domingo, 10 de junho de 2018

AINDA A PROPÓSITO DA GREVE ÀS HORAS EXTRA




A PROPÓSITO DO DECRETO DA GREVE ÀS HORAS EXTRAORDINÁRIAS

A partir de 1 de julho p.f. a FENSE decretou greve às horas a que impropriamente convencionaram chamar “EXTRAORDINÁRIAS”.
Para nós, só são extraordinárias, porque estão fora da ORDEM LEGAL, que o Governo tem para fazer horários de Enfermeiros:
1 – Horário Acrescido, com 42 horas semanais e mais 37% do vencimento base, só aplicável a voluntários - (art.º 55º do DL 437/91de 8 de novembro);
2 – Horário Normal, com 35 horas semanais e dois descansos consecutivos - (art.º 56º do DL 437/91 de 8 de novembro e ainda, superiormente caucionados, pela Convenção nº 149/81 da OIT – Decreto 80/81 de 23 de junho).
Hoje, os horários dos Enfermeiros já são a maior BANDALHEIRA de que há exemplo, na nossa história de Enfermeiros nacionais.
E vamos pôr termo a essa COISA, custe o que custar e a quem custar.
Nem todos se apercebem das reais deficiências do SNS e não somos, somente, nós que temos de as estudar, enquanto fenómenos (coisas visíveis a olho nu), pois o nosso dever é; minimizar os seus efeitos nefastos, nos Enfermeiros, que representamos, note-se.
Michel Foucault, na sua obra “Arqueologia do Saber”, classificou de EPISTEMES os PARADIGMAS, que determinam a nossa vida, no PENSAR e no AGIR.
Deu como exemplo o D. Quixote, obra genial de Cervantes, na qual o Cavaleiro via o mundo real através do Paradigma ou Episteme da ANALOGIA (que determinava - Deus fez o Mundo; é só descobrir o sentido mais adequado para O encontrar, na Natureza), quando, já vigorava outra EPISTEME – a da CIÊNCIA, onde imperava a mathesis universalis: o quadro, o esquema, a cartesiana, etc..

São 3 as Epistemes da Saúde, antes e durante o SNS:

1 – A da ASSISTÊNCIA – por Caridade e Amor ao Próximo, financiado pelos cortejos de oferendas e as Misericórdias a executar a ASSISTÊNCIA, isto nos casos em que não possuíam a leirinha e a vaquinha, no mínimo;

2 – A da PREVIDÊNCIA SOCIAL, que se desenvolve com as Corporações que têm poder para criarem a sua CAIXA DE PREVIDÊNCIA, onde o Cidadão e sua família é BENEFICIÁRIO de um direito, que compra, em colaboração com o Patrão;

3 – A da DEGURANÇA SOCIAL, que engendrou o SNS, em que a SAÚDE é um DIREITO UNIVERSAL, tendencialmente gratuito.
Aqui chegados, convém referir que há países, que contratam Enfermeiros para substituírem Médicos, mas em Portugal, muito pelo contrário, contratam-se + e + Médicos, não para substituírem Enfermeiros, mas para os sobrecarregarem, ainda mais e para os verem trabalhar, por cima das janelas dos computadores.
Neste contexto de culpas mútuas, pois se os Médicos são assim; é porque os Enfermeiros são assado, impõe-se-nos lutar pela atualização dos Paradigmas ou Epistemes pensantes/atuantes.
Não é possível PENSAR E/OU ATUAR, DE ACORDO com a Episteme da ASSISTÊNCIA, numa época em que vigora a da SEGURANÇA SOCIAL.
Porquê?
Porque na Episteme da ASSISTÊNCIA o Médico era um Profissional Liberal, que trabalhava por conta própria e, gratuitamente, para a Misericórdia, na mira de catar; desde o pobre, mas ainda com leira e vaca e burro ou cavalo, para assegurar ao Médico a paga dos favores assistenciais gratuitos, à Misericórdia, na sua Profissão Liberal, até “entesarem”. Quando isso acontecia, antes da cura, eram internados, por transferência, nos Hospitais Universitários, onde os cadáveres, até podiam facilitar os estudos médicos.
Já a Enfermeira, Esposa fictícia de Cristo, era Irmãzinha de Caridade e não tinha: nem Salário, nem Sindicato, nem Profissão, mesmo nas Clínicas das “Ordens Terceiras”, onde eram assistidos, antes de os anéis se irem e ficarem só os dedos.
[ Até se criou um ditado: «Vão-se os anéis, mas ficam os dedos» e as mãos livres, para trabalhar, digo eu].
Criou-se o SNS, sustentado pelo Erário Público, que nasce nos nossos impostos:
Médicos e Enfermeiros tornaram-se Profissionais subordinados e pagos por esse Erário Estatal.
Mas, enquanto os Enfermeiros criaram carreiras profissionais próprias, para servirem nos Hospitais Públicos, agora nacionalizados, nossos, mas com renda (sem Misericórdia);
Os Médicos continuaram e continuam a pensar e atuar de acordo com a Episteme perdida (como diria Edgar Morin). Só mudou, com o abandono da agricultura,para Pensão, a ADSE,  a Seguradora, (dona do seguro de assistência), em vez da leirinha e vaquinha, burro ou cavalo.
E os Hospitais, já não são os das Ordens Terceiras, que iam, desde a SS Trindade, aos Santos, Anjos e Arcanjos, da Corte Celestial; são agora as PPP, que escondem as origens das "AÇÕES" da parcela que as inventou, com seguro de vida, pois quando deixarem de alimentar a Episteme perdida o Erário Público, cobre os não lucros.
O fluxo das Misericórdias para as Ordens Terceiras (Hospitais respetivos, entenda-se), chama-se agora da Pública para a Privada, ou seja; da Medicina Pública para a Medicina Privada. O veículo de transporte continua a ser o mesmo e o combustível é o Paradigma perdido, que leva a Classe Médica a ver os Hospitais Públicos, onde os 87% que recebem da massa salarial total do Ministério da Saúde, são iguais (±), às Jaculatórias que recebiam nos Hospitais das Misericórdias, pela Caridade praticada, embora condicionada ao interesse financeiro.
Por isso arrastam como arrastavam os doentes com posses da Pública para a Privada, onde ganham mais numa hora do que num mês da Pública, gabam-se. (que dirão os Enfermeiros e não só)
Já os Enfermeiros viram as suas Carreiras destruídas com a prestimosa ajuda dos I.U., porque a sua percentagem proporcional, dos 13% sobrantes, com a invasão da Administração Escolástica de Telheiras’s School, era elevada e as categorias eram uma ameaça para estas novas Administrações, pela Organização enfermeira, que as enformava, quando era preciso anarquizar, para aumentar o fluxo (Pública-Privada), sem perceberem porquê.
Tudo isto revela que os Médicos tentam retardar o MITO, em que se movem, quando se impõe a RAZÃO, A REALIDADE.
Conclusão:
Os Enfermeiros não são necessários para substituírem os Médicos;
Os Enfermeiros vão sendo necessários para abreviarem o percurso do mito à razão e acabarem com os paradigmas ultrapassados.
Entretanto vão-se divertindo com as Convenções quixotescas, onde os D. Quixotes tentam dar novas formas ao MAIS-DO-MESMO, só que ainda para pior.
A FENSE


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