terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

FRAGMENTO DA HISTÓRIA REAL DA ENFERMAGEM EM PORTUGAL


Estávamos no dia 15 de março de 1975, ou seja; 4 dias depois de Spínola ter abandonado o cargo e fugido para Espanha de helicópetero - 11/03!1975.
No teatro Maria Vitória, Parque Mayer, Lisboa reuniam os Sindicatos dos Enfermeiros, para prepararem o ataque à tabela salarial dos Enfermeiros, tão esmagada como hoje.
A proposta do Sindicato dos Enfermeiros (N) começava em 5 mil escudos e terminava em 10 mil escudos.
A proposta do Sindicato do Sul e Ilhas, hoje SEP, começava em 2 mil e quinhentos escudos e terminava em 5 mil escudos, onde começava a do Sindicato do Norte.
Governava o General Vasco Gonçalves, como 1º Ministro, que mantinha linha direta disponível com a presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Sul e Ilhas, Maria Jose Viana, assim como mantinha uma milicia de taxis marca Peugeot, com rádio telefone, que patrulhavam as ruas, objetivo principal da cooperativa que os congregava. Também transportavam passageiros, que ouviam as chamadas da central.
Era um sábado e às 21 horas eu tinha de presidir a uma Assembleia Geral, no Porto.
À entrada para a reunião, foram distribuídos uns documentos. A mim não distribuíram o comunicado nº5, onde me acusavam de "habilidoso defensor do SNED" - (Sindicato Nacional dos Enfermeiros Diplomados); que foi uma experiência de tentativa de Sindicato Único, ideia dos Enfermeiros lisboetas, comandados pela Ana Sara Brito e apoiados nessa ideia pelo Ministro do Trabalho, de então Marcelo Curto, que registou o referido movimento elitista.
Como não devia haver, na época alguém que detestasse esse movimento, sobretudo contra a promoção dos Auxiliares de Enfermagem , do que eu, a presidir à Comissão Nacional que os promoveu, criada em 17/02/1975 - portaria 107/75, quando o Enf.º Barceló me mostrou o comunicado nº 5, que me fora negado, dei um salto da cadeira, retirei o microfone a mão do Gamito, que mentia descaradamente e declarei, depois de apresentar um por um dos participantes, na Mesa e esclarecer os seus papéis na circunstância atual, que ia abandonar a sala e que ninguém tentasse agredir-me para não ter de comer um rádio que usava, ao ombro, para ouvir a BBC, estação de informação segura, na época.
Fora da sala, encostado à parede, por precaução, deu-se o milagre de mais de metade da assistência ter saído, a seguir a mim, para me apoiar e garantir que estavam comigo.
Quinze dias depois, foi convocada uma Assembleia Geral para o Hospital de D.ª Estefânia, porque o Enfº Pacheco, professor na Escola de Reabilitação do Alcoitão, e que fazia parelha comigo nas reuniões do Ricardo Jorge/Departamento de Ensino de Enfermagem/INSA/DEE, dado a Escola Caloust Gulbenkian, por exemplo, chegou a estar entregue ao psicólogo José Gabriel e à encarregada da biblioteca da escola, saneada a Diretora a professora Moniz Pereira, tudo em defesa da escolas, Pacheco que pediu a demissão da Direção do hoje SEP, discordando da forma pouco decente como alguns colegas da Direção, que integrava, me trataram, na reunião de 15 de março/1975.
Do fundo da sala, outro Pacheco, Chefe nos Hospital de Santa Marta, militante do MRPP, fez a seguinte proposta, perguntando: e se nós demitíssemos, também os outros?
Posta à votação a Direção do Sindicato Nacional dos Enfermeiros do Sul e Ilhas (Açores só), foi destituída e substituída por uma Comissão Diretiva presidida pelo Pacheco, Enf.º Chefe do Hospital Santa Marta, em Lisboa.
E, a partir daí, tudo mudou.
Foi graças ao trabalho destes excelentes dirigentes, que podemos montar a greve, que viria a ter lugar em 1976, aos dias 12 de março, que acabou 15 de março, tendo como ameaça, a 1ª requisição civil dos Enfermeiros da Zona Sul.
E a nossa proposta salarial de 5 a 10.000$00, foi a que venceu.
Lembro com muita SAUDADE as palavras repetidas do Pacheco, militante do MRPP: «nem fascismo nem social-fascismo: poder popular».
E por aqui chego ao Arnaldo Matos que foi um dos principais obreiros, não obstante a sua militância limitada, nas reivindicações e greve dos Enfermeiros.

" A História repete-se sempre, pelo menos, duas vezes. disse Hegel. E Karl Marx acrescentou ...a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa-comédia... " - Friedrich Hegel e karl Marx.



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