sexta-feira, 30 de novembro de 2018

GREVE CIRÚRGICA - POR QUE SE ESPANTAM!?



Como é norma desta Associação Sindical (SE) e da FENSE, que integra, desde muito cedo alertamos para a atipicidade da "greve cirúrgica". Como o Ministério da Saúde tem as nossas comunicações bloqueadas, funcionam como as das garrafas, onde se metem escritos e são lançadas ao mar.
São os democratas que temos, no seu melhor.

Mas há mais.

O Conselho Regional do Norte da ordem dos Médicos denunciou a existência de "piquetes de greve" de enfermeiros, à entrada dos blocos operatórios, para "atrasar, obstaculizar ou adiar" as cirúrgias que não cumprem o critério de serviços mínimos.
"A Ordem dos Médicos reconhece o direito à greve dos enfermeiros (quem é esta Ordem para reconhecer direitos universais) e isso é inalienável dos direitos que têm de reclamar contra as condições de trabalho ou outras reivindicações, mas vê com muita preocupação a existência  de piquetes de greve à entrada dos blocos operatórios, pondo em causa a indicação clínica de urgência dos doentes" disse à Lusa o presidente do conselho Regional, António Araújo.

Vamos ao fundo da questão:

1 - Estes fenómenos são a tradução sindical dos movimentos populistas, nas populações, devidos ao comportamento dos irresponsáveis políticos, que temos, que esquecem que idade e ignorância andam de mãos dadas, diz o velho e Popper diz também;  "a vida é apendizagem".

2 - O direito à greve existe e os piquetes zelam pelo cumprimento rigoroso das normas legais. Ora se intercetam "indicações clínicas de urgência dos doentes" e as devolvem à procedência é porque são falsas urgências ou abusam das suas competências de piquete.
Como ambas são possíveis, com predominância para os abusos que os Médicos costumam praticar com as ambiguidades do conceito "urgência", sobretudo, quando em causa estão as lutas dos Enfermeiros, que o Dr. Araújo diz respeitar, se a situação de urgência for real, não se entende por que estava a urgência, nas cirurgias programadas se há outros métodos para as resolver...

3 - Dando um jeitinho às asas de anjo com que o Dr. Araújo se apresenta, lembramos:
3.1 -  As greves subordinam-se a 3 parâmetros: proporcionalidade, adequação, necessidade, que balizam o conflito de interesses opostos - o direito à greve e o direito ao cuidado;
3.1.1. Proporcionalidade quer dizer que se movem, entre o 8 e o 80, ou seja - nem as necessidades são cobertas de forma tão exígua que deixem criar situações irreparáveis, nem tão totais, que anulem a eficácia da greve que é a de causar danos, óbvios;
3.1.2. Adequação quer dizer que se devem adequar os serviços a prestar, à dimensão das necessidades reais;
3.1.3 Necessidade é o estado do doente, a ditar a adequação dos cuidados a prestar, em proporção, ou seja que a greve cause danos, sim, mas não dos irreparáveis; somente dos incómodos.
3.2 - Dado que quem decreta a greve é responsável civil e criminalmente pelos danos causados, é ao decretador que compete vigiar, de perto, daí os piquetes, o cumprimento da greve, para que esta não ultrapasse os limites (mesmo as urgências definidas ad hoc, por Médicos), sem a presença do piquete, que também pode ajudar nessa definição.

4 - Temos informações seguras de que muitos dos contribuintes para o bolo compensatório dos 300.000€ foram e são Médicos, o que os dinâmicos promotores do movimento devem agradecer sem surpresa, visto que são os Médicos os grandes beneficiários indiretos do movimento anónimo e "espontâneo" da greve cirúrgica.
4.1 - Para já, estão a receber o salário sem trabalharem;
4.2 - Facilita-lhes as habituais escapadelas pela porta das traseiras, para cuidarem de outros interesses correlatos, baldando-se às cirurgias com direito a culpar os Enfermeiros em greve, pelas baldas médicas.

5 - Enquanto se mantiver a enorme distinção de 12% da Classe Médica do total dos trabalhadores do Ministério da Saúde receber 88% do bolo das remunerações do MS e os outros 88% dos trabalhadores comerem apenas 12% do bolo, cabendo 5%, apenas, a 36% dos trabalhadores, que são Enfermeiros, a guerra continua a desafiar a imaginação dos Enfermeiros.

6 - Por sua vez os Administradores Hospitalares esqueceram as recomendações do seu patrono - Dr. Coriolano Ferreira e aliaram-se aos Médicos, como a experiência demonstra, tendo o cuidado, uns e outros de escolherem Enfermeiros, nem sempre os mais adequados, para administrarem a Enfermagem. O resultado lógico está de acordo com a escolha e com o que se pretende com a pessoa escolhida, para que sejam os Enfermeiros a suportarem os efeitos da falência do SNS.

7 - Finalmente, esta greve foi cair sob a responsabilidade de dois Sindicatos que voavam, à procura de um galho para poisarem, pois era o seu primeiro voo fora do ninho resolveram adotar os sem abrigo, que lhes passaram perto.
A lição aqui fica, para todos nós e vós, que brincais com a situação dos Enfermeiros. Veja-se há quanto tempo a FENSE espera a celebração de um ACT, que pacificaria as hostes e preveniria estes movimentos espúrios, que não se apoiando, nem por isso deixam de ser legítimos, quando as vias normais, são propositadamente desprezadas.
Cabisbaixos, meditemos todos!...
(José Azevedo)



Sem comentários:

Enviar um comentário