Só pode ser profissional de enfermagem quem possuir a licenciatura em enfermagem e tiver a cédula da Ordem dos Enfermeiros, que reconhece a sua competência científica, técnica e humana para a prestação de cuidados de enfermagem gerais. Estes profissionais estão obrigados a prestar uma assistência cuidada de nível superior, só que enfrentam na sua atividade um sistema injusto, extenuante e stressante, para além de terem uma escala de trabalhos pesados e desumanos.
São exigidas aos enfermeiros capacidades físicas, cognitivas e comportamentais incomuns, por vezes descomunais, assim como habilidades que vão muito para além das aptidões necessárias para o bom desempenho das suas atividades. Como “recompensa”, estes profissionais altamente qualificados recebem um salário baixo, um salário de miséria, um salário injusto e indigno, para um profissional com as suas habilitações e formação.
Os enfermeiros não são bem tratados pelo governo ou pelas diferentes instituições onde exercem a sua atividade altamente desgastante. Também por isso, muitos profissionais de enfermagem enfrentam situações graves de exaustão e encontram-se bastante desmotivados.
Mesmo que os líderes políticos e organizacionais digam que não, este tratamento indigno que é feito aos profissionais de enfermagem é um convite encapotado para que os enfermeiros abracem a emigração. Foi o que fizeram mais de 15 mil enfermeiros que decidiram ir trabalhar para o estrangeiro, onde são desejados.
Os enfermeiros que emigraram eram muito desejados pelos países que os acolheram, por isso têm formação especializada e direcionada para a sua atividade e é-lhes dada a oportunidade de subir na carreira, o que não acontece por cá. Infelizmente, esta vivência dos enfermeiros é bem diferente no seu país natal.
Este tipo de tratamento e o convite encapotado para os enfermeiros emigrarem, por parte dos responsáveis governamentais, que deveria envergonhar o país, contrasta com as nossas necessidades. A Ordem do Enfermeiros calcula que faltem no sistema de saúde em Portugal cerca de 30 mil profissionais, 20 mil no SNS – Serviço Nacional de Saúde, onde atualmente trabalham cerca de 41 mil enfermeiros.
Este défice de enfermeiros nos diferentes sistemas de saúde está a originar situações muito graves, pois existem pessoas internadas nos serviços que estão em risco, devido à escassez de profissionais de saúde, e mais concretamente devido à escassez de enfermeiros. Há normas com critérios internacionais para a quantidade de enfermeiros de acordo com cada tipo de serviço e tipologia, só que nenhum serviço em Portugal cumpre essas normas, à exceção de alguns cuidados intensivos.
E é para cumprir essas regras mínimas de segurança que faltarão 30 mil enfermeiros no sistema de saúde em Portugal, pois a média indicada pela OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico é de 9,2 enfermeiros por mil habitantes, quando em Portugal são 6,2 por mil habitantes e, no SNS, 4,2 por mil habitantes. Isto põe Portugal na cauda da Europa, atrás da Letónia, da Estónia, da Eslovénia. É a continuação do desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde!
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