domingo, 26 de abril de 2015

MÉDICO COM VISÃO...


[.......penso ser consensual que os dois grupos que mais interagem com os pacientes e entre si são os médicos e os enfermeiros.
A relação entre estes dois grupos tem sofrido evoluções ao longo do tempo mas pauta-se ainda por desequilíbrios diversos, com origens diversas, que geram uma percepção enviesada das competências de cada um e, por consequência, afectam toda a cascata de comunicação. Quem é o principal prejudicado neste processo? O doente. 
{Prejudicados são todos: Enfermeiros, Médicos, Doentes e só uma besteira é que sai engrandecida e os responsáveis não estão, assim tão ocultos, porque se manifestam, em cada gesto que o comportamento enfermeiro se afaste do que eles pensam acerca de... - JCA}
Pessoalmente, nunca consegui compreender as dificuldades de relacionamento entre profissionais que exercem a sua função na saúde, que têm como missão central proporcionar bem-estar aos doentes e que se complementam na perfeição no exercício das suas actividades diárias. 
{ A culpa é dos Enfermeiros, que não exercem uma ação pedagógica corretiva de desvios comportamentais médicos. Pessoalmente, quando estava na linha da frente exerci essa atitude pedagógica, com ótimos resultados, que iniciei, 15 dias, após a minha entrada no HSJoão. Estando a assistir, de perto o cirurgião de elevada competência, mas humano, atingiu-me num pé, com uma tesoura, e magoou-me. Era moda o cirurgião, quando a coisa não corria a seu jeito, descarregar a sua carga nervosa atirando com pinças e tesouras ao chão...
Manifestei a minha dor e desilusão, atirando com a referida tesoura contra o negatoscópio, existente numa das paredes da sala, cujo vidro se partiu, com o embate. Os maus como os bons exemplos, sobretudo estes, são de imitar. Mas avisei, que numa repetição do gesto, com as mesmas ou consequências parecidas, acertaria a pontaria e devolveria o gesto, humanamente.
O distinto professor, pediu-me desculpa e garantiu que a cena não iria repetir-se. 
E cumpriu, porque reflectiu, a partir das minhas observações, que uma pessoa da sua craveira profissional, não precisa de exteriorizar atitudes selvagens, quando as coisas não estão a correr de feição.
E ficamos amigos leais, enquanto viveu! - JCA}
Por um lado, vejo os médicos a encararem os enfermeiros como seus subordinados, a quem não devem explicações, exigindo somente a execução de gestos de enfermagem de uma forma acrítica e não modulada por critérios clínicos. Por outro lado, vejo na Enfermagem um sentimento de frustração e de revolta face aos médicos, por considerarem que estes dedicam menos tempo aos doentes, que não os envolvem nas decisões terapêuticas e por se sentirem menosprezados por eles. E pior do que isso, este clima de conflito é estimulado desde a Faculdade, onde os alunos são logo formatados para verem nos outros grupos não parceiros mas “seres” diferentes de quem se deve desconfiar…
{ É um dos factores responsáveis pela pesporrência ou jactância ou prosápia médica (de médicos), a formatação que recebem na faculdade de Medicina, de acordo; 
Mas o mais responsável factor, nesta formatação besta, irracional, é a outra formatação dos Enfermeiros, na sua faculdade de Enfermagem, que ainda não assimilou, na prática, o seu estatuto universitário, para formatar adequadamente, os Enfermeiros para as circunstâncias, com que se vão confrontar, na prática, sendo uma delas a bestialidade dos seus mais diretos e próximos parceiros; os Médicos, apesar de serem, com os Doentes, os maiores usufrutuários da complementaridade enfermeira, aliás, muitas vezes, mais do simples complementaridade: essencialidade. - JCA} 
As actividades exercidas por médicos e por enfermeiros são, obviamente, distintas mas são absolutamente complementares. Os gestos que cada um executa e o modo como são executados são centrais para o sucesso terapêutico. Essa complementaridade está bem patente nos blocos operatórios, nos cuidados intensivos e estende-se aos cuidados prestados em regime de internamento e nos cuidados ambulatórios.
{ Mais uma vez, uma boa dose das culpas deste conceito de complementaridade ser distorcido, pelos Médicos, de menor craveira, no seu real significado bipolar, porque funciona, igualmente, nos dois sentidos; as culpas são mais uma vez e, maioritariamente, dos Enfermeiros, porque, sendo formatados por pessoas subservientes, Mestres e Chefes), também eles herdeiros vítimas duma "sem liberdade mental e de pensamento universitário", nem se apercebem do verdadeiro significado de complementaridade, ainda que sendo o fulcro dessa complementaridade circunstancial, o próprio Enfermeiro e, naturalmente, porque detém a máxima proximidade do Doente e de informação sobre a sua situação, sem se aperceber, sequer, do valor que estão a dar aos seus registos da observação, que fazem, parasitando-os.
Quando uma Chefe Enfermeira solicita a intervenção de um Médico para atender um telefone, que requer a informação do estado duma Doente, e este, porque a Doente, em causa, não lhe está afecta, se limita a informar o que dizem os registos da Enfermeira, no processo clínico (criado, aliás, por Folrence Nightingale), algo está errado, não só na complementaridade, como no dever de ofício:coisa estranhas do dia-a-dia.- JCA} 
A forma como médicos e enfermeiros encaram cada paciente é diferente e é nessa diferença que está toda a sua riqueza. O percurso académico e o programa curricular dos cursos de Medicina e Enfermagem preparam cada profissional de modo distinto, com objectivos bem definidos e, numa segunda fase, cada médico e enfermeiro tenderá a seguir o seu caminho em direcção a uma determinada especificidade ou especialização. Mas, inevitavelmente, esses caminhos ir-se-ão sempre cruzar porque é suposto que tal aconteça......] (Fonte - Jornal O Médico).
{ Concluindo, uma coisa inconclusiva, destas aberrações bem vistas por um Médico de visão e oftalmologista, o maior prejudicado não é o Doente, mas sim o Enfermeiro:
1 - Foi retirado da administração dos Serviços de saúde, por exigência e estupidez médicas, quando é a Enfermagem que tem mais problemas de administração, dada a especificidade da sua função;
2 - É mal informado, mal dirigido, mal chefiado, constantemente, por deformação servil de quem o dirige e chefia;
3 - Vive num ambiente deprimente, tanto quanto a bacoquice médica dos incompetentes e falhados, que não sendo capazes de serem Médicos, se frustram espezinhando os seus mais directos e fiéis parceiros, que nem se apercebem, sequer,  do seu real valor, por pecados originais de uns e de outros.
Quando o Dr. António Salazar, a que os sábios, que temos, classificam de ditador, disse; «Se soubesses quão  difícil é mandar, passavas a vida inteira a obedecer»;
Quando o simplório, mas sábio, Tino de Rans disse; « Se o meu Chefe me der uma ordem e eu não a cumprir: o meu Chefe não manda nada...».
Quando penetrarmos a essência destes dois pensamentos, atingimos a maturidade, para enfrentarmos o vilão que há, em cada um de nós. Para conhecermos bem uma pessoa é dar-lhe poder (emissor e recetor, convenhamos). É o poder que está em causa, não para a melhor funcionalidade de um Serviço, mas para manutenção de um estatuto de profissional liberal, numa situação de trabalhador por conta de outrem não ou mal assimilada.
«Se queres ver o que é um vilão, mete-lhe uma vergasta na mão» Neste caso a vergasta é o símbolo do tal poder que empanturra maus administradores detentores de poder que não entendem, na sua pureza original. Ai de quem os contrarie! - JCA}.
 Isto é:
{Mas um velho de aspecto venerando,/
Que ficava nas praias, entre a gente,/
Postos em nós os olhos, meneando/
Três vezes a cabeça descontente,/
A voz pesada um pouco alevantando,/
Que nós no mar ouvimos claramente,/
C'um saber só de experiências feito,/
Tais palavras tirou do experto peito:/

- «Ó glória de mandar! Ó vã cobiça/
Desta vaidade a quem chamamos fama!/
Ó fraudulento gosto que se atiça/
C'ua aura popular que honra se chama!/
Que castigo tamanho e que justiça/
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,/
Que crueldades neles experimentas!} (in Lusíadas - canto 4º - estrofes 94 e 95)




Com amizade,
José Azevedo

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