sexta-feira, 4 de setembro de 2015

ANESTESIOLOGIA; UM ESPARTILHO NA SAÚDE

Anestesiologia do Hospital de Braga: informação ao público31-08-2015
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Face às notícias que reiteradamente têm vindo a público e relativas a uma falta de Médicos Anestesistas no Hospital de Braga, obrigando ao cancelamento de cirurgias e outros actos médicos programados, urge informar que:
O Serviço de Anestesiologia conta com 39 especialistas e 3 internos do último ano com funções assistenciais equiparadas, mais internos mais novos que exercem funções assistenciais. Destes 39, 4 estão em licença de maternidade e 1 em comissão de serviço como Director Clínico noutra unidade hospitalar. Existe ainda uma médica reformada contratada a 20 horas por semana. Os horários praticados são, na maioria, de 40 horas semanais.
O Bloco Operatório do Hospital de Braga conta com 11 salas em rotina diariamente de segunda a sábado, mais uma sala para casos urgentes e uma outra sala num bloco periférico de obstetrícia para cesarianas urgentes. Dá apoio a serviços complementares: Imagiologia e gastroenterologia com carácter habitual e outros excepcionalmente. Diariamente há 4 especialistas em apoio ao Serviço de urgência, dos quais 1 para o serviço de obstetrícia e outro para uma unidade especializada de cuidados pós-operatórios prolongados. Os seus especialistas exercem ainda actividade em consulta externa, Dor Crónica, controlo de dor aguda pós-operatória, recobro anestésico e formação médica.
Portanto, o número de especialistas necessários diariamente para um exercício sem falhas assistenciais ronda os 23 a 25, dependendo da necessidade para postos assistenciais não habituais.
Contando com a colaboração de internos em fases menos avançadas e internos do último ano, a força de trabalho para toda a actividade ultrapassa as 45 pessoas.
Descontando os elementos em saída de urgência e, neste momento, os elementos de baixa por maternidade, o número de médicos disponíveis para trabalhar é praticamente o dobro dos necessário diariamente.
Não podemos falar, então, em carência de anestesistas!
Mas então como se justifica que haja falhas?
Os Médicos Anestesistas do Hospital de Braga sempre trabalharam para lá dos seus horários de base. Trabalham em horas extraordinárias em apoio ao serviço de urgência, com os cortes nos valores que são do conhecimento geral e nunca recusando fazê-lo mesmo que a isso tivessem direito e a penosidade do trabalho em horas incómodas assim o convidasse (noites, fins de semana e festas de grande importância pessoal, etc). Trabalham também em produção cirúrgica rotineira com um contrato entre o serviço e a administração que foi estabelecido há já cerca de 5 anos, e que também viu os seus valores reduzidos por imposição da administração.
Não se entende, assim, como se pode falar em falta de médicos anestesistas quando o número de médicos é o dobro do necessário e quando os médicos sempre cumpriram com a sua palavra. Onde poderá então estar o problema?
Sabe-se que a relação entre a maioria dos Médicos Anestesistas do quadro de pessoal do Hospital de Braga e o actual Director de Serviço não é a melhor, fruto de dificuldades de relacionamento pessoal e de criação de consensos por parte deste responsável, pouco conducentes à criação de um clima e ambiente de trabalho propiciadores do diálogo e da colaboração incondicional.
As políticas de gestão também podem levar chefias a decisões de legalidade duvidosa e de prepotência… e no caso do Serviço de Anestesiologia, não havendo um horário de trabalho estabelecido oficialmente e publicado em local visível como manda a Lei, tal serve para a ameaça de disposição arbitrária do dia de trabalho dos seus médicos, provavelmente em função das necessidades que advenham da existência ou não de médicos externos para cobrir necessidades. Inverte-se aqui toda uma lógica saudável de organização interna, privilegiando uma navegação à vista, uma política frágil de resolução caso a caso de problemas de funcionamento que vão surgindo, em detrimento de uma sistematização na organização que envolva os seus médicos, aqueles de quem toda a estrutura verdadeiramente depende, e com os quais existe um vínculo de responsabilidade.
Naturalmente os médicos não colaboram num quadro de caos como este.
Naturalmente surgem falhas numa organização que não privilegia os seus elementos.
E naturalmente também os problemas internos vêm a público... há sempre um utente mais bem informado, mais atento, mais consciente dos seus direitos, que reclama e faz estalar o verniz. Por mais que os enganem, como lhes contarem que há greves de anestesistas, etc, as pessoas sabem bem que isso pode não ser verdade. Que o problema está a outro nível, e não nos médicos que trabalham. 



NB: Das falsas questões a da anestesiologia é uma das mais falsas e o problema só não se resolve, porque resolvê-lo significa quebrar o filtro parecido com o da carraça no ouvido (ver a história do otorrino que vivia da carraça, no ouvido do cliente e que o filho, também médico, aproveitando as férias do pai, extraiu com satisfação pessoal e profissional, que o pai reprovou, mandando-o comer, agora, da carraça morta...).
Estava eu como director enfermeiro no Hospital de São João.
O Prof. Amarante, então director da Faculdade de Medicina, grande Cirurgião Plástico e com qualidades pessoais e humanas muito próprias, ensaiou comigo a possibilidade de a maior parte das manobras de anestesia serem feitas por Enfermeiras de Anestesia, como via fazer em França onde se especializou.
Tudo isto para  rentabilizar as capacidades das cirurgias do seu serviço e de todos os outros limitadas pelo funil natural que os anestesistas criaram e mantêm, para haver sobras que o segundo grupo de companhias de angariação de clientes para os hospitais privados, possam ter  clientes pagos pelo Estado 2 vezes; no hospital público porque o cirurgião não tem sala nem anestesista para operar, mas está pago para não render; no hospital privado, através das comparticipações que vão bater sempre no erário público.
Renasce a esperança de melhores soluções, e louvo a atitude do SIM, que viu com lucidez um problema, que não é de concorrência público-privada, mas, agora, em Braga a concorrência é privado-privada, ao que parece.
Se a Ordem dos Médicos e a Corporação facilitassem as coisas, podiam organizar-se os serviços não para justificar a contratação de mais anestesistas, mas o aproveitamento dos conhecimentos das Enfermeiras Anestesistas, reconhecer-lhes a especialização que detêm, pagar-lhes condignamente e ficarem os Médicos Anestesistas disponíveis para apoio às Enfermeiras Anestesistas.
Não estamos a inventar algo; estamos, apenas, a dizer que países: como a França e os EUA, em muitos do seus Estados resolveram esse problema das anestesias, com uma participação mais interventiva das Enfermeiras.
E não venham com a cantiga da segurança dos clientes e ou da qualidade dos cuidados, pois não estamos a falar de países pouco atentos a estes aspectos, nem de coisas que não se façam, já hoje, nos blocos cirúrgicos, em Portugal. Simplesmente, ninguém contabiliza, nem evidencia essas práticas, porque vem logo o papão da segurança e da competência. Sei bem o que é isso, porque passei pela experiência. Até treinaram uma enfermeira para provocar o enf.º chefe, para depois, se queixar de ser insultada por ele, tudo isto, para inventarem um processo e levarem, na enxurrada, o enf.º director, eu, sendo feitora do processo uma prestimosa jurista, que até virou juíza. Na base, estava o desvio  das atenções, pois o presidente do CA é anestesista. Tempos de luta e de boas e gratas memórias.  
Nos EUA, não obstante, até há Advogados ou seus colaboradores a angariar serviço, à porta dos Hospitais.
E Portugal, só não aperfeiçoa o método, que já funciona, aliás, por questões de índole corporativista, prejudicando tudo e todos, como é facílimo de contabilizar.
Já nem é preciso lápis ou pena, basta usar a calculadora do telemóvel ou computador distribuídos.
Pode ser  que com a ajuda do SIM, se reduza o chorrilho de falsas questões e de necessidades artificiais, com que os cirurgiões, se debatem, há muitos anos.
Com uma restruturação do género (e se precisarem do método eu forneço-o, gratuitamente), lá se vai o SIGIC e afins.
Mas vale a pena tentar, pelo conforto para os doentes e pela destruição da fauna predadora, que se alimenta das angústias de quem sofre as consequências da sua doença e as formas como se agrava, para os fins convenientes.
Há quem não aprecie estes reparos meus; pensem quais as causas do seu desagrado.
Se tivéssemos ministros que não fossem só barras em números e borras noutras áreas, era fácil regular esta matéria tão sensível, entre outras.
E as Ordens Profissionais, incluindo a dos Médicos têm o principal papel de defender o Povo dos comportamentos desviantes dos Membros que tutelam e regulam, neste caso, os Médicos anestesistas.
Não façam mais reformas inúteis; aproveitem os desaproveitamentos, sem direito a percentagens de patente. Há quem faça isso com eficácia sem mais encargos.
E porque estamos a falar de administração de serviços, não confundam; IDALBERTO, com ADALBERTO. O 1º é autor de um manual muito bem feito de teorias de administração clássicas; o 2º é prof. convidado da escola de Telheiras, onde se confunde a eficiência com a eficácia, coisa que Idalberto explica muito bem. 

Com amizade e bom senso
José Azevedo

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