A PROPÓSITO DO DECRETO DA
GREVE ÀS HORAS EXTRAORDINÁRIAS
A partir de 1 de julho p.f. a FENSE decretou greve
às horas a que impropriamente convencionaram chamar “EXTRAORDINÁRIAS”.
Para nós, só
são extraordinárias,
porque estão fora da ORDEM
LEGAL, que o Governo tem para fazer horários de Enfermeiros:
1 – Horário Acrescido, com 42 horas semanais e mais
37% do vencimento base, só aplicável
a voluntários - (art.º 55º do DL 437/91de 8 de novembro);
2 – Horário Normal, com 35 horas semanais e dois descansos consecutivos
- (art.º 56º do DL 437/91 de 8 de novembro e ainda, superiormente caucionados,
pela Convenção nº 149/81 da
OIT – Decreto 80/81 de 23 de junho).
Hoje, os
horários dos Enfermeiros já são a maior BANDALHEIRA de que há exemplo, na nossa história
de Enfermeiros nacionais.
E vamos pôr termo a essa COISA, custe o que custar
e a quem custar.
Nem todos se
apercebem das reais
deficiências do SNS e não somos, somente, nós que temos de as estudar,
enquanto fenómenos (coisas visíveis a olho nu), pois o nosso dever é; minimizar os seus efeitos
nefastos, nos Enfermeiros, que representamos, note-se.
Michel
Foucault, na sua obra “Arqueologia do Saber”,
classificou de EPISTEMES
os PARADIGMAS, que
determinam a nossa vida, no PENSAR e no AGIR.
Deu como
exemplo o D. Quixote, obra genial de Cervantes, na qual o Cavaleiro via o mundo real através
do Paradigma ou Episteme da ANALOGIA (que determinava - Deus fez o Mundo;
é só descobrir o sentido mais adequado para O encontrar, na Natureza), quando, já vigorava outra
EPISTEME – a da CIÊNCIA, onde imperava a “mathesis universalis”: o
quadro, o esquema, a cartesiana, etc..
São
3 as Epistemes da Saúde, antes e durante o SNS:
1 – A da ASSISTÊNCIA – por
Caridade e Amor ao Próximo, financiado pelos cortejos de oferendas e as Misericórdias a executar
a ASSISTÊNCIA, isto nos casos em que não possuíam a leirinha e a
vaquinha, no mínimo;
2 – A da PREVIDÊNCIA SOCIAL, que
se desenvolve com as Corporações que têm poder para criarem a sua CAIXA DE PREVIDÊNCIA, onde o
Cidadão e sua família é BENEFICIÁRIO de um direito, que compra, em
colaboração com o Patrão;
3 – A da DEGURANÇA SOCIAL, que
engendrou o SNS, em que a SAÚDE
é um DIREITO UNIVERSAL, tendencialmente gratuito.
Aqui
chegados, convém referir que há países, que contratam Enfermeiros para substituírem Médicos, mas
em Portugal, muito pelo contrário, contratam-se + e + Médicos, não para substituírem Enfermeiros, mas para
os sobrecarregarem, ainda mais e para os verem trabalhar, por cima das janelas
dos computadores.
Neste
contexto de culpas
mútuas, pois se os Médicos são assim; é porque os Enfermeiros são assado, impõe-se-nos lutar pela
atualização dos Paradigmas ou Epistemes pensantes/atuantes.
Não é possível PENSAR E/OU ATUAR, DE ACORDO com a
Episteme da ASSISTÊNCIA, numa época em que vigora a da SEGURANÇA SOCIAL.
Porquê?
Porque na
Episteme da ASSISTÊNCIA o Médico era um Profissional Liberal, que trabalhava por conta própria e,
gratuitamente, para a Misericórdia, na mira de catar; desde o pobre, mas ainda
com leira e vaca e burro ou cavalo, para assegurar ao Médico a paga dos favores assistenciais
gratuitos, à Misericórdia, na sua Profissão Liberal, até “entesarem”. Quando isso
acontecia, antes da cura, eram internados, por transferência, nos Hospitais Universitários, onde
os cadáveres, até podiam facilitar os estudos médicos.
Já a Enfermeira, Esposa fictícia de
Cristo, era Irmãzinha
de Caridade e não tinha: nem Salário, nem Sindicato, nem Profissão,
mesmo nas Clínicas das “Ordens Terceiras”, onde eram assistidos, antes de os
anéis se irem e ficarem só os dedos.
[ Até se
criou um ditado: «Vão-se os anéis, mas ficam os dedos» e
as mãos livres, para trabalhar, digo eu].
Criou-se o SNS, sustentado pelo Erário Público,
que nasce nos nossos impostos:
Médicos e Enfermeiros tornaram-se Profissionais
subordinados e pagos por esse Erário Estatal.
Mas,
enquanto os Enfermeiros criaram carreiras profissionais próprias, para servirem nos Hospitais
Públicos, agora nacionalizados, nossos, mas com renda (sem Misericórdia);
Os Médicos continuaram e continuam a pensar e atuar de
acordo com a Episteme
perdida (como diria Edgar Morin). Só mudou, com o abandono da agricultura,para Pensão, a ADSE, a Seguradora, (dona do seguro de
assistência), em vez da leirinha
e vaquinha, burro ou cavalo.
E os
Hospitais, já não são os das Ordens
Terceiras, que iam, desde a SS Trindade, aos Santos, Anjos e Arcanjos,
da Corte Celestial; são
agora as PPP, que escondem as origens das "AÇÕES" da parcela que as inventou, com
seguro de vida, pois quando deixarem de alimentar a Episteme perdida o Erário Público, cobre os não
lucros.
O fluxo das Misericórdias para as Ordens Terceiras (Hospitais
respetivos, entenda-se), chama-se agora da Pública para a Privada, ou seja; da Medicina Pública
para a Medicina Privada. O veículo de transporte continua a ser o mesmo
e o combustível é o Paradigma perdido, que leva a Classe Médica a ver os Hospitais Públicos, onde os 87% que
recebem da massa salarial total do Ministério da Saúde, são iguais (±),
às Jaculatórias que recebiam nos Hospitais das Misericórdias, pela Caridade
praticada, embora condicionada ao interesse financeiro.
Por isso arrastam como arrastavam os doentes com
posses da Pública para a Privada, onde ganham mais numa hora do que num mês da
Pública, gabam-se. (que
dirão os Enfermeiros e não só)
Já os Enfermeiros viram as suas Carreiras destruídas
com a prestimosa ajuda dos I.U., porque a sua percentagem proporcional, dos 13% sobrantes,
com a invasão da Administração Escolástica de Telheiras’s School, era elevada e
as categorias eram uma ameaça para estas novas Administrações, pela Organização enfermeira,
que as enformava, quando
era preciso anarquizar, para aumentar o fluxo (Pública-Privada), sem perceberem
porquê.
Tudo isto
revela que os Médicos
tentam retardar o MITO, em que se movem, quando se
impõe a RAZÃO, A
REALIDADE.
Conclusão:
Os Enfermeiros não são necessários para substituírem
os Médicos;
Os Enfermeiros vão sendo necessários
para abreviarem o percurso do mito à razão e acabarem
com os paradigmas ultrapassados.
Entretanto vão-se divertindo com as Convenções
quixotescas, onde os D. Quixotes tentam dar novas formas ao MAIS-DO-MESMO, só
que ainda para pior.
A FENSE
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