Profissionais escrevem carta aberta a Paulo Macedo contra cortes na saúde
Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo impede realização de conferência de imprensa no interior da USF em Alvalade.
O bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, lançou nesta quarta-feira, em Lisboa, um apelo aos portugueses na defesa do Serviço Nacional de Saúde (SNS), para que “não permitam que a qualidade do serviço público prestado às populações seja posta em causa”, e criticou a “atitude salazarenta” daqueles que “impedem que a comunicação social tenha acesso às instituições de saúde”.
As críticas de José Manuel Silva visavam directamente a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT), que, nesta quarta-feira, impediu que a conferência de imprensa promovida pela Associação Nacional de Unidades de Saúde Familiar (USF) e pela Ordem dos Médicos e Ordem dos Enfermeiros fosse realizada no interior das instalações da USF do Parque, no antigo Hospital Júlio de Matos.
A conferência de imprensa, destinada a divulgar o teor da carta aberta que as três instituições entregaram terça-feira ao ministro da Saúde e na qual afirmam que “a vida, a saúde e os cidadãos exigem mais e melhores cuidados de saúde primários (CSP)”, foi autorizada quer pelo coordenador da associação das USF, Luís Rebelo, e pela directora executiva do Agrupamento de Centros de Saúde, Manuela Peleteiro, mas viria a ser desautorizada pelo vice-presidente da ARSLVT, Luís Pisco.
Na carta aberta dirigida a Paulo Macedo, onde se afirma que “o valor das USF está demonstrado através dos resultados nas áreas do acesso, da continuidade, do desempenho, da qualidade e da eficiência”, as três instituições apelam aos profissionais de saúde, aos cidadãos e às suas organizações para que “não deixem a reforma [dos cuidados de saúde primários] ser capturada pelas administrações, contribuindo para a convergência, o envolvimento, a mobilização de todos eles, indispensável ao relançamento do processo de transformação e de desenvolvimento organizacional dos cuidados de saude primários”.
As três entidades consideram “fundamental para a sociedade portuguesa que exista, desde já, um forte investimento nas unidades de saúde familiar e nos cuidados de saúde primários para que se tenha um Serviço Nacional de Saúde (SNS) de proximidade e de qualidade”. Na carta, sublinham ainda que a “reconfiguração dos CSP em Portugal abriu um processo de crescimento, maturação e inovação no funcionamento dos cuidados de saúde, no sentido da flexibilização organizativa e de gestão, da desburocratização, do trabalho em equipa, da autonomia, da responsabilização, da melhoria contínua da qualidade, da contratualização, da avaliação (interna e externa) e da sustentabilidade, tendo as USF sido as impulsionadoras da mudança”.
Afirmando que as “USF fazem mais e melhor com menos custos na prescrição de terapêutica e de meios auxiliares de diagnóstico”, Bernardo Vilas Boas, presidente Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar, lembrou que o Memorando de Entendimento da troika “contém explicitamente orientações para reforçar e desenvolver os cuidados de saúde primários, em especial as USF modelo B”.
Contra os cortes na saúde, os signatários da carta aberta desafiam o Ministério da Saúde e a Assembleia da República “a adoptarem iniciativas e medidas que permitam combinar vontade política e capacidade operacional para haver mais CSP, mais enfermeiros e médicos nos cuidados de saúde primários em Portugal e para que seja atribuída uma equipa de saúde familiar a todos os cidadãos e famílias”. Nesse sentido, consideram necessário criar condições para “promover o investimento e a alocação de recursos financeiros e humanos na área dos CSP, de forma estratégica e sustentada, por serem ainda mais eficientes e úteis para a população”.
Na conferência de imprensa, realizada no exterior da USF do Parque debaixo de um frio imenso, ouviram-se muitas críticas à Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte, que, contra a orientação do próprio ministro, “está a travar que cuidados de saúde primários (modelo A) passem a USF modelo B, apesar de terem pareceres técnicos da equipa regional. O bastonário da Ordem dos Enfermeiros, Germano Couto, referiu expressamente que “o vogal da ARS-Norte, Rui Cernadas, tem vindo a ameaçar de despedimento enfermeiros e outros profissionais de saúde com mais de 10 anos de contrato a termo”.
A Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSVT) justificou a não autorização da realização da conferência de imprensa nas instalações da USF do Parque, em Alvalade, promovida pela Associação Nacional das USF, Ordem dos Médicos e Ordem dos Enfermeiros, para não comprometer o funcionamento normal da unidade.
Hospitais cortaram um quarto dos exames e análises em dois anos
04/04/2014 - 13:04
Entre 2010 e 2012, houve uma queda nos actos complementares de diagnóstico em hospitais públicos e uma subida nos privados.
- Doentes continuam a esperar quatro meses por uma consulta hospitalar
- SNS pagou menos seis milhões de análises no sector convencionado só em 2012
- ERS recebe 170 reclamações por dificuldades de acesso a exames de diagnóstico
- Ministro quer que tempos de espera para exames passem a ser controlados como nas cirurgias
- Mortes expectáveis diminuíram 30% nos hospitais entre 2005 e 2012
Os hospitais públicos fizeram menos 44 milhões de actos complementares de diagnóstico (análises e exames como radiografias ou endoscopias) e menos 2,6 milhões de actos complementares de terapêutica (fisioterapia, radioterapia, etc.), entre 2010 e 2012. Em contrapartida, neste período as unidades privadas aumentaram substancialmente a sua actividade nestas duas áreas, ainda que isso não tenha sido suficiente para compensar a redução verificada no sector público. Nestes dois anos, o número total de exames e análises caiu 26,5%.
Antecipando o Dia Mundial da Saúde, que se celebra segunda-feira, o Instituto Nacional de Estatística (INE) traça esta sexta-feira uma espécie de retrato da década entre 2002 e 2012 neste sector, um retrato que prova que os hospitais privados conquistaram terreno e ganharam dimensão durante este período.
Entre 2002 e 2010, o número de actos complementares de diagnóstico cresceu continuadamente nos hospitais públicos, mas a partir de 2010 baixou substancialmente (menos 44 milhões de exames e análises). No mesmo período em que se regista a quebra no sector público, nos hospitais privados – que em 2012 asseguravam já 7,9% do total das análises e exames (contra apenas 1,1% em 2002), indicam os dados do INE – esta actividade aumentou substancialmente com a realização de mais um milhão de actos em 2010 para 9,6 milhões em 2012.
Em 2012, nos 214 hospitais que existem no país (110 dos quais são públicos) realizaram-se 122 milhões de actos complementares de diagnóstico e 22 milhões de actos complementares de terapêutica.
Também o número de atendimentos em urgência cresceu substancialmente nos privados – praticamente duplicou numa década, passando de 460 mil, em 2002, para 800 mil, em 2012. Mesmo assim, o sector público ainda foi responsável por 88% das urgências em 2012.
Ao longo desta década, os hospitais públicos perderam cerca de três mil camas, enquanto os privados passaram a dispor de mais 1400 camas. Também as grandes e médias cirurgias, depois de terem crescido até 2010, diminuíram em 2011 e 2012 no sector público, refere o INE.
As boas notícias são as de que aumentaram as consultas médicas externas (16,5 milhões em 2012), um acréscimo de 69% numa década, e há mais dez mil médicos (a partir de 2010 as médicas ultrapassaram os médicos) e 23 mil enfermeiros. Na mortalidade, já se sabia que se morre cada vez menos devido a doenças cardiovasculares (a redução é de 21% em dez anos), mas aumentaram os óbitos por tumores malignos (mais 14,1% entre 2002 e 2012).
Também a esperança média de vida continua a crescer, mas a má notícia para os portugueses é a de que, apesar de viverem mais tempo, vivem menos tempo com saúde do que os cidadãos de outros países da União Europeia. As mulheres são as mais penalizadas: em 2011, uma portuguesa podia esperar viver sem limitações de longa duração até aos 58,6 anos,em média, enquanto nos homens os “anos de vida saudável” se prolongavam até aos 60,7.
Em menos de duas horas fui visto por uma médica, radiografado, hemoanalisado, injectado e, munido das análises e da radiografia, voltei a ser visto pela mesma médica, que me diagnosticou e medicamentou e saí dali livre de angústias e mais solto do pé. Por 20 euros foi uma pechincha por uma urgência que era urgente.
O ambiente do hospital – a simpatia e humanidade dos seguranças e do pessoal auxiliar (como sempre primordial), das enfermeiras e das técnicas de administração – é bem-disposto e colegial, com um espírito louvável de estarmos todos no mesmo barco que é, com certeza, terapeuticamente benéfico.
Bem sei que elogiar os serviços públicos não os ajuda: eles precisam de mais dinheiro, para poderem servir-nos melhor. Dizer que estão bem pode ser (e é sempre) mal interpretado, sugerindo que têm o que precisam para trabalhar bem.
O HSM não tem. Mas, mesmo assim e apesar de tudo, trabalha muito bem. E ninguém lhes pode tirar isso.
Opinião
A urgência útil
No domingo lá tive de ir às Urgências do Hospital de Santa Maria. Levava velhas expectativas: de esperar para ser bem atendido. Mas, de há uns tempos para cá, contra a marcha das coisas para o piorio, o HSM tem-se tornado mais eficaz e mais rápido.
Paguei, a nova taxa moderadora – 20 euros –, mas não encontrei razão para me queixar. Também é bom saber que, aconteça o que acontecer, a conta final do utente nunca será superior a 50 euros. Porventura tem um efeito dissuasivo com os queixinhas por dá cá aquela palha.Em menos de duas horas fui visto por uma médica, radiografado, hemoanalisado, injectado e, munido das análises e da radiografia, voltei a ser visto pela mesma médica, que me diagnosticou e medicamentou e saí dali livre de angústias e mais solto do pé. Por 20 euros foi uma pechincha por uma urgência que era urgente.
O ambiente do hospital – a simpatia e humanidade dos seguranças e do pessoal auxiliar (como sempre primordial), das enfermeiras e das técnicas de administração – é bem-disposto e colegial, com um espírito louvável de estarmos todos no mesmo barco que é, com certeza, terapeuticamente benéfico.
Bem sei que elogiar os serviços públicos não os ajuda: eles precisam de mais dinheiro, para poderem servir-nos melhor. Dizer que estão bem pode ser (e é sempre) mal interpretado, sugerindo que têm o que precisam para trabalhar bem.
O HSM não tem. Mas, mesmo assim e apesar de tudo, trabalha muito bem. E ninguém lhes pode tirar isso.
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