sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

BRAGANÇA PLACA FIXA OU GIRATÓRIA DE DOENTES...


entrevista a António Marçôa: “Concursos para clínicos ficam desertos”

Das 105 vagas que abriram, apenas 15 foram ocupadas. Presidente da ULS do Nordeste faz o balanço do primeiro mandato e aponta algumas das prioridades para os próximos três anos. E revela que vai abrir bolsa de contratação para pessoal.

Mensageiro de Bragança: Enquanto houve a reorganização administrativa da ULS nos últimos três anos, os cuidados de saúde ressentiram-se?
António Marçôa: 
Tivemos algumas dificuldades nos cuidados de saúde primários, com a saída de alguns profissionais que não foram substituídos…

MB.: Mas não foram por não haver autorização para novas contratações ou por não haver o interesse dos clínicos em vir para cá?
AM.:
 Pelo segundo motivo. Tivemos autorização para contratar, as vagas abriram – até temos duas preenchidas em centros de saúde e vejo isso com muita satisfação -, pois Moncorvo e Alfândega da Fé não estão bem. Mas a grande questão é que abrimos concursos mas ficam desertos. Abrimos mais de cem lugares no total, preenchemos 15 e, desses 15, já saíram três. Veja a dificuldade que temos. Aqui é que a política tem de ser alterada. Tem de haver uma política de fixação de quadros no Interior. Se não, vamos ter sempre este problema.
Ao nível dos cuidados de saúde primários, com estas admissões, tenho algum otimismo. Mas, se fôssemos analisar tendo por base os critérios de competitividade, até não estávamos mal. Temos X médicos e X população. Por exemplo, com 134 mil habitantes, se tivermos cem médicos, temos uma média de 1300 habitantes por médico. Os indicadores em Lisboa utilizam 1500 até 1900. Mas isso não pode ser visto dessa forma, porque tenho 14 centros de saúde, disseminados em cada um deles. Por exemplo, 134 mil habitantes é um bairro no litoral. Concentram tudo no mesmo edifício, uns substituem os outros. Aqui, tenho centros de saúde com quatro médicos. Com férias e baixas, não dá. Tenho de ter uma política a nível da análise dos nossos recursos humanos, que calcule certinho o que precisamos. Tenho de ter uma política cuidada nas férias. Temos de aumentar o rigor na gestão, a eficiência, para compensar o que nos falta à partida.
Não estamos ainda bem, porque temos muitos médicos já com mais de 50 anos. Fazem serviço nas urgências e na triagem. Não conseguimos ter tudo. Por isso, com o envelhecimento dos profissionais, a falta de atratividade dos médicos para o Interior.
Há que haver outra visão do Governo para fixar e incentivar a fixação desses profissionais e, depois, temos ameaças nos cuidados hospitalares. Há serviços onde temos falta de recursos.
Na Obstetrícia, felizmente foram-nos concedidas duas vagas e espero que sejam preenchidas pois, com cinco profissionais apenas (e um estando de baixa) é extremamente difícil ter um serviço de Ginecologia Obstetrícia a funcionar 24 horas por dia.

“Havia serviços em risco por falta de clínicos”
 Nordeste Transmontano //
António Marçôa: "Não está previsto o encerramento de serviços" Por: AGR em: Seg, 16/02/2015 - 11:52
Mensageiro de Bragança.: Relativamente ao encerramento de serviços, que era uma questão que vinha regularmente a lume, há novidades? Ou seja, há algum serviço que esteja em risco de ser encerrado?
António Marçôa.:
 Não. Não está nenhum serviço com previsão de encerramento. Ainda há pouco tempo o Secretário de Estado da Saúde esteve em Macedo de Cavaleiros e foi garantido que nada ia encerrar. Aliás, o próprio Secretário de Estado retirou uma conclusão, que era a que eu já vinha dizendo aos autarcas. Compreendo os riscos e ameaças que sentem. Aquilo que referi é que especializámos os hospitais e é isso que muitas vezes não é entendido. Ainda recentemente a autarquia de Macedo falava de perda de valências. Mas se não tivermos as especialidades com uma dimensão mínima e uma casuística clínica, com um número de profissionais mínimo, o que vai acontecer é precisamente isso, o encerramento.
Mas tudo o que parecem ameças às vezes são oportunidades. Na questão da Unidade de Convalescença sentimos que, realmente, era uma perda e um desperdício incrível um investimento que tinha sido feito, que tem instalações de máximo conforto, e ser perdido. Tenho de compreender a política que estava a ser seguida. A Unidade de Convalescença que estava associada ao hospital, que tinha camas atribuídas, são cuidados que podem continuar a ser prestados, por um lado, através do internamento hospitalar, através dos nossos serviços de ortopedia e fisiatria. Podem criticar e dizer que isso aumenta a demora média do internamento. É verdade mas é preciso pensar que essa demora só não estava a aumentar porque ao mandarmos para a Unidade de Convalescença estávamos a dizer que iam para a Rede Nacional de Cuidados Continuados e deixavam de contar os dias que estavam lá internados. Mas, na prática, ao nível do Serviço Nacional de Saúde, os recursos eram nossos e as camas estavam a ser afetadas. Na realidade, a demora média acabava por ser a mesma coisa.
Por outro lado, temos as equipas locais que estão integradas dentro da rede nacional e que prestam cuidados domiciliários. Tínhamos equipas em praticamente todos os centros de saúde e cada uma delas tinha capacidade para seguir 20 doentes a nível domiciliário.
Se isso for feito, muitos desses doentes podem ter alta e continuar a ser seguidos a nível domiciliário.
Disto tudo, o que podia ser mais precindível? Os doentes de convalescença, pois continuam a ter o mesmo tipo de tratamento. Mas era mau para nós porque perdíamos um financiamento adicional. Quando fomos confrontados com isso, argumentámos nesse sentido. Temos uma excelente unidade, que não faz sentido perder. Temos lá doentes de cuidados paliativos e todos sabemos a grande carência desse serviço que existe na região. Então, propusemos aumentar a nossa capacidade de paliativos até ao limite.
Em boa hora o fizemos. Isso foi concedido e recentemente saiu o financiamento para os paliativos. Vamos ter todas as camas destinadas a paliativos (são 16 camas), completamente ocupadas.
Claro que não temos a mesma capacidade de antes, pois estes doentes têm uma especificidade e não podem estar em enfermarias de dois ou de três, apenas um por quarto. Mesmo assim, ainda temos capacidade que pode vir a ser aproveitada.
Isto foi uma estratégia concertada. Ao mesmo tempo tínhamos os projetos da Gulbenkian a correr, que já vinha de há três anos no Planalto Mirandês e mantivemos os protocolos com as autarquias e Misericórdias para continuar. São nossos doentes, do SNS, e não temos de estar a empurrá-los.
Por exemplo, uma das notícias recentes é que a mais de metade dos doentes oncológicos não são prestados os cuidados paliativos que deviam ser prestados. Fizemos uma boa aposta e, se calhar, vamos ser o primeiro caso a nível nacional com cuidados integrados, ou seja, domiciliários ou de internamento. Para já ainda só temos Terra Fria, Planalto Mirandês e o concelho de Alfândega da Fé mas queremos estender isto a toda a região. Inclusive, pela progressão da doença oncológica e por termos uma população envelhecida e cada vez mais dependente deste tipo de cuidados. Não é um momento zero, é de continuação, mas é para ser reforçado no nosso mandato.
MB.: Esta passagem da Convalescença para os Paliativos em Macedo significou a perda de profissionais?
AM.:
 Não. Temos detetado necessidades imediatas e isso já foi feito sentir à tutela de, por exemplo, profissionais de enfermagem. Vamos abrir uma bolsa para admissão de 20 profissionais, [ENA, TANTOS ENFERMEIROS!!! PARA TÃO POUCOS MÉDICOS.] (comentário nosso) que são necessidades que temos de imediato. E, já tinham vindo autorizações para outro tipo de profissionais, nomeadamente um fisioterapeuta, dois técnicos de cárdio-pneumologia, técnicos de análises clínicas. Isto porque tivemos um elevado número de aposentações. Também tivemos a entrada de assistentes operacionais. Mas a carência principal tem sido ao nível de enfermagem e de assistentes operacionais. Como é que seria possível dispensarmos pessoal com um panorama destes? Era impossível. O que se fez foi dimensionar os recursos que estavam previstos para as 26 camas, especialmente de enfermagem e de assistentes operacionais, para as 16 camas de paliativos. Os outros profissionais foram para onde tínhamos necessidades, sobretudo ortopedia, medicina interna e AVCs, dentro da mesma unidade. Privilegiámos o conforto do profissional e evitar que tivesse de se deslocar.

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