domingo, 28 de abril de 2013

CONSENSO OU DISSENSO


CONSENSO OU DISSENSO

Andam por aí uns sujeitos, de candeia na mão, à procura de consensos, na escuridão.

Mas, do outro lado, andam outros a responder, com dissensos aos pedidos de consensos. E quanto mais uns tentam consensualizar mais os outros se esforçam por dissensualizar.

Cada qual, a seu modo, procura a coesão social, uma espécie de cimento a unir coerentemente as partes de um todo, que constitui a sociedade.

Porém, a família etimológica a que pertence a palavra [coesão] (co+esão deriva do latim “cum + hæsi), sendo “hæsi” o pretérito perfeito do verbohæreo”, ou do outro, seu antecessor “hæresco” (que quer dizer: ficar ligado ou pegado a) … Pois, pois, mastambém serve de base ou raiz, donde derivam as palavras [opinião, sistema, doutrina, heresia].

Agora, de posse destas raízes, vejamos o sentido do consenso e do dissenso.

Imaginemos que o consenso é a pena e o dissenso, o tinteiro. Se o consenso (a pena) quiser molhar-se, (penetrar no dissenso) e o dissenso (o tinteiro), não estiver quieto, disponível, por mais que o consenso se esforce, o dissenso, não fica quieto, o tempo suficiente, para que o consenso o penetre e assimile.

Nestas tentativas de coerir o consenso com o dissenso, quanto mais o primeiro tenta penetrar o segundo, mais o segundo cresce e se fortifica, e fecha, nas suas opiniões, sistema, doutrina ou heresia (é só escolher). Ora se as hési ou heresis”, têm uns agentes que se esforçam por promover e aumentar o dissenso, perante o consenso, que se lhes oferece; o consenso não é possível, pois o dissenso não é mais do que o esforço contínuo de o contrário, não perder a sua entidade ou carácter. Manter a sua…

Aliás, é o consenso, procurado, entre os diferentes, que provoca a necessidade de o dissenso se manifestar, na sua diversidade.

Nem sequer precisa de afirmar os valores, ou a falta deles, que estão na base da sua diferença: basta dizer que está a afastar-se do inimigo consenso, ou de quem o promove. É nesse movimento de afastamento que se cria o dissenso.

É este o mecanismo de a coesão ou união de esforços, a chamada “sinergia [efeito resultante da acção de vários agentes que actuam da mesma forma, cujo valor é superior ao valor do conjunto desses agentes, se actuassem individualmente; o todo é mais do que a simples soma das partes].

É esta a razão de ser de a coesão promover incoesão; a coerência desembocar na incoerência; o consenso gerar o dissenso.

Moral da coisa: abaixo o consenso, que gera dissenso.

Talvez, deste modo, se obriguem os incoerentes, ou dissensores, a justificarem os valores reais e o meio de os conseguir, que estão na base da sua dissensão ou dissenso; que os incompatibilizam, num consenso: não basta dizer que está contra; é preciso dizer porquê e como se faz melhor: {Não se aceitam sugestões, cantigas, de quem saiba mais, mas aceitamo‑las, sim, de quem tenha feito melhor e não o mesmo, se não muito pior; de quem ponha em prática o que sabe}.    

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