segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

NOTÍCIAS











Hospital Privado de Gaia abre hoje após 

investimento de 50 milhões de euros

Projecto do Grupo Trofa Saúde conta com 100 camas e quer chegar às 3000 cirurgias e 150 consultas no primeiro ano de actividade.
A unidade quer dar resposta às carências do município DR






A partir desta segunda-feira a zona norte do país conta com mais uma unidade privada de saúde, com a inauguração do Hospital Privado de Gaia, do Grupo Trofa Saúde. O mais recente projecto do quarto maior grupo de saúde em Portugal representa um investimento de 50 milhões de euros nas instalações que vão disponibilizar “serviços de ambulatório/consultas, com 43 especialidades disponíveis em horário alargado, bloco operatório, internamento, cuidados intermédios e intensivos, bloco de partos e análises clínicas”. “Por muito que as pessoas não queiram dizer, a saúde é um mercado apetecível e situámo-nos naturalmente num sítio onde há necessidades, com uma cobertura privada ainda insuficiente e com um Serviço Nacional de Saúde deficitário”, resumiu ao PÚBLICO o administrador do grupo, Artur Osório.
Nesta fase inicial, o Hospital Privado de Gaia arranca com um total de 100 camas, 73 consultórios e 35 salas de exames e tratamentos, mas a ideia é expandir esta oferta, agora distribuída por 11 pisos localizados no Lugar da Barrosa, uma zona central de Gaia. Segundo Artur Osório, “o projecto vem dar resposta à crescente procura de serviços de saúde privada na zona a sul do Porto, nomeadamente Gaia, Espinho, Arouca, Ovar, São João da Madeira e Aveiro Norte”. Além das especialidades médicas, a unidade disponibiliza outros serviços como “acupunctura, nutrição, osteopatia, podologia, psicologia, psicologia da infância e da adolescência, terapia da fala”. Se tudo correr bem, a ideia é fazer 3000 cirurgias e 150 mil consultas no primeiro ano.
O grupo Trofa, com 15 anos de existência, faturou um total de 90 milhões de euros em 2013 e as contas não fechadas de 2014 apontam para os 100 milhões. A ideia é chegar ao final do ano com um aumento para 110 ou 120 milhões, adiantou Artur Osório, lembrando as outras unidades no norte do país com que contam: Hospital Privado da Trofa, Hospital Privado da Boa Nova, Hospital Privado de Alfena, Hospital Privado de Braga, Hospital de Dia de Famalicão, Hospital de Dia da Maia e Instituto de Radiologia Dr. Pinto Leite. Ao todo, com a inauguração de Gaia, somam mais de 500 camas. Apesar das 100 camas agora abertas, a unidade de maior dimensão continuará a ser o Hospital Privado da Trofa, com 112 camas. O futuro passa por uma expensão para Lisboa e “para países de expressão portuguesa”.

Hospitais públicos perdem quase 700 camas num ano e privados 
ficam com 30% do total

Capacidade de internamento dos hospitais privados é neste momento igual a metade da que existe no Serviço Nacional de Saúde. Sector já faz 13% das urgências de todo o país, 30% das consultas e 20% dos internamentos.
O número de camas por 100 mil habitantes em Portugal é inferior à média da União Europeia NELSON GARRIDO
Com a progressiva redução de camas nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde e a expansão e inauguração de mais unidades privadas, 30% das camas disponíveis para internamento nas instituições de saúde de todo o país estão já nas mãos do sector privado, que consegue ter agora o equivalente a metade da capacidade de resposta dos hospitais públicos. De acordo com os dados da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP), os seus hospitais contam com mais de 9000 camas e os números da Administração Central do Sistema de Saúde apontam para que o sector público somasse em Setembro do ano passado uma lotação de 20.857 camas, quando em igual período de 2013 tinham 21.546 – o que corresponde a uma quebra de 689 vagas no espaço de um ano.
O presidente da APHP confirma ao PÚBLICO que “todos os parceiros privados registaram um crescimento assinalável em 2014” e atribui parte da oportunidade de melhoria “às reformas que o Serviço Nacional de Saúde sofreu”. No entanto, para Artur Osório, o sucesso da oferta privada deve-se, sobretudo, a uma conjugação de palavras: liberdade de escolha. “O cidadão hoje é cada vez mais cioso de poder decidir e de não estar sujeito às redes definidas”, diz, numa altura em que como também presidente do Grupo Trofa Saúde se prepara para inaugurar nesta segunda-feira mais uma unidade com 100 camas: o Hospital Privado de Gaia. Do lado dos profissionais de saúde, considera que o comportamento também é diferente quando estão nas unidades privadas, “pois são vistos como parceiros e o efeito da cenoura ainda é importante e estimulante”.
Em termos globais, os dados de 2014 ainda não estão fechados e a recolha dos números “precisa de ser afinada”, mas a APHP estima que o sector privado conte já com 50 unidades com categoria de hospital e mais de 100 se incluirmos os hospitais sem internamento. Entre os maiores grupos de saúde do país está a José de Mello Saúde com 1430 camas, seguida pela ES Saúde com 1179 camas, a Lusíadas Saúde com mais de 740 e o Grupo Trofa Saúde, que passa a partir desta segunda-feira a deter mais de 500 camas.
No total, somada toda a actividade privada, o sector já atende um milhão de urgências por ano (o que corresponde a 13% do total do país), dá mais de cinco milhões de consultas (30% do global do país), interna 200 mil doentes (quase 20% do total) e gera uma facturação na ordem dos 1,5 mil milhões de euros anuais. No entanto, no que diz respeito ao número de camas, Artur Osório ressalva que nem todas estão abertas e que a oferta é ajustada à procura em cada momento. “Ao contrário do sector público nós abrimos as camas em função da procura, de forma gradual, o que torna tudo mais racional. O ambulatório começa a funcionar em pleno muito mais cedo e o internamento é sempre gradual no crescimento”.
A presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares, Marta Temido, ressalva que “a capacidade de resposta dos serviços de saúde cada vez menos deve ser avaliada à luz do número de camas disponíveis”, sobretudo tendo em consideração que há efectivamente cada vez mais procedimentos feitos em ambulatório e sem recurso a internamento do doente. Para Marta Temido o olhar deve concentrar-se nas “ofertas a montante e a jusante”, isto é, nos cuidados primários de saúde e na oferta de cuidados continuados – e é nestes campos que considera que a resposta pública pode ser melhorada para retirar pressão desnecessária dos serviços hospitalares.
Ainda assim, a administradora hospitalar alerta que a redução de camas nos hospitais públicos, na ordem das quase 700 no período de um ano, tem “sido uma mera resposta a razões economicistas”, insistindo que as camas de agudos que estão a ser fechadas nem sempre são as que estavam de facto a mais, lamentado que com estas falhas o sector privado acaba por sair favorecido, “como se vê pelo consecutivo aumento do número de camas”. Marta Temido lembra também que, neste campo, Portugal conta com menos camas que outros países. Aliás, de acordo com os dados da OCDE, o país tinha em 2011 um total de 337,9 camas por cada 100 mil habitantes, quando na média da União Europeia o valor estava nas 535,2. A liderar a tabela surgia a Alemanha, com 829,9 camas por cada 100 mil habitantes, seguida pela Áustria e Bélgica. Na causa da tabela surge a Irlanda, Reino Unido e Suécia, esta última com pouco mais de 270 camas.

ENTREVISTA < CLIQUE >
NTREVISTa
"Há um enorme crescimento do número de doentes com problemas sociais nos hospitais"
  
2/01/2015 - 07:17Para o problema das urgências, há soluções que são estruturais, mais difíceis e demoradas, e outras que são mais simples, defende Luís Campos.

MIGUEL MANSo
O recurso às urgências hospitalares continua a ser excessivo em Portugal e o caos nas urgências é um problema cíclico, não sendo um exclusivo português, mas podia ser minorado com algumas medidas, acredita Luís Campos, presidente do Conselho Nacional para a Qualidade em Saúde, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna e autor do “Roteiro de Intervenção em Cuidados de Emergência e Urgência”, apresentado no final de 2014, no âmbito duma avaliação do Plano Nacional de Saúde. “Este é um problema complexo e, como tal, não tem uma receita milagrosa”, avisa

Fez parte de uma comissão que delineou a reforma das urgências em 2008. Presume-se que o vosso trabalho visava, entre muitos objectivos, que as situações de caos vividas ciclicamente nas urgências não fossem tão frequentes nem tão extremas. Por que razão é que se continuam a repetir, de ano para ano?

As urgências são a confluência dos problemas de saúde e sociais das pessoas com todas as disfunções do sistema de saúde, mas, ao mesmo tempo, respondem de forma eficaz, resolvendo ou encaminhando  os problemas das pessoas. A situação actual representa, acima de tudo, o arrastar de um problema que é cíclico, é complexo e, como tal, não tem uma solução milagrosa ao virar da esquina, exigindo uma resposta sistémica para as suas múltiplas causas. Existem algumas medidas simples que o poderiam atenuar.
Mas a situação não está pior do que num passado recente?
O agravamento dos problemas de saúde das pessoas, que ocorrem necessariamente em todos os povos que empobrecem, e as restrições no Serviço Nacional de Saúde (SNS) ditadas pela crise económica, que têm dificultado a capacidade de resposta, estarão seguramente a contribuir este ano para a agudização deste problema, mas parece-me abusivo dizer que toda a culpa é da crise assim como afirmar que se deve ao colapso do SNS.

A reforma das urgências não devia ter prevenido este tipo de situações? Será porque não foi concretizada?

A nossa reforma foi implementada na sua quase totalidade mas não poderia prevenir o actual problema das urgências porque foi essencialmente uma reforma estrutural. Os objectivos da reforma de 2008 foram a redefinição da rede de urgências, de forma a melhorar o acesso a este tipo de serviços, a equidade nesse acesso e a qualidade da assistência, garantindo que os hospitais ou centros de saúde tinham capacidade de resposta para o nível de urgência que neles estava sediada. Esta reforma foi, além disso, quem definiu, na prática, a actual configuração da rede de hospitais agudos, levando a uma concentração desses hospitais, que passaram dos 73 para os atuais 41. Com a proposta complementar de 45 Serviços de Urgência Básica, dos quais estão a funcionar 41, conseguiu que mais de 90% da população esteja a menos de meia hora de qualquer ponto de urgência.
Mas então o problema actual é de excesso de procura das urgências ou de diminuição da capacidade de resposta?
O número de urgências não tem aumentado ao longo dos anos, ao contrário do que tem acontecido noutros países europeus, embora continue excessiva. Aumentou apenas no Inverno, embora não mais do que no Inverno passado. No entanto, a gravidade dos doentes tem aumentado nos últimos anos e também o número de internamentos. Este ano assistiu-se a uma menor capacidade de resposta, o que é preocupante porque ainda não estamos sequer em pico de gripe.

Porque é que diz que é excessivo o recurso às urgências e como é que explica esse excesso?

Na realidade, cada 10 portugueses vão, em média, seis vezes por ano a uma urgência hospitalar. Em Inglaterra, por exemplo, apenas vão três vezes. Além disso, em Portugal, 40% dos casos podiam ser resolvidos nos cuidados primários. Para isto contribui um milhão de pessoas sem médico de família, maior dificuldade de acesso ao médico nos centros de saúde que não foram abrangidos pela reforma hospitalar, ausência de outros especialistas ou acesso a exames complementares nos centros de saúde. Mas também existe falta de alternativas nos próprios hospitais, que não estipulam vagas nas consultas para doentes não programados nem fazem um aproveitamento pleno dos hospitais de dia. Depois, a falta de uma resposta integrada proactiva aos doentes crónicos, particularmente aos mais frágeis, idosos e com muitas co-morbilidades, que são os grandes frequentadores das urgências e consomem mais de metade dos recursos da saúde. Finalmente, uma pequena percentagem de doentes dirige-se às urgências apenas por razões de proximidade, ou por conveniência de horário, porque não querem nem podem faltar ao emprego.

Mas disse também que existe uma diminuição da capacidade de resposta. É por falta de médicos?

As limitações nas contratações terão afectado muitos hospitais mas também a diminuição do pagamento das horas extraordinárias tem desmotivado muitos profissionais para a prestação do serviço de urgência, um trabalho altamente exigente em termos físicos e emocionais. Aliado a isto está o recurso a internos, médicos indiferenciados ou mesmo médicos contratados às empresas, que caem nos bancos “de pára-quedas”, a que as equipas fixas recorrem, tendo diminuído os médicos mais experientes na linha da frente. Este facto diminui a capacidade de decisão na área de maior risco na urgência e aquela em que a experiência e competência dos médicos pode acelerar mais os fluxos e diminuir o erro. Mas a acumulação de doentes na urgência por falta de vagas nas enfermarias, mobilizando grande parte de capacidade da equipa que está na urgência, é também uma das causas mais importantes.

Charlie Hebdo 'Mentor' que radicalizou Kouachi agora é... enfermeiro
“Um aluno estudioso e discreto”. É desta forma que os colegas de Farid Benyettou, no hospital Pitié-Salpêtrière, o descrevem. E quem é Farid? Este aluno de enfermagem está a fazer um internato neste hospital, que recebeu vítimas do ataque ao Charlie Hebdo. Anos antes, conta o Le Parisien, foi condenado por associação criminosa. Entre os seus conhecidos contam-se os irmãos Kouachi.

MUNDO
'Mentor' que radicalizou Kouachi agora é... enfermeiro
DR

O Le Parisien dá conta de um volte-face curioso envolvendo o ataque à redação do jornal satírico Charlie Hebdo. Farid Benyettou, o antigo 'emir' (comandante, em árabe) que ajudou um dos irmãos Kouachi a radicalizar-se é atualmente um enfermeiro no hospital Pitié-Salpêtrière, uma enorme unidade de saúde que na quarta-feira recebeu feridos do ataque ao Charlie Hebdo.
Nascido a 10 de maio de 1981, Farid (à esquerda na imagem acima) chegou a ser presença regular na mesquita Adda'wa. No início dos anos 2000 conheceu os irmãos Kouachi, em particular Chérif, um dos atacantes, a quem terá professado a sua mensagem radical. Farid chega mesmo a ser descrito como mentor. Em 2008, foi condenado por associação criminosa por liderar a célula Buttes Chaumont.
Conta o mesmo jornal francês que, depois de ter sido libertado em 2011, Farid viria a ingressar no curso de enfermagem no ano seguinte. No início do mês passado integrou o Pitié-Salpêtrière, onde está a fazer o internato em enfermagem.
Farid não foi escalado para trabalhar na quarta e quinta-feira, mas terá voltado ao serviço para um turno na passada sexta-feira. Entre os colegas, o espanto é grande, escreve o Le Parisien.
Com um passado ligado ao radicalismo islâmico, além da relação que construiu com um dos homens que entrou de metralhadora em punho na redação do Charlie Hebdo, Farid tornou-se agora assunto na imprensa francesa. Os colegas, apesar da surpresa, descrevem-no como um “aluno estudioso e discreto”.

É só aparato!

Sem comentários:

Enviar um comentário