Fundo de apoio a greves dos enfermeiros ainda tem 246 mil euros
A última greve convocada por um dos
sindicatos de enfermeiros foi cancelada. Mas o grupo “greve cirúrgica” avisa
que não vai parar e anuncia que só gastou pouco mais de 180 mil euros do dinheiro
angariado para apoiar os protestos dos enfermeiros.
26 de Abril
de 2019, 6:30
Foto
NUNO FERREIRA SANTOS
O grupo
“greve cirúrgica”, que esteve na base das duas paralisações que levaram ao
adiamento de milhares de operações não programadas nos hospitais públicos no
final de 2018 e no início deste ano, revelou ontem que sobraram 246 mil euros
do total do dinheiro angariado através de uma plataforma de crowdfunding (financiamento
colaborativo) para o fundo solidário de apoio a esta invulgar forma de
protesto.
Num
sucinto “relatório de contas”, ontem divulgado na sua página no Facebook, o
grupo de cinco enfermeiros que idealizou a recolha de fundos anuncia
que “brevemente” dará mais informações sobre o destino do “montante
remanescente” do dinheiro recolhido através da plataforma PPL. “Fizemos o que
ainda não tinha sido feito e não
vamos parar por aqui”, avisam, garantindo que se mantêm atentos e “em
período de definição de novas estratégias”.
Agradecendo
aos sindicatos que apoiaram as duas greves (o
Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal, Sindepor, e a
Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros, ASPE) e “aos piquetes que
estiveram sempre nos hospitais a defender os colegas”, especificam que, entre o
total angariado para a segunda "greve
cirúrgica" e o que sobrou da primeira
paralisação, ainda ficaram perto de 427 mil euros, tendo sido retirados os
valores do IVA (23%) e dos 7,5% de comissões que foram pagas à
plataforma PPL. Revelam que gastaram, no segundo período de greve, 180.869
euros nas “doações [pagamento aos enfermeiros em greve] e despesas de
manutenção da conta” criada com o montante angariado.
O
dinheiro que sobrou será usado para apoiar futuras formas de luta, que podem
passar por novas greves ou outro tipo de protestos, ou acabará por ser doado,
caso as negociações em curso com o Governo resultem, explicou entretanto ao
PÚBLICO Nélson Cordeiro, o enfermeiro do grupo em nome de quem está a
conta com os 246 mil euros. “Não quero ficar com um cêntimo, sequer.
Estamos a tratar este assunto com responsabilidade e muita transparência”,
assegura.
“O que
queremos é que o dinheiro seja usado em benefício desta luta que ainda não
terminou. Não vamos parar. Estamos numa fase de balanço e a aguardar o
resultado das negociações dos sindicatos com o Governo”, acrescenta Nélson
Cordeiro, dando o seu exemplo para demonstrar que os protestos ainda não surtiram
efeito na progressão
salarial. “Trabalho há 14 anos e ganho 1200 euros [brutos], tanto quanto um
enfermeiro que comece agora a trabalhar.”
Apesar
disso, reconhece que as “greves cirúrgicas” serviram para se conseguir “uma
nova carreira, agora com três categorias” (antes eram duas), incluindo a
de especialista, mas nota que ainda não se sabe como é que vão ser feitas as
transições e também ainda não é claro se o descongelamento (progressão salarial
por pontos) vai ser igual para todos, incluindo os enfermeiros que têm
contratos individuais de trabalho.
O certo
é que o grupo conseguiu angariar cerca de 360 mil euros na recolha de fundos
para financiar a primeira greve — que decorreu entre 22 de Novembro e 31 de
Dezembro de 2018 — e mais de 426 mil euros para apoiar os colegas que
aderiram ao segundo protesto, convocado para o período entre 31 de Janeiro e 28
de Fevereiro.
Primeira greve durou
40 dias
O
dinheiro obtido através desta forma pouco convencional de financiamento serviu
para pagar aos enfermeiros que faltaram ao trabalho nos blocos operatórios dos
centros hospitalares abrangidos pelos protestos, num valor de 42 euros por dia.
Foi isso que permitiu que a primeira paralisação se prolongasse por mais de 40
dias.
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Já
a segunda paralisação acabou por ser interrompida, depois de, a meio
de Fevereiro, a Procuradoria-Geral
da República ter
considerado a primeira greve ilegal, por não corresponder ao pré-aviso e porque
o fundo usado para compensar a perda de salário não foi constituído nem gerido
pelos sindicatos que decretaram a paralisação. Nesta segunda greve,
o Governo decretou também uma requisição civil para quatro dos dez
centros hospitalares alvos da paralisação, justificando-a com o não cumprimento
dos serviços
mínimosdefinidos com os sindicatos.
Entretanto,
o Sindepor marcou uma paralisação geral para arrancar em 2 de Abril, a qual foi
sendo sucessivamente adiada na sequência das reuniões com a tutela, e que
acabou por ser cancelada na última quarta-feira. “Para o Sindepor a
prioridade será sempre a resolução dos problemas dos enfermeiros através de
processos negociais pelo que, neste momento e tendo em conta as condições
existentes, decretamos a suspensão definitiva da greve”, lê-se num comunicado
publicado no site do sindicato.
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