sábado, 7 de março de 2015

SER MÃE NO MUNDO DOS QUE QUERIAM E NÃO PODEM, É DURO E PROBLEMÁTICO


Muito boa noite,
Por questões de ordem pessoal só agora consegui tempo para expor formalmente o resultado da consulta de Saúde Ocupacional para que fui convocada e à qual compareci, obviamente, a 26 de Fevereiro.

Na referida consulta, convocada com o claro propósito de confirmar se o meu filho é de facto amamentado, foi-me dito que fariam a avaliação da minha aptidão para o cargo que desempenho em função dos riscos a que estou exposta, previamente analisados por um técnico de higiene e segurança do Gabinete de Qualidade do CHX

Fui questionada acerca da amamentação, ao que prontamente respondi que sim, efetivamente encontro-me nessa situação. Aí pergunta-me a médica desde quando... Fiquei estarrecida e em simultâneo preocupada, porque isto demonstra perfeita ignorância sobre a amamentação em si. Respondi que desde que o meu filho nasceu, claro!

Posto isto, foi-me dito que então iríamos ver se tinha leite. Ora tendo em conta que a legislação me pede que entregue uma declaração médica com essa informação, e não que ande a provar por esguicho que tenho leite, manifestei-me em absoluto contra essa medida! Apresentei as minhas razões para tal discordância, e acabei por fazer a dita prova para não acharem que o facto de reclamar significa que não amamento.

Qual o meu espanto quando me é apresentada a convocatória para a próxima prova, que anexo! Isto é claramente perseguição. Não lhes chega perceber que efetivamente estou em situação regular, como me exigem presenças trimestrais!?? 
Por um lado, entristece-me trabalhar num local, onde a entidade patronal, ao invés de me valorizar pelo meu esforço e empenho profissionais, me persegue, até à exaustão, assumindo que todos mentimos até prova em contrário... Triste mundo este, onde o alimento do meu filho tem de jorrar para que se faça cumprir aquilo que é dele por direito; usufruo dessas 2 horas e uso-as para estar com o meu filho, e não propriamente para lhe dar de mamar, porque as crianças com esta idade conseguem ser tão eficazes que mamam grandes quantidades de leite em poucos minutos.

Compreendo a legislação, compreendo que se deva fazer cumprir, o que não compreendo é este princípio subjacente que dita que nos investiguemos a este ponto. Não tarda teremos de trazer um dedo para comprovar o falecimento de algum familiar!

Portanto, não tenho culpa que haja atestados falsos, não tenho culpa que haja pediatras que os passem, não tenho culpa que duvidem de tudo e de todos, nem que o respeito pelo próximo esteja em desuso.
Gostaria que esta questão fosse trabalhada no sentido do bem colectivo e da proteção dos direitos e da integridade moral do trabalhador. Não sou jurista, mas sei que não há lei que me obrigue a espremer as mamas; por isso questiono: posso recusar-me a fazê-lo sem prejuízo do meu direito à licença?
(NB: sublinhados e coloridos são nossos, do SE)

Desde já muito grata pela análise cuidada desta situação,
Maria 



Vamos oferecer este grito de revolta da nossa Colega Mãe, simplesmente Maria, enfermeira num grande Hospital e de nobres tradições e feitos, aos maus administradores estejam no Governo ou nos Hospitais, ou no meio da rua mesmo que sujeitos a serem atropelados.
Com efeito, se isto se passasse numa fábrica de vidro da Marinha Grande ou na fábrica de fazer sanitas e urinóis de Valadares, que fechou para reabrir, ainda se percebia esta falta de respeito pelos mais elementares dos elementares direitos ao dever humano de ser Mãe.
Mas num Hospital!
Como foi possível isto descambar para este caminho?
Não vamos dar novidade alguma se dissermos de forma lapalissiana, que a Enfermagem é uma profissão essencialmente ou maioritariamente feminina, com todas as consequências que isso acarreta.
Tempos houve em que as mulheres Enfermeiras podiam ser mães de filhos, mas não podiam ser casadas.
Foi este Sindicato dos Enfermeiros - SE que, em colaboração com a "Liga da Profilaxia social", de que ainda é sócio, que exigiu ao Governo do Dr. Salazar que resolvesse esta aberração. E a partir de 1960, tornou-se possível às Enfermeiras, serem mães e Casadas e trabalharem em hospitais públicos.
Mas esta prova de espremer as mamas à mãe, para ver o leito, nem o Édipo era capaz de fazer, sendo ainda  mais iníquo do que essa situação salazarista, corrigida.

Já tínhamos ouvido falar nisto, mas nunca tínhamos tido a prova concreta, tão real.
Como é possível, num centro de humanidades e humanizações haver Médicos/as malditos do tipo nazi (indicamos a literatura das práticas desses Médicos Nazis a quem estiver interessado em comparar)?
Mas estas bestas cúbicas ou tridimensionais não sabem que amamentar não se esgota no gesto de espremer, na goela do filho o leite materno?
Se fosse só isso, criavam um grupo de estafetas, carregado com biberões transportando o leite das mães e levavam-no às "crias". Já agora espero que não concretizem a ideia, que é só comentário!

Cara Colega Maria,
Posso garantir-lhe que vamos analisar e atuar em conformidade, pois para tudo há um limite lógico, razoável.

Com amizade,
José Azevedo 

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