A HISTÓRIA REPETE-SE
Estávamos em greve no dia 13 de março de 1976.
Os Enfermeiros, tal como hoje, estavam a ser pressionados e, em muitos casos, impedidos de sair dos hospitais.
Como presidente do Comité Central da Greve, avisei o Ministério dos Assuntos Sociais, sendo Ministro Rui Machete e o Secretário de Estado da Saúde, Albino Aroso de que se não corrigissem a forma e método de tratar os Enfermeiros, abandonavam os hospitais e, provavelmente, o país para fugirem da requisição civil.
Perante este aviso, o Secretário de Estado da Saúde teve uma ideia peregrina:
mandou publicar 3 números dos 3 telefones do Ministério e pediu à população que se voluntariasse para substituir os Enfermeiros, que ameaçavam abandonar os hospitais, deixando os doentes entregues à sua sorte.
Foi uma atitude arrojada, da parte do Secretário de Estado, sabendo quanto essa onda de curandeirismo ia ferir os Enfermeiros amantes da sua profissão, que teve pronta resposta da parte do Comité Central da Greve.
Mobilizei 3 colegas voluntárias, que se disponibilizaram para, através dos seus telefones pessoais e, usando as listas telefónicas, desatassem a oferecer cidadãos da lista, para acorrerem ao chamamento e substituirem os Enfermeiros, em fuga possível.
Cumprida esta missão corajosa, pousaram os telefones fora do descanso e fundiram a mesa que, da central telefónica, dava acesso ao Ministério o que significou que, pelo menos durante bastante tempo não houve mais ofertas de voluntários.
Quando os governantes iam fingir de surdos, perante as nossas exigências, tive de os informar de que as ofertas dos voluntários à força, fomos nós que as fizemos, a partir da lista telefónica, pelo que iriam surpreender, quer os oferecidos, por nós, quer os que pensavam usá-los para substituirem os Enfermeiros, o que espalhou a confusão, pela frustração da ideia engenhosa e bacoca do Secretário de Estado e aumentou muitos pontos, na luta dos Enfermeiros.
Se como disse Hegel a história se repete 2 vezes, pelo menos, é capaz de estar certo.
Há uma meia dúzia de anos, na Filândia, que com a Turquia, são os paises que mais mão-de-obra enfermeira fornecem à Alemanha, entraram em conflito com uma greve que os governantes minimizaram.
Havia, no grupo, um Enfermeiro Português que tinha um livro, que fixou, para a história, os passos mais importantes da greve dos Enfermeiros nacionais, em 1976.
Lendo e assimilando as notas aí descritas, as colegas filandesas ensairam a nova fase, na luta: sairiam dos hospitais e, até, do país, para paises próximos e, quando se apercebessem, nem as podiam mobilizar por "requisição civil", pois não estariam, sequer, no país.
A 1ª reação dos governantes finlandeses foi a de consultarem os países vizinhos para a possibilidade de transferirem para esses paises os doentes em cuidados intensivos e outros de dependência semelhante.
O processo tornou-se impraticável.
Deram a mão à palmatória e cederam às reivindicações dos Enfermeiros, de forma, aliás, generosa.
Esta foi a 1ª repetição da história.
Imaginem, agora, que a 2ª repetição da história, segundo a teoria hegeliana, se possa dar, em Portugal?
É bem possível experimentarmos essa possibilidade, dado que, nestes casos cada um joga com os dados que possui.
Vejamos:
Decretada uma greve, com abandono de lugar;
Sair 2 ou 3 dias, para Espanha, que é perto e bom caminho, como soe dizer-se;
Conhecida a escassez de Enfermeiros;
Uma percentagem de 20% de aderentes à ideia, põe o SNS, em situação de rutura.
Se a história se repete 2 vezes, como disse o sábio Hegel, e já se repetiu uma na Finlândia, com resultados excelentes, não rejeitamos a ideia de repetir a história pela 2ª vez, se as circunstâncias, assim, nos imponham o recurso a essa prática, de que fomos originários.
Numa nota de rodapé, convém referir que a greve de 1976 decorreu fora da influência da tendência sindical comunista, entretanto apeada, meses antes, da direção do SEP (Sindicato do SUL e Ilhas, na época) e substituída por militantes do MRPP.
Mas seria injusto não referir, que foram muitos militantes e ativistas comunistas, que fora da sua hierarquia, nos ajudaram, muito e bem, dada a sua experiência de luta, a atingir os objetivos, que atingimos, também eles históricos.
NAPOLEÃO SABIA:
(José Azevedo)
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