terça-feira, 12 de agosto de 2014

CORREDOR DA MORTE

O Corredor da Morte!

CAM00199Isto é o corredor do SO do Hospital Amadora Sintra onde os doentes idosos são despejados à espera de vaga nas enfermarias. Digo idosos porque não vi lá ninguém novo, só gente muito idosa.
Naquele corredor ontem, estavam dez macas. As salas de SO estavam cheias. Enquanto lá estive houve uma vaga onde foi colocada uma pessoa mais nova, vinda da urgência. Os que estavam no corredor, assim ficaram.
A minha mãe foi internada no sábado ás vinte horas. Esteve na urgência de cirurgia desde as onze, onde havia apenas dois médicos que demoraram nove horas para lhe fazer o diagnóstico. Uma infecção e tinha que ficar internada, e, ficou, mas no corredor da cirurgia, e segundo o médico e a enfermeira apenas por umas horas para ir para a enfermaria. Não foi, e ontem de manhã foi transferida para o corredor do SO.
As enfermarias estavam cheias, por isso tem que esperar que haja vagas.
CAM00198Só consegui vê-la ás dezanove horas e como a doença a obriga a uma dieta liquida, estava há trinta e seis horas sem comer e sem soro porque se esqueceram de lhe pôr. Não fosse eu questionar a médica e provavelmente estaria outras tantas horas sem se alimentar e arranjaria outro problema.
Tinha bebido chá e água, porque segundo a médica a dieta há – de ser feita na enfermaria.
Só começou o tratamento ontem de manhã porque o médico, Um tal Dr. António (prometo saber o apelido e denunciar) se esqueceu de prescrever os medicamentos.
A minha mãe corre risco de vida e não é a primeira vez que é internada com esta doença, por isso sei os cuidados a ter, e, o que deve ser feito e não está a ser.
Esta doença foi diagnosticada através de uma colonoscopia feita em Julho que não foi vista pelo médico uma vez que a consulta foi marcada para Dezembro próximo. Foi vista no sábado na urgência. Se tivesse sido vista a tempo evitaríamos este internamento, pois teria sido medicada e não chegaria a esta crise. Continua-se a gastar muito na saúde porque não se faz prevenção, e não se faz, porque não há organização nem se cumprem as leis.
Dr. Paulo Macedo, não chega publicar o Despacho 3756/2014 sobre a gratuidade das colonoscopias com anestesia e da obrigatoriedade dos hospitais enviarem rapidamente os respectivos resultados para os médicos. É preciso dotar os hospitais com meios, fiscalizar e obrigar que se cumpra. A saúde não se faz no Diário da República e muito menos na televisão. A televisão e os outros orgãos de comunicação social servem para informar o cidadão. Nessa perspectiva, deixo aqui um convite aos senhores jornalistas: levantem o cú das cadeiras e vão ao local da notícia. Vão aos corredores do SO do Hospital Amadora – Sintra e divulguem o que por lá se passa. Há lá muitos pais e amanhã podem ser os vossos. 
{Podeis ser vós, digo eu...
Obrigado, Luisa Silva!
Este texto, com toda a sua crueza realista, trouxe-me à memória um velho amigo e colega de colégio e de tropa, o Madureira, que era, na altura, Provedor da Misericórdia de Sintra. Foi nesse corredor que esperou pela morte, numa maca, na companhia de um enfarte do miocárdio, que o ceifou, numa hora qualquer, entre a hora de estacionamento, no dito corredor da morte e a descoberta feita por algum guarda nocturno, na sua ronda do "lá vai...", um.
Só os Enfermeiros são capazes de evitar este espetáculo triste e desumano e perigoso e injusto.
Têm de aplicar o método australiano, no qual os Enfermeiros impuseram, há uns anos, perto de 30, «não sai doente sem Enfermeiro saber se está tudo conforme; não entra doente sem que tenha uma cama para o deitar».
Chegaram à perfeição de dispensarem a presença física dos Médicos, nas urgências. Esperam que os Enfermeiros os convoquem.
Se a Austrália não fosse tão longe, até era capaz de servir de modelo para a solução das nossas dificuldades e problemas.
Para Médico o tamanho da maca ou cama; da sala ou corredor pouco interessam; os Enfermeiros é que têm de garantir higiene e conforto ao doente, por isso se devem impor, começando por ser mais exigentes e intolerantes com as desgraças alheias
Com amizade,
José Azevedo

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