É a crise!
Mas pior do que a crise é a crise da crise.
A lógica da guerra não se está a aplicar à saúde, não
obstante as semelhanças.
Dizem os que estão sempre a falar
e a escrever que a “guerra é coisa
demasiado séria para ser deixada, exclusivamente, na mão dos generais”.
Este tipo de raciocínio pode ser
usado, no outro que dizia que; “os ovos
nunca se devem pôr todos no mesmo cesto”.
O erro mais clamoroso, cometido
no SNS, não é o da sua sustentabilidade, mas sim o de não lhe aplicarem a
lógica da guerra; não usar com os médicos, o mesmo critério usado com os generais.
Se não houvesse tantos receios
infundados, nos políticos responsáveis, já teriam pensado que: “a saúde do Povo é coisa demasiado séria
para ser deixada, exclusivamente entregue, à gestão dos Médicos; é como
entregar a chave da casa ao ladrão, para ninguém a assaltar”.
É tão evidente a necessidade de
diversificar a gestão do SNS, acabando com o monopólio do Médico, que não se
entende por que espera o Ministério da Saúde para legislar nesse sentido.
Todavia, cada vez mais se agrava esta hegemonia, como provam os Regulamentos
Internos de efeito contrário ao previsto.
Numa análise atenta, descomprometida,
facilmente se percebe que a rede de continuidade de cuidados é, genericamente,
uma rede de cuidados de Enfermagem, que se organizam por si e consigo; por isso,
há todas as vantagens em que sejam os Enfermeiros a organizá-la e a geri-la,
entrando o Médico, na rede, no mínimo indispensável, visto que é a continuidade
dos cuidados de Enfermagem, que está em causa; nem são os diagnósticos nem os
prognósticos.
Passa-se com os cuidados
continuados ou antes; continuidade de cuidados, o mesmo que com as Unidades de
Saúde Familiares (USF). A experiência tem demonstrado que se devia dar
prioridade às Unidades de Cuidados Comunitários (UCC), passando os Enfermeiros
a controlar as situações o que embaratecia os custos de prestação.
Entretanto, as dificuldades que
se levantam ao seu desenvolvimento e funcionamento são tão grandes que
desincentivam os voluntários a fazerem propostas para a sua implantação, no
terreno. São conhecidas as enormes dificuldades que se levantam ao seu
funcionamento; começam nas autorizações de criação; continuam com as limitações
que lhes são impostas, quer quanto ao fornecimento de materiais, quer quanto à
manutenção mínima de Enfermeiros, que as ponham a funcionar, passando pelo
espaço de funcionamento que contrasta escandalosamente com o luxo de outro tipo
de Unidades de Saúde.
Não é nada difícil provar que a
maioria dos cuidados que se prestam num hospital é de cuidados de Enfermagem adequados.
À medida que esses cuidados se tornam exequíveis noutros ambientes, sejam as
residências dos doentes/convalescentes, sejam Unidades de continuidade de
cuidados de Enfermagem, que podem evoluir para a cura ou cronicidade, o Médico,
só deve aparecer, no mínimo indispensável, pois é reduzido o seu papel,
comparativamente. Para alterar as terapêuticas, que tendem a ser de manutenção,
não é necessária a presença do Médico, pelo contrário; só complica e encarece.
Mas não se está a inventar nada
nem a dizer coisas que uma maior atenção descorporativizada possa comprovar.
Aliás, quando se começou a falar nas redes de “cuidados continuados”,
pensava-se que seriam os Enfermeiros os técnicos a instalar nelas.
Começariam, nos hospitais, as
seleções do nível de dependência dos utentes e o seu encaminhamento, de acordo
com esse grau de dependência, sem que o Médico faça qualquer falta, nestes
processos. Introduzi-lo, na rede, é complicar tudo, pois começa logo por querer
mandar e, à sua maneira e não de acordo com as necessidades e circunstâncias. Isto quando não retarda a alta do doente
convalescente ou crónico, que também esta devia ser controlada pelos
Enfermeiros, na teoria, mas sobretudo, na prática.
Destes CC passemos aos
paliativos, que começam, exatamente onde acaba a esperança na medicina. Os
“desenganados” só precisam de cuidados de Enfermagem, na sua inevitável
caminhada para a morte, que se pretende serena e humana. Introduzir o Médico,
aqui, mais do que para prescrever um analgésico, é desvirtuar, abusivamente e
desrespeitosamente, a natureza dos cuidados paliativos e o seu destinatário. É
escarnecer da sua situação terminal desenganada.
Não sabemos se é uma qualquer
tendência para o abismo, ou a dificuldade em cada grupo profissional exercer
livre e plenamente as suas competências, de acordo com a racionalidade do SNS,
que está em causa. Pode ser um pouco de cada. Mas as circunstâncias e, antes
destas, a razoabilidade, exige manter os complicadores no seu devido lugar,
pois, também esta estratégia é fundamental, e de que maneira, para a
sustentabilidade dos SNS.
Quem nos impede de sermos mais
razoáveis?
E QUEM IMPEDE OS GOVERNANTES DE SEREM ISSO MESMO?
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