Além disso este texto ocupa lugar destacado na literatura de Enfermagem, não é um texto histórico exaustivo. Sem dúvida, pode utilizar-se para ampliar estudos tanto de Enfermagem como de arte. O essencial no seu valor estético, não só para a Enfermagem como para todos os amantes da arte.
Poderia criticar-se a emissão de alguns acontecimentos, pessoas e lugares significativos. Na realidade, escolhi factos específicos com o intento de equilibrar a iconografia com o texto, mas sim esquecer, por isso uma estimativa justa da trajectória da Enfermagem através dos tempos. Sublinharam-se os acontecimentos, temas e pessoas que que tiveram uma importância crucial para o desenvolvimento da Enfermagem.
Em conjunto, é um corpus de informação que demonstra as lutas, crescimento, desafios, dilemas, humanitarismo e beleza da Enfermagem.
Tudo serve para reforçar os temas que se vão repetindo no texto e reafirma a necessidade de comunicar de modo eficaz a essência da Enfermagem.

«Temos de ser conscientes e reafirmar que a Enfermagem é uma das artes mais difíceis. Talvez a compaixão proporcione o motivo, mas o conhecimento é a nossa única força para trabalhar. Quem sabe também seja necessário recordar que o crescimento no nosso trabalho deve ir precedido de ideias e de qualquer condição que reprima o pensamento obrigatoriamente obstaculiza o crescimento. Certamente, não nos sentimos satisfeitos perpetuando os métodos e as tradições. Certamente desejamos ocupar-nos cada vez mais na sua criação» . (M. Adelaide Nuttting. 1925)
Foram muitas as pessoas que participaram com a sua quota parte de alguma maneira neste projecto. A todas agradeço, sem esquecer aqueles que não nomeio pessoalmente.
Finalmente, agradeço à minha ajudante de investigação, Patrícia A. Russac, que me ensinou as subtilezas da arte. A sua experiência, decisão e precisão foram essenciais para levar a bom porto este trabalho.
Estou profundamente em dúvida com a minha equipa de colaboradores, cujos membros provavelmente nem sequer reconhecem a importância das suas quotas para o desenvolvimento deste texto, em particular com a tenente coronel Sarah A. Balkema, do Exército dos EUA (jubilada); a tenente coronel Joan K. Cotter, Exército dos EUA (jubilada); Karen A. O'Health.
Por último cito o apoio da Geraldene Felton, da Universidade de Iowa College of Nursing que facilitou a realização do projecto.

NB: pela leitura deste prefácio se pode avaliar a quantos anos luz estamos destas preocupações acerca da história da nossa Profissão.
Parece que há uma intencionalidade latente, em cada um para que se possa julgar mais esperto que os outros e fazendo-se fundador do que já existia, como se não existisse.
É devido a este fenómeno que há sempre um fosso a separar os que chegam à Profissão dos que já cá estão, que, por seu turno, cometeram o mesmo erro, quando começaram.
Este documento da história da Enfermagem de que estou a respigar alguns exemplos da história de outros destinam-se a estimular aqueles que tenham a humildade de reconhecer o que já existia, mostrá-lo aos que vêm para que tenham um ponto de partida histórico, assente nas experiências dos que os antecederam.
É urgente e necessário acabar com este mal original, para não distorcermos em cada Enfermeiro a prática da Enfermagem, em constante evolução, a partir das bases e não do éter, como há quem pensam e agem.
Talvez com a introdução duma cadeira de história da Enfermagem, nacional e internacional, do princípio ao fim do curso. se recupere o espírito de grupo e de classe, que destrua o individualismo tão prejudicial, quando a acção tem de ser colectiva, para atingir objectivos comuns, de que todos participem e não apenas alguns.
Quem não conhece a história está sempre a repetir os erros que já foram cometidos por outros e já os tinham corrigido, no que era possível.
Esta é uma das principais razões por que continuamos na cepa torta.
Atomizar uma classe que deve ser colectivo, com pequenas associações algumas das quais circunscritas aos seus fundadores, é falta de humildade para reconhecermos as nossas incapacidades para pormos a nossa experiência e luminosidade de ideias ao serviço do colectivo, da Classe inteira.
É por isso que tentamos, com este modesto contributo sobre história e sindicalismo, nosso e de outros, preencher uma lacuna do nosso ensino.
Em 1976, participei na revisão do plano de estudos, sobretudo captando os muitos e válidos contributos do outros elementos do grupo, que se teriam perdido para sempre sem essa mania dos registos, que tenho e com que alguns embirram, quando a sua foto fica tremida.
Nesse plano de estudo, que ficou conhecido como L V (livro da capa verde), propus a introdução duma cadeira sobre sindicalismo e introdução à vida profissional, dada, obviamente por sindicalista, para ir abrindo os olhos dos discentes, numa perspectiva da realidade adversa.
A falta de visão de quem planeia, porque não sente, em si, necessidade de se associar, porque tem o bastante, por enquanto, para preencher as suas necessidades de vida pessoais, transformou este são princípio numa ou duas horas no último dia, quando os Enfermeiros novos estão mais interessados em discutir as notas e a organização da festa de fim de curso.
Esta lacuna é uma parte substancial da caça aos jovens Enfermeiros com condições deprimentes de trabalho.
A ideia que muitos fazem do sindicato, em geral, é uma ideia pouco abonatória, porque é desvalorizada para afastar as vítimas da exploração, da única organização profissional capaz de melhorar as condições de vida e de trabalho.
Querem ver um exemplo?
Está-se a fazer finca-pé nas "dotações seguras", a cargo da Ordem dos Enfermeiros, como se contratar mais Enfermeiros resolvesse as condições de vida e de trabalho, estas a cargo do sindicato.
Não se está contra a contratação de mais Enfermeiros...
Contratar o dobro dos Enfermeiros pelo custo do que devia ser pago a metade, é uma preocupação nossa sindical e só nós é que a podemos resolver unidos em sindicato.
A consequência deste esganar dos vencimentos dos Enfermeiros leva-os a trabalhar o dobro do que as suas capacidades psicofísicas permitem e lá se vai o efeito das dotações seguras  para a potenciação das possibilidades de erro humano por esgotamento da capacidade de estar atento e operacional, porque os Enfermeiros são pessoas e os erros humanos são cometidos por pessoas em determinadas circunstâncias.
Os motoristas de autocarro têm de obrigatoriamente de interromper o seu trabalho para descanso.
Os pilotos de aviões têm turnos de trabalho curtos e períodos de repouso grandes, porque todos os seus reflexos devem estar despertos.  
E os Enfermeiros, não estarão a cuidar de pessoas frágeis e fragilizadas, pela doença?
Então por que se lhes pagam 2 horas de trabalho por metade do preço de uma, obrigando-os a preencher essa lacuna estupidamente cega, com o seu esforço pessoal,sacrificando o repouso a que têm direito e estabilidade que o convívio familiar proporciona.
A história da greve de 1976 onde o vencimento do último da carreira (o Superintendente), passou para o 1º da categoria (Enfº de 2ª classe) irá confirmar muito do que se está aqui a dizer.
Cada qual tem o direito ao desabafo de que tem sido enganado.
Mas não pode descarregar sobre os outros o pouco cuidado na sua própria responsabilidade de adquirir a formação necessária para o exercício correcto da Profissão onde estão incluídas as Organizações de Classe, mormente os Sindicatos.
Outros, antes de nós, deram a vida para conseguir a força colectiva que cada um não tem, por si, para a realização de objectivos de Profissão, um dos quais é o das condições de vida e de trabalho.
Convém lembrar aos que já se esqueceram ou ensinar os que nunca aprenderam: 
Um dos objectivos do afastamento dos Enfermeiros dos Sindicatos é para os fragilizar com vista a uma mais fácil exploração; mais horas de serviço por menos dinheiro.
Agora são eles que se estão a baralhar pois ao compararem os Enfermeiros a consumíveis já nem o Ministro sabe dizer quanto gastou com as contratações precárias de Enfermeiros.
Demonstrem as vossas fragilidades para que os exploradores concluírem que o "crime não compensa".

Com amizade
José Azevedo 

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