quinta-feira, 12 de maio de 2016

DIA MUNDIAL DO ENFERMEIRO

1. Nightingale e Fenwick: As fundadoras da enfermagem moderna
 Florence Nightingale (1820-1910)  é comummente considerada como "the founder of modern nursing" (Seymer, 1989).  Em contrapartida, outros contributos pioneiros para o desenvolvimento e a profissionalização da enfermagem tendem a ser ignorados ou escamoteados pela história oficial. É o caso, por exemplo, de Ethel Bedford Fenwick (1857-1947), um nome que não consta sequer da maior parte das modernas enciclopédias (v.g, Enciclopédia Britânica) e é em grande parte desconhecido da maior parte dos enfermeiros (incluindo os portugueses).
Mitificada no seu tempo e depois pelas suas continuadoras, elevada à condição de heroína, Florence Nightingale ainda hoje tende a ser vista hoje como tendo uma dupla face :
Heroína de um "subcultuta ocupacional", ela (i) não é reconhecidamente a primeira; (ii) nem a fundadora da primeira escola de enfermagem; (iii) nem sequer a primeira enfermeira diplomada ( Whittaker e Olesen, 1964).
O mito da enfermeira como anjo da guarda à cabeceira do doente, protagonizada por Florence , será tipicamente uma construção social do romantismo inglês, em plena época vitoriana. Esta inglesa da upper class (classe alta) ficará conhecida então como "The Lady with the Lamp" e "The Angel of the Crimea" (Woodham-Smith, 1951).
Tanto Florence como Ethel estão na origem de dois diferentes modelos (e duas ideologias profissionais) de enfermagem, com diferentes implicações tanto na formação como no  processo de prestação de cuidados. Nightingale está umbilicalmente ligada ao modelo britânico; Fenwick ao modelo americano.
2. "The Lady with the Lamp"
Recordemos, entretanto, alguns dos problemas que então se punham à enfermagem hospitalar na Grã-Bretanha até meados do Século XIX, dominada pelas matrons e pelas nurses, as irmãs de caridade (Bingham, 1979; Graça, 1996):


  • Trabalho esporádico, desqualificado, socialmente desvalorizado e mal remunerado;
  • Grosseira aplicação dos cuidados médicos;
  • Ausência de especificidade de funções e de autonomia técnica;
  • Condições de trabalho altamente penosas nos hospitais e nasworhouses;
  • Conduta pessoal reprovável (alcoolismo, roubo, desleixo, promiscuidade, etc.), tipificado na célebre personagem de Charles Dickens (1812-1870), Mrs. Sairey Gamp, no seu romanceMartin Chuzzlewit, 1844);
  • Dificuldades de recrutamento de pessoal;
  • Ausência de estruturas de formação, etc.

Na realidade, quem prestava os cuidados técnicos de enfermagem (como diríamos hoje) não eram as nurses, mas os estudantes de medicina. Embora já fosse exigido às candidatas a nurses, como requisito mínimo, o saber ler e escrever (!), as administrações hospitalares da época tinham que se contentar com mulheres analfabetas, de baixo estrato social, por manifesta dificuldade de recrutamento de pessoal feminino. Em suma, tratava-se de uma ocupação indigna de uma respectable woman, à luz dos preceitos do puritanismo vitoriano.
Além de tecnicamente desqualificadas,   as matrons e as nurses tinham muitas vezes um comportamento  moralmente reprovável. Os livros de registo da maior parte dos hospitais ingleses da época dão-nos conta da impressionante frequência de casos de enfermeiras que eram admoestadas ou demitidas por alcoolismo, insolência, falta de disciplina, absentismo, roubo ou extorsão praticada na pessoa dos doentes.
Nightingale atacou estes problemas criando um sistema baseado na formação, no treino, na dedicação, na disciplina de ferro e na forte estratificação hierárquica, segundo um modelo misto, conventual e militar (Glaser, 1966, cit. por Graça, 1996):
  •  Por um lado, ela vai secularizar ou laicizar definitivamente a enfermagem, que já não é mais uma vocação religiosa (mas também não será ainda uma profissão, no sentido sociológico do termo);
  • Mas, por outro, ela inspira-se em exemplos pioneiros de reformadores religiosos como o pastor alemão Theodor Fliedner(1800-1864), da Igreja Reformada Luterana, que havia fundado a ordem das Diaconisas em 1836, juntamente com a sua esposa.
Sabe-se quanto foi determinante na vida  de Florence Nightingale a visita que fez, em 1850, à instituição criada por Fliedner e sedeada em Kaiserswerth, na Alemanha, depois de um longo périplo cultural pelo Egipto, Grécia e Roma, iniciado no Outono de 1849 (e, de resto, muito ao gosto romântico das elites cultas de então, em particular na Inglaterra).
Embora tenha descoberta a sua vocação (ou sentido o chamamento de Deus para amissão) aos 17 anos, é depois da curta visita de duas semanas à obra do pastor Fliedner que Florence  decide, aos 30 anos de idade, dedicar o resto da sua vida à enfermagem, não obstante a forte e reiterada oposição da sua família que seguramente teria para ela outros projectos social e economicamente mais rentáveis.
Vinda de Florença (onde, de resto, nascera e daí o seu nome de baptismo), passa por Berlim e chega a Kaiserswerth, junto ao Reno, a 31 de Julho de 1850: "With the feeling with which a pilgrim first looks on the Kedron  I saw the Rhine dearer to me than the Nile" (cit por Woodham-Smith, 1951).
Florence voltaria a Kaiserswerth, no ano seguinte, para um estágio de três meses. Esteve igualmente em contacto  com as Irmãs da Caridade (S. João de Deus), em Paris, nesse mesmo ano, embora durante um período que teve de ser encurtado por razões de saúde. E em 1853 vamo-la encontrar num pequeno hospital privado, em Harley Street, Londres, a exercer as funções de superintendente.
A outra grande experiência da sua vida é, sem dúvida, a da guerra da Crimeia.
Esta guerra  (que teve a sua origem  num conflito entre  russos e otomanos) arrastou-se de Outubro de 1853 a Fevereiro de 1856 e envolveu outras potências: a França e a Inglaterra que foram em socorro doa turcos por razões políticas, religiosas e geoestratégicas. Do ponto de vista humanitário esta guerra foi uma verdadeira hecatombe:
  • Foi elevadíssimo o número de mortos (cerca de 250 mil para cada lado, em grande parte devido à alta incidência de doenças infectocontagiosas e à desorganização dos hospitais de campanha);
  • As condições sanitárias no terreno eram terríveis e a mortalidade entre os soldados feridos ou doentes,  era altíssima nos hospitais de campanha (da ordem dos 50 %).
A opinião pública inglesa inquieta-se com os relatos que vêm da frente de batalha. Há apelos para que as mulheres inglesas se alistem como voluntárias para tratar dos feridos e dos doentes, seguindo o  abnegado exemplo das  Irmãs da Caridade, francesas.
Florence ofereceu-se como voluntária e é então encarregada pelo Secretário de Estado da Guerra,  Sidney Herbert (aliás, seu amigo pessoal), para organizar e coordenar o serviço de enfermagem dos hospitais militares montados na Turquia. Quando chegou a Scutari (Novembro de 1854), à frente de um pequeno exército de 38 enfermeiras, voluntárias, umas leigas e outras religiosas (católicas e anglicanas), teve que enfrentar toda a série de dificuldades: (i) a falta de recursos, (ii) a ausência das mais elementares condições de higiene,  (iii) a hostilidade  dos médicos  e demais oficiais militares,  (iv) os preconceitos do sexo masculino, (v) o crescente número de feridos e doentes vindos da frente de batalha, (vi) a indisciplina e a falta de preparação das suas  nurses, etc.
É então que a culta e mística Florence vai revelar-se uma mulher com grande capacidade de trabalho, de determinação, de gestão e de liderança. É desta experiência brutal, no estrangeiro, numa cultura hostil como a castrense e, ainda por cima, no teatro de guerra, que Florence retira o conhecimento prático que lhe vai permitir criar as bases  para a reforma hospitalar da segunda metade do Século XIX (incluindo a reorganização dos serviços de enfermagem).
Depois de acabada a guerra, em 1856, regressa ao seu país onde é recebida como uma verdadeira heroína, sendo aclamada e   consagrada como "the lady with the lamp" ou  "the Angel  of the Crimea". É justamente este momento e este mito (a heroína romântica da guerra da Crimeia) que são fixados para a posteridade e que ainda hoje alimentam a sua lenda.
Entretanto, é nomeada para a   Royal Comission on the Health of the Army, em Maio de 1857. Das actividades desta comissão sairá a criação imediata da Army Medical School (1857).
3. Enfermagem: Mais vocação do que profissão

Já em 1860, irá   fundar a Nithghtingale School for Nurses, anexa ao St. Thomas’s Hospital, em Londres, usando para o efeito um fundo de 45 mil libras, resultante de subscrição pública aberta na sequência do seu regresso da guerra. Considerada a primeira escola profissional de enfermagem em todo o mundo,  o seu modelo vai-se espalhar rapidamente  pelo resto da  Grã-Bretanha e do Império Britânico (Índia, etc.).
É nesta época que escreve dois dos seus conhecidos livros:
  • Notes on Matters Affecting the Health, Efficiency and Hospital Administration of the British Army (1857);
  • Notes on Nursing: What It Is and What It Is Not (1860).

Os detractores de Florence afirmam que não foi ela quem profissionalizou a enfermagem: para já (i) ela não tinha quaisquer preocupações feministas, (ii) era uma típica mulher, conservadora e autoritária, da upper class inglesa, com (iii) acesso privilegiado à elite dirigente da Inglaterra (incluindo a corte imperial). No fundo, (iv) ter-se-ia limitado a criar condições para que as mulheres vitorianas pudessem ter um emprego respeitável e sentir-se socialmente mais  úteis, para além da realização dos seus papéis tradicionais (os de esposas e de mães). 
Florence terá dado sobretudo à ocupação de enfermagem não apenas o estatuto socioprofissional que lhe faltava como  uma nova representação social:
 "As mulheres do século XIX, enamoradas dos ideais românticos e humanitários, foram encorajadas a ver a enfermagem como o seusacrifício, depois de garantido que se trataria de um sacrifício seguro. Tal significava uma existência relativamente heróica à custa de confortos relativamente menores" (Whittaker e Olesen, 1978. Itálicos meus).
A enfermagem passaria a ser, assim, (i) uma espécie de "variante secular da vocação religiosa" e, a par disso, (ii)  "um respeitável emprego para as mulheres da filantrópica classe alta vitoriana". Em todo o caso, (iii) não era ainda a profissãoque conhecemos nos nossos dias.
De facto, a questão da profissionalização da enfermagem  só começa a ser debatida sob o impulso do feminismo de 1ª geração (I Guerra Mundial) e, sobretudo, do feminismo de 2ª geração (a seguir à II Guerra Mundial).
A nível do hospital, o modelo Nightingale reproduzia a estrutura da família vitoriana(Graça, 1996):
  •   Os médicos eram homens e das classes média-alta e alta(upstairs);
  • enfermagem era recrutada nas mesmas classes, mas entre as mulheres;
  • Os homens e as mulheres da classes populares (downstairs) partilhavam as tarefas subalternas e menos nobres do trabalho hospitalar (pessoal operário e auxiliar).

Embora auto-suficiente, a enfermagem britânica será dominada pela profissão médica. A entrada da state registered nurse no sistema hospitalar não se fez sem grandes conflitos, não só com os médicos e com a administração hospitalar mas também com o pessoal de enfermagem mais antigo, que não tinha qualquer qualificação formal (as matrons, as sisters, as nurses) e que de algum modo representavam a geração de Ms. Gamp. Recorde-se que Mrs. Sairey Gamp, uma personagem do Charles Dickens (1812-1870), no seu romance Martin Chuzzlewit (1844), é o estereótipo negativo da nurse da era pré-Nigthingale.
Na formação, embora enquadrada pelas enfermeiras, tinha um papel central a figura do médico. A dependência (e a subserviência) em relação à profissão médica reflectia-se igualmente na prestação de cuidados e na administração dos serviços de enfermagem.
No modelo de Nightingale, a enfermeira é sobretudo aquela que administra os cuidados básicos ao doente. Recorde-se que a  palavra inglesa  nurse vemdo francês antigo nurrice (a pessoa que amamenta um bebé ou que cuida de uma criança) do latim tardio nutricia (ama, ama seca), que deriva por sua vez do latim nutrix (a pessoa que alimenta, a ama).
auxiliar de enfermagem é uma figura mais recente, do pós-guerra (1914-1918) e sobretudo do período da II Guerra Mundial (1939-1945), resultante da crescente aumento da hospitalização pública e da falta crónica de pessoal de enfermagem diplomado (registered nurse) (Hofoss, 1986; Graça, 1996).
Curiosamente, o modelo americano também teve a sua origem na Grã-Bretanha com o movimento de Ethel Bedford Fenwick no sentido de profissionalizar as enfermeiras (no verdadeiro sentido sociológico do termo). Esses planos envolviam (i) a inscrição num organismo de controlo, autorizado pelo Estado (equivalente à Ordem dos Médicos), (ii) a separação das escolas de enfermagem em relação aos serviços hospitalares, (iii) a definição de apertados critérios de recrutamento e selecção e (iv) a eliminação da remuneração hospitalar aos estudantes (Whittaker e Olesen, 1978).
Era esperado que esta última medida acabasse por seleccionar os estudantes de enfermagem, em função da sua capacidade socioeconómica. O problema é que quando surge a State Registration da enfermagem na Grã-Bretanha (Nurses Registration Act, 1919), ela iria ficar sob controlo   das  Nightingales, como eram conhecidas as discípulas de Florence (Bingham, 1979. 174-175).
Na América a situação foi diferente e a enfermagem cedo se integrou no ensino superior universitário, autonomizando-se em relação à medicina e aos hospitais (contrariamente ao que se passou na Europa, incluindo Portugal).
Repare-se na evolução da enfermagem americana na segunda metade do Século XX:
  • Em 1962,  mais de 80% do pessoal de enfermagem ainda era diplomado por escolas baseadas nos hospitais;
  • Cerca de 20 anos depois, em 1981, só 17% dos novos profissionais de enfermagem provinham deste tipo de escolas.
E a prova disso foi o número substancial de enfermeiras com formação universitária, pré e pós-graduada, e com uma forte influência na administração hospitalar, nas associações profissionais bem como no ensino e na investigação em saúde.
Em 1896, é fundada a American Nurses Association e, três anos depois, Fenwick criava, juntamente com as líderes da enfermagem noutros países, o jConselho Internacional de Enfermeiros (Donahue, 1985).
O papel da registered nurse (RN) vai ser sobretudo o de enquadramento, havendo por isso mais níveis organizacionais (e, portanto, mais papéis intermediários) entre ela e o contacto directo com o doente.
O papel das ciências sociais e humanas na educação e formação em enfermagem também tem a ver com um ou outro modelo. Sobre o trabalho de enfermagem há, aliás, duas concepções básicas muito diferentes:
  • Responsabilidade clínica, delegada pelo médico, na prestação diária de cuidados ao doente;
  • Responsabilidade autónoma pelo bem-estar físico, psicológico e social do doente.
Na primeira concepção, é tradicionalmente menos relevante o papel das ciências sociais e humanas no ensino e formação em enfermagem. Razão por que noscurricula das escolas de enfermagem havia, em geral, um maior peso das ciências biomédicas.
Referências Bibliográficas / Bibliography
BASTO, A. M. (1934) - História da Misericórdia do PortoVol. I. Porto: Santa Casa da Misericórdia do Porto.
BINGHAM, St. (1979) - Ministering Angels. London: Osprey.
DONAHUE, M.P. (1985) - Historia de la enfermería. Barcelona: Ed. Doyma.
FERREIRA, F.A. G. (1990) - História da saúde e dos serviços de saúde em Portugal. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
GRAÇA, L. (1994) - Hospital Real de Todos os Santos: da ostentação da caridade ao génio organizativo. Dirigir - Revista para Chefias, 32 (1994) 26-31.
HOFOSS, D. (1986) -  Health professions: the origin of species. Social Science & Medecine.  22: 2 (1986) 201-209.
LEMOS, M. (1991) - História da medicina em Portugal: instituições e doutrinas, 2 vols. Lisboa: D.Quixote; Ordem dos Médicos, 1991 (1ª ed., 1899).
MIRA, M.F. (1947) - História da medicina portuguesa. Lisboa: Empresa Nacional de Publicidade.
NOGUEIRA, M. (1990) - História da Enfermagem, 2ª ed.  Porto: Salesianas.
SEYMER, L. R. (1989) _ Nightingale, Florence. In Collers's Encyclopedia, Vol. 17. New Yor: Macmillan Educational Co.; Londond: P.F. Collier. 550B-551.
WHITTAKER, E.; OLESEN, V.  (1964) - The faces of Florence Nightingale: functions of the heroine legend in an occupational sub-culture. Human Organization, 23 (1964) 123-130. (Reproduzido em R. Dingwell & J. McIntosh . ed. lit.  (1978) -  Readings in the Sociology of Nursing. Edinburgh: Churchill Livingstone).
WOODHAM-SMITH, C.  (1951) -  Florence Nightingale, 1820-1910.  Biography of English nurse of Crimean War.  New York: McGraw.
(a)  Adapt. parcialmente de:  Graça, L. (1996):  Evolução do sistema hospitalar: uma perspectiva sociológica. Lisboa: Disciplina de Sociologia da Saúde / Disciplina de Psicossociologia do Trabalho e das Organizações de Saúde. Grupo de Disciplinas de Ciências Sociais em Saúde. Escola Nacional de Saúde Pública.  Universidade Nova de Lisboa. Texto policopiado (Textos, T1239 a T1242).
(b) Ana Isabel Henriques é enfermeira especialista no Hospital de Garcia d' Orta, Almada

Algumas datas-chaves na vida de Florence Nigthingale (1820-1910)
AnoAcontecimento
1837Mulher mística e culta, criada num ambiente religioso e liberal, descobre a sua ‘vocação’, aos 17 anos
1849Outono: Périplo cultural pelo Egipto, Grécia e Roma
1850
No regresso, visita Kaiserswerth decide dedicar a sua vida
 à enfermagem
1851Estágio de 3 meses na Ordem das Diaconisas criada pelo pastor alemão luterano Th. Fliedner (1800-1864)
1853Trabalha num pequeno hospital londrino. Conhece a 1ª mulher médica,  E. Blackwell (1821-1910): (i) a primeira mulher médica dos tempos modernos; (ii) i nglesa, emigrou para os EUA em 1832 com a família;  (iii) depois de rejeitada por inúmeras escolas, diplomou-se pela Geneva Medical School;  (iv) foi sistematicamente boicotada e vilipendiada ao tentar exercer  medicina (EUA, França, Inglaterra); (v) professora da London School of Medicine  for Women (1875-1907); (vi) feminista da 1ª geração, travou um longo combate pelo direito das mulheres a seguirem a medicina como profissão.
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1853/56Guerra da Crimeia (Russos contra otomanos, apoiados por ingleses e franceses); 250 mil mortos para cada lado.
1854Parte para a Turquia com 38 voluntárias para reorganizar os serviços de enfermagem dos hospitais de campanha
1856Regresso triunfal como heroína: The Lady with the lampthe Angel of the Crimea
1857Royal Commission the Health of the Army Medical School
1860Fundação da Nightingale School for Nurses, anexa ao St. Thomas’s Hospital; publica Notes on Nursing: What it is and what it is not .

MAS CONVÉM NÃO DEIXAR NO ESQUECIMENTO ESTA "ICIENICA", GRANDE LUTADORA E GRANDE ESTRATEGA
1.  Ethel Fenwick (1857-1947)
 Ethel Gordon Manson, de seu nome de solteira, nasceu  na Escócia em 1857. Alguns anos depois, a sua mãe, que enviuvara a seguir ao nascimento da filha,  casou com George Storer, um influente deputado pelo círculo de Nottinghamshire.À semelhança de Florence Nightingale,  37 anos mais velha, Ethel  teve acesso a uma educação de acordo com  a sua condição social, embora menos esmerada. Bela e inteligente, decidiu  dedicar-se, ainda muito jovem, ao serviço dos mais pobres, abraçando a enfermagem e seguindo assim as peugadas de Florence (Callander-Grant, 2001).
Em 1878, com apenas 21 anos, tentou sem sucesso inscrever-se num curso de formação em enfermagem geral. Acabou por frequentar, pagando do seu bolso, um estágio no hospital pediátrico de  Nottingham (Nottingham Children's Hospital). Causou muito boa impressão junto da 'patroa' ( "matron") do serviço, não só pela sua elegante maneira de vestir como pelas suas maneiras de menina bem educada.
Completado o estágio de seis meses, e ainda na sua qualidade de estagiária ("paying probationer"), inscreveu-se na Manchester Royal Infirmary para completar  a sua formação durante  mais um ano. Nessa época, ela teria pago mais de seis libras pelo privilégio de aprender enfermagem. Passado um ano, ela vem para Londres, trabalhando como 'irmã' ("sister") no London Hospital, em Whitechapel.
 Em 1881, candidatou-se ao lugar de "matron" do St. Bartholomew's Hospital. Apesar da sua juventude (tinha então 24 anos), foi-lhe oferecido o lugar.  A sua experiência como administradora dos serviços de enfermagem deste hospital foi marcante na sua vida e carreira. Abandona a profissão, aos 30 anos, para se casar com o Dr. Bedford Fenwick, médico do mesmo hospital e que mais tarde desempenhará um importante papel de apoio ao  seu trabalho como líder da enfermagem.


Lutou durante grande parte da sua vida pelo reconhecimento do estatuto profissional da enfermagem, pela certificação da enfermagem e pela acreditação do seu ensino. Defendia que a enfermagem era uma profissão e não uma vocação, estando neste como noutros pontos em clara oposição  a Florence Nightingale. Fundou a British Nursing Association e o British Nursing Journalque pôs ao serviço da sua luta pela Registered Nurse (RN). Apoiou abertamente o movimento das mulheres sufragistas.
 Fonte (imagem) /Source (image):
 Criou o International Council of Nurses. Foi a primeira "registered nurse" em todo o mundo,  ao inscrever o seu nome no General Nursing Council,criado na sequência da promulgação de  The Nurses' Registration Act 1919Duas semanas depois de morrer, o congresso de 1947 do ICN prestou-lhe uma sentida e justa homenagem: "In grateful recognition of a unique and life-long contribution to the advancement of the Nursing Profession throughout the world" ( British Journal of Nursing, April 1947, p. 3, cit. por  Callander-Grant, 2001)
Fonte (imagem) /Source (image):
 2. A luta pelo reconhecimento legal da profissão e a inscrição obrigatória das enfermeiras
 A partir daqui ela vai tornar-se, de facto,  uma líder da enfermagem dentro e fora do Reino Unido:
  • Depois do seu casamento e do nascimento do seu filho,  Bedford Fenwick deu início àquilo a que ela chamou a segunda fase da sua carreira,  tendo por objectivo principal "to see the State establish and maintain a register of nurses", ou seja, conseguir a inscrição obrigatória, por lei, das enfermeiras;

  • Uma duas grandes  preocupações era que o título de "Nurse" fosse protegido por lei no interesse da profissão e do público; 

  • "Mrs Bedford Fenwick saw nursing as a profession which should be filled by nurses of the highest standards of personal and professionals morals, highly skilled and well trained;

  • "Mrs Bedford Fenwick was a early advocate of post-basic nurse training and when she founded the British College of Nurses in 1926, she devised a Diploma in Nursing for trained nurses to advance their skills and knowledge - therefore emphasizing the professional aspect of nursing"  (Callander-Grant, 2001. Itálicos meus).
     
Em 1904, começa a falar-se na necessidade e nas vantagens de passar a haver um segundo nível de enfermagem, com menos tempo de formação, com menos responsabilidades e menos qualificações que aState registered  nurse.
Na sequência da guerra e da falta de pessoal médico e de enfermagem, o Nurses' Act of 1943 veio formalmente reconhecer "this second grade of trained nurse: they were given the name and status State Enrolled Assistant Nurse" (Callander-Grant, 2001. Itálicos meus. Fenwick irá opôr-se à criação desta figura e lutar pela unificação e da profissão e pelo seu controlo por parte dos próprios profissionais.
Quanto à State Registration of nurses (abreviadamente, SRN) Fenwick vai travar uma longa e difícil batalha: tinha contra ela o Parlamento e bem como as "matrons" que dominavam os hospitais ingleses e as apoiantes de Florence Nightingale (conhecidas depreciativamente como asnightingales).
"Miss Nightingale held to the idea that nursing was not a profession, but a vocation. Although she supported thorough nurse training - indeed, she founded the first training school for nurses at St. Thomas' Hospital London in 1860 - a model which was adapted by nursing schools worldwide - she did not feel that compulsory registration was necessary"  (Callander-Grant, 2001. Itálicos meus).
Mais concretamente, Nightingale achava que o essencial das qualidades de uma enfermeira não podia ser objecto de ensino, avaliação e regulamentação...
Fenwick irá mobilizar todos os meios (amigos e conhecidos, organizações, personalidades públicas...) para influenciar o Parlamento a votar favoravelmente a State Registration.
  • Uma das primeiras organizações que ela fundou seria  a British Nurses' Association (1887), uma cisão da Hospitals Association;

  • Em 1893 obtém o patrocínio da princesa Cristian, pelo que a associação passou a chamar-se, desde então, Royal British Nurses' Association (RBNA) (ainda hoje existe embora sem qualquer representatividade no seio da profissão);

  • O essencial do trabalho da  RBNA consistiu em " to open a Register of trained nurses who met Mrs Bedford Fenwick's exacting standards";

  • "A distinctive badge and certificate were presented to successful nurses" (nos primeiros tempos, a cerimónia solene de entrega dos diplomas e crachás feita pela própria princesa Cristain, na sua qualidaded e presidnete da RBNA);

  • Não obstante ter sido concedida à RBNA a sua  "Royal Charter" (pela Rainha Vitóira, em 1893), a expressão "Register of nurses"  foi  subtilmente mudada, na petição ao Parlamento, por  "List of nurses"; essa mudança semântica foi devida à influência de Florence Nightingale e dos partidários da sua linha  (Callander-Grant, 2001.Itálicos meus).
Em 1887 Bedford Fenwick começou a colaborar no Nursing Record, publicação que ela acabaria por adquirir.  Passou então a chamar-se oBritish Journal of Nursing (BJN):
  • "The BJN became an important platform in her quest for state registration for many years", vitória essa que sós eria alcançada em 1919;

  • A partir de então, " she continued to voice her ideas for the development of the profession in her long, and sometimes vicious, editorials".
Bedford Fenwick defendia claramente que a formação das enfermeiras  devia obedecer aos seguintes três requisitos:
  • Um curso de formação de três anos;
  • Um plano curricular único a nível nacional;
  • Um exame final.
Defendia ainda, em oposição a Florence Nightingale, a ideia de um organismo  ("general council") que regulamentasse a profissão a nível  nacional. 
Depois de longos anos de luta em favor da SRN (a  inscrição obrigatória das enfermeiras e o reconhecimento legal da profissão),  com a oposição da facção Nigthinbgale bem como de médicos proeminentes da época e  de alguns parlamentares, Bedford Fenwick viu de facto os seus esforços serem coroados de êxito em 1919:  
  • "The Nurses' Registration Act 1919 stated that a statutory body should be established to open and maintain a register of suitably trained and qualified nurses" (o que foi também uma grande vitória feminista, depois de anterior  chumbo da proposta de lei de 1908);

  • "The body were also to be responsible for the organization of nurse training and examination to a national standard;

  • "The Act further gave legal protection to the title 'Nurse' ".

A inscrição obrigatória dos médicos ingleses remontava a 1858... Setenta anos depois, as enfermeiras britânicas tiravam partido também da valorização do seu contributo para esforço de guerra (1914-1918) bem como da luta das feministas da 1ª geração.
Em 1916 tinha sido criado o College of Nursing (actual Royal College of Nursing, a maior associação de enfermagem do mundo com mais de 330 mil membros).
O Nurses' Registration Act of 1919 criou o General Nursing Council for England and Wales (bem como outro para a Escócia e outro para a Irlanda). Estes corpos separados sobreviverem até 1979, altura em que forma integrados no UKCC (United Kingdom Central Council for Nursing, Midwifery and Health Visiting ), sob tutela do Parlamento  que veio dar origem,e m 2002, a um "new regulatory body", o  Nursing and Midwifery Council).
Acrescente-se ainda o seguinte a respeito do papel de Ethel Bedford Fenwick:
Inspirando-se no International Council of Women, Bedford Fenwick decidiu formar o futuro International Council of Nurses, aliando-se a profissionais de enfermagem de vários países. A primeira reunião da comissão organizadora foi em 1899.
  • "The ICN grew in strength and stature, providing a forum for nurses from all over the world to have their voices clearly heard;
  • "The work of the ICN continues to this day as a lasting legacy of Mrs Bedford Fenwick's vision for the future of the profession she held dear". 
O ICN (de que a Associação Portuguesa de Enfermeiros é membro) celebrou em 1999 o seu 1º centenário. Do discurso da presidente do ICN, Kisten Stallknecht, em 1999, destaca-se o seguinte (vd. versão inglesa em em http://www.icn.ch/openingspeech.htm ;  também disponível emfrancês espanhol).
" (...) One hundred years ago, a group of daring women were drawn together around a mere idea - a dream - that nursing could become a force for social progress. Not only in their own societies, but around the world. It would be a unique force of trained professionals, from every society on earth, dedicated to the most fundamental of all human rights: the right to health and well being.
"This bold ambition was born at a time when even the thought of a minimum wage, of universal health insurance, and the right to health were considered fantasies. The group of women who voted in July 1899 to establish ICN, did not yet have the right to vote for their own governments. They were in fact part of a calling whose practitioners were treated as unskilled labour, the domestics of health care (...).
"At the beginning, the objectives of ICN were crystal clear. They were captured in what the first President and founder, Ethel Gordon Fenwick, called  “The International Idea”. That idea was to have “trained nurses" from a legislated system of nursing education, working under conditions that supported professional standards of care. The founders saw ICN becoming a world-wide ‘society’ that would include members of every language, race and creed. While there would be a common bond, every national association could apply common principles in a manner best suited to their own circumstances (...)
 'I venture to contend, said Mrs. Fenwick, 'that the work of nursing is one of humanity all the world over. The principles of organisation would be the same in every country, the need for nursing progress is the same for every people'. With those words ICN was launched (...).
"What we have accomplished this 100 years has been based on what Ethel Fenwick’s image of 'a common consecration to the service of humanity' (...).
"When we look back at the aspirations and the commitment of our founders and other leaders of a century ago, we can take pride in their vision - and in the steady progress that has brought us to today. If we listen carefully we can hear the voice of those bold and daring women who chose Ethel Fenwick as their first president.
"And we can hear other leaders like Florence Nightingale say once again: 'For us who Nurse, our Nursing is a thing which, unless we are making progress every year, every month, every week, we are going back. No system shall endure which does not march' " (...).
Se hoje fosse viva, Ethel Bedford Fenwick reconher-se-ia na definição do conceito de enfermagem do ICN:

"Nursing encompasses autonomous and collaborative care of individuals of all ages, families, groups and communities, sick or well and in all settings. Nursing includes the promotion of health, prevention of illness, and the care of ill, disabled and dying people. Advocacy, promotion of a safe environment, research, participation in shaping health policy and in patient and health systems management, and education are also key nursing roles".
 Referências bibliográficas
 Callander-Grant, Stephen (2001) - Mrs Bedford Fenwick, A Short Biography. Site on Internurse.com, London, U.K.   (http://www.internurse.com/history/ethellife.htm  ) (23.02.2002)
Para quem tiver disposição mental e física, aqui deixamos um pedaço da nossa história, sobretudo, para aqueles que pensam que o mundo nasceu com eles e detestam, sem saberem ainda, porquê,  as estórias da História, essa eterna mania dos que escrevem, nos livros, acontecimentos importantes.
Antes de nós, já houve Enfermeiras, que se debateram com problemas muito semelhantes aos nossos.
Lembrá-las, lembrando-nos, pode inspirar-nos a encontrarmos soluções para alguns e, dinâmicas para equacionarmos outros, pois, quando um problema está bem equacionado, a solução surge; naturalmente. (José Azevedo)

VALE A PENA LER E MEDITAR
Compulsando velhos apontamentos, reli o discurso do centenário do Conselho Internacional de Enfermeiros. Aconteceu um ano depois da criação da OE, em Portugal. Já lá vão 111 anos!
Não obstante, de que nos têm servido estes sábios avisos e ficções sobre o nosso presente, já que o nosso futuro, se não arrepiarmos caminho rapidamente, é ainda mais negro.
A nossa Ordem, em parceria com a Associação Portuguesa de Enfermeiros divide a representação da Enfermagem do País, no CIE, ou ICN, para os que preferem a língua inglesa. São numerosas e dispendiosas as nossas delegações aos eventos do CIE, como se pode constatar pela lista de participantes e agência de viagens. Mas, internamente, qual tem sido o reflexo dessa linguagem comum dos Enfermeiros de todo o mundo?
Basta ler e comparar.
A conclusão é fácil e óbvia: há viagens a mais e acções internas, a menos. Os nossos representantes trazem as receitas, mas não as aviam e a nossa doença tem-se agravado.
Em Portugal todo o bicho careta faz pouco de nós e pretende substituir-nos. São os TAE, no INEM; são os Balconeiros, nas farmácias; são os Auxiliares, nos lares de velhos idosos. Entretanto os verdadeiros Enfermeiros emigram ou definham, à espera dos empregos que outros lhes roubam. Tudo em nome da S-E-G-U-R-a-n-ça, que a OE tem de assumir nos cuidados de enfermagem, perante o público.
Li uma notícia no JN de Sábado 6 de Novembro, página 11, que reza assim: “Enfermeiros ameaçam recorrer à justiça”; “Vacinação nas farmácias”; “A Ordem dos Enfermeiros promete recorrer à justiça para impedir que os farmacêuticos (balconeiros ajudantes de farmácia, leia‑se) possam administrar vacinas. A decisão surge na sequência duma circular da Autoridade do Medicamento…” blá…blá, bálá!
Mas a Senhora Bastonária da OE, numa reunião que houve, em Julho p.p. entre os Sindicatos e a OE, informou que se esperava o julgamento dos atropelos das farmácias, nesta mesma matéria, lá para Novembro, este, que discorre, agora!
Se vai recorrer à justiça, agora, outra vez, da mesma coisa, que se espera seja julgada em Novembro, há um engano que temos que desfazer, junto da OE, pois ou a informação que nos transmitiu, através da sua Bastonária estava certa e não se percebe este recurso actual; ou a informação era falsa, para nos entreter e vem agora recorrer do recurso que já tinha feito?
Vejam se entendem isto para nos explicarem, sem porem em causa a idoneidade da informação, que nos foi dada presencialmente.
Parece não restarem dúvidas que há alguém a brincar com o fogo.
Temos a certeza de que em Portugal se está a trair o espírito das Mulheres Valentes que em 1889 fundaram o Conselho Internacional dos Enfermeiros.
Os nossos aprendizes vão lá às aulas, mas depois, não fazem o trabalho de casa, não é?
Basta ler e comparar de boca aberta, de preferência.
Quando termina o pesadelo?

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                  DISCURSO DA PRESIDENTE DO CIE
“Celebrar o passado, reivindicar o futuro”
Kirsten Stallkecht
Royal Albert Hall, Londres.
(Domingo 27 de Junho de 1999)
Distintos Convidados, senhoras e senhores, queridos Colegas,
Este é um momento realmente memorável e maravilhoso na história do Conselho Internacional de Enfermeiros (CIE).
Reunimo-nos – tantos e de tantas regiões, para celebrarmos os 100 anos de sonhos, lutas, obstáculos e conquistas partilhadas, neste Centenário do CIE, para saudar o futuro que se abre ante nós, como profissão, como comunidade internacional de enfermeiros e como pessoas.
A situação nem sempre nos foi favorável. Há 100 anos, um grupo de Mulheres Valentes reuniu em torno de uma ideia e de um sonho: que a enfermagem se convertesse numa força de progresso social, não só nos seus países e comunidades, como em todo o mundo. Seria uma força única de profissionais formados, de todas as sociedades da terra, dedicados ao mais fundamental dos direitos humanos: o direito à saúde e bem-estar.
Esta ambição audaz nasceu num momento em que a ideia de um salário mínimo, de um seguro universal de saúde, e o direito a esta eram ainda considerados meras fantasias. O grupo de Mulheres que, em Julho de 1889, votou a criação do CIE, não tinha meras fantasias; não tinha sequer o direito de votar nos seus países para a eleição dos respectivos governos.
Na realidade, faziam parte duma profissão, cujos membros eram tratados como mão-de-obra não qualificada, como os serventes prestadores de cuidados menores e sem responsabilidade, na saúde.
Numa comunicação de 1900 enviada ao novo CIE, descrevia-se a sua árdua realidade desta maneira: “A falta duma formação adequada tornou a enfermagem um trabalho sumamente desagradável; a falta de estudos tornou-a rígida e a ignorância travou o seu progresso. Assim, a Enfermagem…não podia, no mínimo, ser menosprezada por todos.”
No início, os objectivos do CIE eram totalmente claros. Resumiam-se ao que a Fundadora e Presidente, Ethel Gordon Fenwichk, classificou “A ideia internacional”. Esta ideia consistia em dispor de “enfermeiras formadas” num sistema de formação em enfermagem estabelecido por lei e que trabalhassem em condições baseadas em normas profissionais na prestação de cuidados de saúde. As Fundadoras previram que o CIE se iria converter numa “Associação de âmbito mundial, com membros de todos os idiomas, raças e crenças. Não obstante terem uma ligação comum, cada associação nacional poderia aplicar os princípios comuns da maneira mais adequada às suas circunstâncias.
“Atrevo-me a afirmar” dizia a Sr.ª Fenwichk, “que o trabalho de enfermagem é um trabalho humanitário, no mundo inteiro. Os princípios de organização serão os mesmos em todos os países; a necessidade de que a enfermagem avance é idêntica, em todos os povos.”
Foi com estas palavras, que inaugurou o CIE.
As suas Fundadoras compreenderam a importância do enorme desafio que assumiram. Ethel Fenwichk exprimiu-o desta maneira: “ Perguntar-se-á como é possível que um conjunto de associações, de tantos países e tão distintos entre si; formadas para tão diferentes e diversos objectivos; integradas por centenas de milhares de mulheres, seguidoras de religiões distintas, com raças diversas e educação diferente, tenha um objectivo inteligível e coopere num fim útil comum?”
Era esta a pergunta difícil a que haveria de dar resposta, nesse momento e nessa situação – quando a arte e a ciência da saúde pública eram, por sua vez, primitivas e reduzidas.
Supõe-se que a Sr.ª Fenwichk tinha uma resposta para a sua pergunta e, nessa resposta, estava o núcleo da Comunidade Internacional, em que nos convertemos. O que conseguimos nestes 100 anos baseia-se na ideia de Ethel Fenwichk : “uma consagração comum ao serviço da humanidade”.
Quando preparava este discurso, ocorreu-me uma imagem, que parece descrever o nosso progresso. Essa imagem foi criada por Hans Christian Anderson, no seu conto, “O Patinho Feio”. Recordar-se-ão de que este pobre animalzinho veio ao mundo com um sentimento de rejeição, desfeiteado pelos patos maiores, que o tratavam como feio, cinzento e irritante, por ter decidido ficar no meio deles. Com efeito, não se limitou a aceitar o seu destino de feio, cinzento e irritante. Trabalhou arduamente e durante muito tempo para conquistar o seu espaço – aprendeu como sobreviver e como alimentar-se, na sua comunidade. Um dia, viu-se reflectido na água e, então, pela primeira vez, apercebeu-se de que o patinho feio e cinzento se convertera num belo cisne, numa das criaturas mais nobres e belas da natureza.
Quanto a mim, “O Patinho Feio” assemelha-se à mudança que se operou em nós, desde a fundação do CIE, em Londres, há 100 anos, até este evento, comemorativo do seu centenário.
Transformámo-nos numa Comunidade Internacional, que reúne Associações de Enfermagem de 119 países, nos 5 Continentes. A partir dos começos modestos e esperanças centenárias grandes, o CIE foi construindo uma história de dramas, acontecimentos ímpares como as separações causadas pela guerra; como a reunificação conseguida, exclusivamente, pela vontade dos seus dirigentes. O CIE tem tido uma importância primordial na Enfermagem e na Saúde do mundo inteiro. Esta Comunidade Profissional de Enfermagem, unida e reunida sob o emblema do CIE, tem impulsionado sempre, para mais alto, a Enfermagem e o bem-estar dos enfermeiros.
Hoje, as normas do CIE são mundialmente aceites, como a base de uma política e uma prática eficazes, para a Enfermagem. As Associações Nacionais de Enfermeiros fortalecem-se com a sua filiação, no CIE. Trabalhamos em conjunto para introduzir e promover programas, cuja finalidade é melhorar os Cuidados de Enfermagem na Saúde, assim como as condições de trabalho dos Enfermeiros.
No plano internacional, o CIE é reconhecido como parceiro de grande prestígio e valor, pelos Governos, Nações Unidas, Organização Mundial de Saúde, Unesco e Organização Internacional do Trabalho (OIT), através da obra realizada pela Junta Directiva, voluntários, pessoal e membros do CIE, pela qual se concretizaram muitos objectivos preconizados pelas suas Fundadoras. Os enfermeiros são, hoje, factores essenciais dos Sistemas de Cuidados de Saúde SCS) e agentes activos das Reformas em Saúde (RS). Somos prestadores essenciais de cuidados nos hospitais, nos asilos, nos centros de saúde, nos hospitais militares, residências para idosos, prisões, comunidades, em geral, do mundo inteiro. Em muitos desses casos, os Enfermeiros são os únicos prestadores de cuidados de saúde, assíduos, pontuais e qualificados, nas zonas rurais, e nos bairros problemáticos das cidades.
Quando reflectimos sobre as aspirações e o “compromisso de honra” das Fundadoras do CIE e outros Dirigentes, de há um século, orgulhamo-nos com a sua antevisão do progresso constante que nos imprimiram, “ab initio”, até hoje. Se escutarmos, atentamente, podemos ouvir as vozes destas Mulheres Valentes e audazes, que elegeram a Ethel Fenwick primeira Presidente do CIE.
Podemos ouvir outros líderes, como Florence Nightingale, por exemplo, dizer frequentemente: “Para nós que cuidamos, os nossos cuidados supõem que, se não progredimos em cada ano, em cada mês, em cada semana, estamos a retroceder. Seja qual for o sistema, se não avançar, pára e estagnado, não pode sobreviver. Morre”.
Conseguem imaginá-la, fitando-nos com um olhar grave, ao pronunciar estas palavras:”o trabalho nunca acaba, o esforço nunca é bastante para cumprirmos o nosso compromisso de honra humanitário universal”?
Estas palavras foram pronunciadas há 100 anos, mas continuam a fazer sentido, hoje, ao iniciarmos um novo século da Enfermagem e um novo milénio dos Cuidados de Saúde.
Em 1999, vivemos e exercemos em condições muito diferentes das do século passado. Hoje, o processo de mudança, evolução e adaptação exige o uso constante da imaginação, da firmeza e da flexibilidade. O CIE de hoje e de amanhã não pode descansar sobre os louros do passado. Devemos proporcionar aos enfermeiros e à Enfermagem uma visão inovadora tão audaz, previdente e sólida, no mínimo, como a de há 100 anos – uma visão firmemente virada para o futuro, partindo da nossa posição privilegiada no limiar do ano 2000.
Oferecem-se-nos múltiplas possibilidades. Da maneira como encararmos o futuro emergirá a crítica, de acordo com as decisões, que tomarmos.
 Viajemos juntos ao século XXI, para darmos uma olhadela a dois futuros possíveis.
Imaginem que estamos no ano 2020.
A mundialização não trouxe a prosperidade projectada e desejada. Pelo contrário; vai destruindo todas as barreiras culturais e económicas. A diferença entre ricos e pobres vai aumentando e os países do mundo inteiro lutam contra o desemprego. A onda de migrações parece interminável.
A biotecnologia influiu de forma revolucionária na prestação de cuidados de saúde – para os que podem pagar os seus custos. As vacinas de ADN substituíram as convencionais e a terapia genética cura agora todas doenças as principais, como o cancro, cardíacas, diabetes, ou permite, no mínimo, controlá-las.
Os computadores e as telecomunicações mudaram quase todos os aspectos da prestação de cuidados de saúde, desde a formação profissional, aos cuidados meramente pessoais. Os simuladores são o principal instrumento de treino e aprendizagem para as profissões e a telesaúde implica que pessoas de todas as partes do mundo possam ter acesso imediato a toda a informação e assessoria especializadas. Os cuidados assistidos por vídeo são o método de os cuidados primários, enquanto cuidados de saúde, passarem, quase exclusivamente, para o domicílio. Dispondo da internet, as únicas barreiras para a aquisição de informação sobre cuidados de saúde são a língua e o dinheiro. São frequentes os cuidados transfronteiriços e transcontinentais.
Não obstante, estes avanços radicais tiveram o seu preço. Em todo o mundo há acesso a esses cuidados de alta tecnologia e, quando estão disponíveis, têm prioridade sobre a prevenção de doenças e promoção da saúde.
Embora ninguém o desejasse, ou previsse, a realidade é que a alta tecnologia está a menosprezar os cuidados personalizados e a interferir com a “verdadeira prestação de cuidados”.
A enfermagem encontra-se numa trágica encruzilhada. As enfermeiras estão mais bem formadas, têm melhores condições de trabalho e são mais científicas. Mesmo assim e, apesar de todas as magnificas melhorias materiais e técnicas, à sua volta, os doentes sentem-se sós, inclusivamente, abandonados, porque ninguém cuida deles como pessoas, que são.
Imaginemos algumas situações da vida real que podem proporcionar-nos um cenário destes:
Mulher idosa solitária – Ricardo, meu marido, está no quarto ao lado, tão esgotado como eu. Preciso de descansar um pouco, mas é difícil consegui-lo, porque estou permanentemente preocupada com as suas máquinas e oiço todos os seus apitos, quando ele se mexe na cama, de forma contra-indicada. Parece que o seu aparelho de alimentação novo funciona mais bem; parece-me estar mais cómodo, na nova cama articulada.
A maior parte do tempo, limito-me a estar sentada, olhando as máquinas e a face pálida e triste de Ricardo, sentado ou deitado, inchado pelos medicamentos; os reflexos dos transplantes deixaram-no sem respiração. Por vezes, desejaria que não tivesse sido operado. Creio que ele também o desejava, mesmo que não possa expressá-lo.
Preciso duma noite de descanso completo, mas não temos uma ajuda e há muita gente nas mesmas condições. Procurei ajuda na internet; utilizo frequentemente o televideo para falar com as enfermeiras. Não têm nada a propor-me. Só me garantem que estão a vigiar os sensores e que está tudo bem. Prometeram vir pessoalmente, junto de nós, no próximo mês; será bom. É oportuno dizer que tenho saudades dos bons velhos tempos, em que tínhamos enfermeiras de verdade, em pessoa e íamos ao hospital, quando estávamos doentes e morria‑se, quando o corpo se esgotava.
Pedi que venha um técnico ajustar o volume das máquinas e, quando chegar, perguntar-lhe-ei pelo novo compressor de resíduos domésticos, que vi na televisão.
Dou graças a Deus por poder contactar, agora, por televideo, com os meus netos. Preciso de vê-los crescer.
Que pena tenho que Ricardo não possa desfrutar deste contacto, à distância!
Penso que poderia alegrar-me por estarmos ambos, aqui, e eu gozar de boa saúde.
Enfermeira de meia-idade: Foi um dia longo e estou esgotada. Estou muito preocupada com 3 dos meus doentes e parece incrível como estando em 3 continentes diferentes, não possam obter uma entrevista pessoal com um gestor de cuidados, nem com um trabalhador de triagem de nível 2, nem sequer com um assessor voluntário ao domicílio!
A minha maior preocupação é com a Melissa. A sua perfusora está a ficar velha e a actual guerra comercial, entre o seu país e o nosso, pode obrigar-nos a experimentar outra, precisamente agora, que já tínhamos equilibrado os níveis. Isto demonstra um retrocesso enorme.
Segue-se o problema para conseguir respostas de Fugi porque, neste momento, há dificuldades na ligação por vídeo, com a América do Sul. Mandei um “E-mail” a uma família pedindo uma leitura dos valores constantes, mas não tive resposta. Isso implica que, não é possível reajustar a terapêutica da Sr.ª Gomes. Ainda bem que o telefone via satélite, está a funcionar. Valha-nos isso.
Penso estar na hora de obter informações acerca dos novos postos de trabalho, em videoconferência internacional. Segundo dizem, pode-se viver, onde se quiser. Ora, com este tempo, gostaria de estar num local quente e com gente amável, sem discriminações salariais, sexuais ou outras e onde houvesse uma praia segura e com ar limpo.
Doem-me as costas de estar sentada 12 horas, nesta mesa, já para não falar do cansaço dos olhos. Acho estranho que ninguém se preocupe em comprar cadeiras mais confortáveis e terminais menos cansativos. Apetece-me desabafar; às vezes tenho saudades dos bons velhos tempos, em que víamos os doentes e as suas famílias, pessoalmente. Tive 6 anos de treino hospitalar, mas aqui, há quase 5 que já não tenho contacto pessoal com os doentes. Talvez a enfermagem se esteja a converter numa profissão “sem mãos e sem coração” . Bom, mas foi sempre uma velha aspiração tentar aproveitar melhor as potencialidades do nosso cérebro.
Recordo que, no ano em que me formei, o CIE organizou uma campanha do coração branco…
Pergunto-me, que foi feito dela. E, a propósito, que é feito do CIE?
Estivemos a examinar o futuro prevendo que se vai investir na alta tecnologia. Conjecturando, nesse contexto, isso pode ser simultaneamente sorte e desgraça, para famílias e enfermeiras. As equipas especializadas multidisciplinares vão-se multiplicando. O acolhimento das enfermeiras é cada vez mais bem aceite, nestas equipas de saúde.
Quanto ao CIE a sua sorte será diferente, assim como a da Enfermagem. Sendo uma Organização que recorre cada vez mais aos meios virtuais, representa menos Associações e sectores. No plano internacional, a Enfermagem não pode falar a uma só voz.
Este não é o futuro que o CIE perspectiva e deseja, para a Enfermagem e para o público.
Estou convencida que é uma visão que as Mulheres que criaram o CIE não aprovariam. As Mulheres que têm como vínculo especial - “comum com a humanidade”- não podem, semelhantemente, sentir‑se bem com este futuro.
Por isso, vamos fazer outra viagem breve, ao ano 2020
Crises repetidas convenceram os dirigentes políticos das respectivas nações de que a cooperação e sólidas políticas sociais e económicas são a maneira de conseguir a prosperidade. Admitem-se mundialmente – e até estão na moda – os modelos sustentáveis de tecnologia e desenvolvimento. A reciclagem e conservação da energia estão a fazer-se com entusiasmo.
O êxito levou as pessoas a sentirem uma energia social crescente e a confiarem que os esforços pessoais podem conseguir resultados importantes e significativos.
Há problemas enormes sem resultados, à vista, mas há o entendimento generalizado de que “o futuro pode resultar bem”, se colaborarmos para criá-lo.
Graças à biotecnologia, temos perfis genéricos, diagnósticos melhores e uma ampla gama de novos tratamentos. A telesaúde liga os centros de saúde entre si e atinge os lugares mais recônditos, levando a informação da saúde, “visitas ao domicílio por vídeo”, grupos de apoio, em tempo real e gestão complexa de doenças crónicas.
O novo ênfase para incorporar, plenamente a “saúde”, na tecnologia, transformou a Enfermagem. Os hospitais e saúde comunitária contratam, frequentemente, equipas de enfermeiros especializados, que são os gestores dos cuidados e os peritos, na triagem para os serviços de telesaúde, em todo o mundo.
Voltou-se ao “cuidar” no sentido mais amplo do termo. Consideram-se os doentes seres humanos multidisciplinares, num todo de segmentos do corpo a cuidar para melhorar, ou curar.
O êxito da Enfermagem radica na sua capacidade para combinar a alta tecnologia com o tratamento do ser humano. Este estatuto exige a formação específica e investigação permanente, bem como a solidariedade e apoio das Associações de Enfermagem renovadas, a nível nacional e internacional.
Com a união da Enfermagem conseguiu-se o êxito na reforma da formação, a promoção dos cuidados de saúde primários, a definição e incremento de uma filosofia comum, na Enfermagem e a garantia de emprego, remuneração e representação dos enfermeiros, condignas. Estes sentem, hoje, orgulho, tanto na “sua função”, no SNS, quanto no seu contributo para a sociedade.

Mulher idosa solitária: Ricardo, meu marido, está no quarto ao lado.
Estou a descansar um pouco, enquanto a nossa enfermeira de família está a avaliar o seu estado de saúde, através dos dados vitais. Tivemos ambas uma larga conversa e sinto-me melhor. Ajudou-me a ver que está no melhor estado de saúde possível para ele e manter-se-á, assim, durante muito tempo. Sei que poderá continuar assim, com a ajuda da “equipa de família especializada”, trabalhadores de saúde, ao domicílio e com os novos aparelhos que chegaram Segunda-feira. Aquela técnica jovem foi muito amável e garantiu-me que podia chamá-la em qualquer altura. Por sua vez, o aparelho novo é muito mais silencioso que o anterior. Creio que Ricardo está mais bem; noto que tem melhor aspecto. Com estas modificações, o meu aspecto e energia renovaram-se.
Na primeira noite com o novo compressor, chamei de hora a hora por “televídeo” a enfermeira e a biotécnica. Penso que se entendem bem, no seu trabalho, pois, além de me tranquilizarem com informação comum, foram assaz compreensivas, com as minhas chamadas frequentes. Além de solicitarem, sempre, a minha opinião, não se esquecem de controlar também, a minha saúde!
Não é como nos velhos tempos, em que nos limitávamos a aceitar o que nos diziam.
O meu grupo de apoio, pela internet, diz que deveria sair uns dias para visitar os meus netos. Há um ano que só os vejo por vídeo. O grupo diz que alguém, do serviço de apoio, poderá ficar com Ricardo. Tenho que consultar Maria, a nossa enfermeira de família; vou pedir-lhe que venha junto de Ricardo. Seria maravilhoso voltar a ver os netos! Sinto-me segura com a enfermeira de família e a sua equipa e pressinto que Ricardo quer que vá.
Sinto-me mais aliviada!
Não sei o que seria de mim sem Maria, a Enfermeira de família.
Enfermeira de meia-idade; Que dia!
Estou esgotada, mas quero falar via “televídeo” com Maria, para me informar como decorreu a sua visita, de hoje, a Ricardo. Tive um dia incrível, quase não ia tendo tempo de tomar um sumo ou muito menos, para descansar. Mas alegro-me por poder contar, finalmente, com a equipa especializada, que acompanha o estado de saúde de Melissa. Encontrámos uma via alternativa para lhe garantirmos os medicamentos, durante o boicote; o encarregado da triagem 2 sabe que o pessoal está disponível e atento para resolver qualquer problema, que surja. Foi difícil a conferência com a família da Senhora Gomes, porém, em conjunto, decidiu‑se suspender o tratamento; têm acesso a muita informação, sobre tratamentos alternativos e ao pessoal de apoio, local.
Alegro-me por tê-los posto, hoje, em contacto, com o novo grupo de apoio. Depois, foi a vez de me ocupar a verificar o estado de saúde do Pedro!
Amanhã vai precisar de fazer um “biotec”.
Preocupa-me em ter todo o meu pessoal preparado para a sua próxima reavaliação da telesaúde. Talvez a experiência da reunião transcontinental do CIE me traga algumas ideias novas.
Dentro de pouco tempo, terei que considerar aquela oferta de trabalho da Autoridade Regional de Telesaúde - necessitam de contributos para as políticas de Enfermagem; próximo está também o plano de investigação, no desenvolvimento comunitário e os termos de telesaúde da CIPE… Talvez Maria possa dar uma ajuda…
Ficcionámos dois futuros diferentes.
Qual será o nosso?
Qual o que queremos, para a Enfermagem, para o CIE e para os Enfermeiros?
Há 100 anos, a ideia em voga era “formar uma organização das associações de enfermeiros em cada país”. O objectivo era unir os Enfermeiros na luta pela evolução e protecção da Classe e servir mais bem, quantitativa e qualitativamente, a Humanidade. Hoje procuramos alcançar o mesmo objectivo, com uma visão actualizada e uma perspectiva para o futuro mais distante. O mundo mudou – mas precisa de um CIE dinâmico, guiado por uma visão clara para o amanhã. Isso é tão fulcral, hoje, como o foi no passado.
Estimados colegas, recusámos a ideia de rotina, assim como a de desenvolver um serviço de saúde desumanizado. Esta noite, no dealbar do século XXI, reunimo-nos em torno de uma visão nova para o CIE; para a Enfermagem; para nós, como seus Profissionais que é,
Esta :
Unidos no CIE, os enfermeiros de todas as nações falam a uma só voz, a mesma linguagem. Falam como defensores de todos aqueles a quem servem e dos que ainda não recebem os nossos serviços; insistimos em que a prevenção, o tratamento e a cura são um direito inalienável de todo o ser humano. Estamos na vanguarda dos progressos nos cuidados de saúde, configurando, em todo o mundo, as políticas de saúde, com as nossas competências, o vigor de nossos membros, a harmonia dos nossos esforços e a nossa colaboração com o público e com os demais profissionais de saúde.
A nossa missão é conduzir as nossas sociedades para uma saúde melhor. Trabalhando juntos, no CIE, unimos os conhecimentos e o entusiasmo de toda a Profissão de Enfermagem para promover estilos de vida sãos, lugares de trabalho saudáveis e comunidades sãs. Fomentemos a saúde das nossas sociedades e das pessoas, apoiando as estratégias de desenvolvimento sustentável, que mitigam a pobreza, o contágio e outras causas das doenças.
Trabalhando juntos, estamos na primeira linha, para introduzir a tecnologia avançada nos cuidados de saúde, sem esquecer, nunca, o elemento humano. Estamos decididos a que a ciência e a tecnologia permaneçam ao serviço dos cuidados éticos e caritativos, que abrangem a satisfação das necessidades espirituais e emocionais.
Trabalhando juntos, esforçando-nos por aglutinar, motivando, em torno da causa comum, os alunos de enfermagem, de cada país, conseguiremos níveis mais altos de formação em Enfermagem, em todos os países – uma formação que tenha uma base liberal e científica, que seja flexível e sensível às culturas, (transcultural) e fundamentada nos valores essenciais da nossa Profissão.
Conseguimos que os Enfermeiros sejam formados para desempenhar, tanto na política, como na prestação de cuidados, funções cada vez mais amplas, que integram plenamente, utilizando a Enfermagem em equipas de saúde multidisciplinares, como fulcro do movimento circular e aglutinador, de conjunto.
Equipamos os Enfermeiros com as capacidades necessárias para acederem à prestação dos cuidados de saúde, serem capazes de dispensar esses cuidados aos clientes e orientá-los, capazmente, para outros prestadores de cuidados, se e quando for caso disso. Adquirimos constantemente, novos conjuntos de competências, para dirigir e reflectir mudanças dinâmicas, nos cuidados de saúde; conseguimos que os sistemas de serviços de saúde reconheçam e recompensem essas competências. Trabalhamos juntos para conseguir valores, políticas, normas e condições, que libertem os enfermeiros para exercerem, em todos os meios as capacidades e competências da sua formação.
O nosso trabalho conjunto, está orientado, para um modo de pensar uniformemente a Enfermagem; um compromisso para com o “cuidar”, no sentido mais amplo; ser defensores dos nossos doentes, ajudar as pessoas a ajudarem-se e a fazerem por si o que faziam sem a nossa ajuda, tendo a força, a vontade e os conhecimentos suficientes. (sublinhado nosso)
Os esforços recíprocos garantem que a Enfermagem seja uma Profissão altamente válida, em todo o lado, adequadamente utilizada, reconhecida e recompensada, presente e representada em qualquer SNS, que se preze de o ser.
Todavia a nossa recompensa mais elevada é o conhecimento certo de que o nosso trabalho está a modelar o futuro das pessoas sãs, num mundo saudável.
O nosso futuro está nas nossas mãos, queridos amigos e colegas. Torná-lo adequado e proclamá-lo bem alto, é a nossa responsabilidade e, esta noite, começámos já a fazê-lo.
Unidos e com o humanismo como emblema, vamos consegui-lo.
FIM


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