Governante admite falta de médicos em Felgueiras
Secretário de Estado Adjunto do ministro da Saúde, Leal da Costa,
assinalou, porém, que há quatro anos a situação era mais grave
O secretário de Estado
Adjunto do ministro da Saúde, Leal da Costa, admitiu esta sexta-feira que o
número de médicos em Felgueiras ainda é insuficiente, mas assinalou que há
quatro anos a situação era mais grave.
"Encontrámos, há
quatro anos, uma situação particularmente grave neste município",
exclamou, em declarações à Lusa, garantindo que o concelho chegou a ter quase
50% da população sem médico de família.
Atualmente, avançou, a
situação é mais favorável, com 11% de utentes sem médico, o que corresponde,
ainda assim, a mais de 6.000 pessoas.
Fernando Leal da Costa
falava à Lusa após uma visita que efetuou à Unidade de Saúde Familiar de
Felgueiras e extensão da Longra, acompanhado pelo presidente da Administração
Regional de Saúde do Norte, Álvaro Almeida.
Nos últimos anos,
segundo o secretário de Estado da tutela, graças a um maior volume de formação,
foi possível concentrar mais médicos especializados em medicina familiar na
região norte e também do Vale do Sousa.
Apesar disso,
reconheceu Leal da Costa, Felgueiras continua a ter o pior registo do
território, bastante abaixo da média da região norte, que apresenta uma
cobertura de 97%, mas ligeiramente acima da média nacional, de 88%."Não estamos ainda contentes, queremos m
"Não estamos ainda contentes, queremos mais, somos muito exigentes, mas estamos convictos de que, durante os próximos anos, se continuarmos com o mesmo número de formação de médicos, teremos condições para nos aproximarmos dos 99% de cobertura."ais
, e médicos, teremos condições para nos aproximarmos
dos 99% de cobertura."
O secretário de Estado Adjunto do
ministro da Saúde sublinhou que a densidade populacional de Felgueiras, o
dinamismo e a juventude da sua população ativa, justificam que o Governo
continue a trabalhar para melhorar todos os indicadores de saúde do concelho
que, em geral, considerou "serem bons".
"Há que retribuir em termos
nacionais o que o concelho tem feito pelo país", assinalou no discurso
oficial.
É preciso aprender a envelhecer
04.09.2015 às 8h15
Montagem
de fotografias tiradas por Virgínia Liahuca nas suas viagens pelo mundo:
Argentina, Cuba, Perú, Chile e Brasil são alguns dos países por onde já passou
DR
Virgínia tem
78 anos, caminha seis quilómetros por dia, viaja pelo mundo fora e ainda quer ir
ao Canadá, Estados Unidos e Inglaterra. “A velhice programa-se”, diz. Em 2030,
Portugal poderá ser o 3º país mais envelhecido do mundo.
Este é o segundo artigo da série “30 Retratos” que o Expresso vai
publicar diariamente: são 30 temas, 30 números e 30 histórias que ilustram o
que Portugal é hoje em vésperas de eleições
Tudo cabe em duas divisões, num
rés-do-chão de uma moradia a poucos quilómetros do mar. A janela da sala dá
para uma horta – e por ali entra luz suficiente para iluminar metade da casa.
No encosto do sofá está estendido um cachecol do Benfica e na parede estão
coladas fotografias dos netos, a cores e impressas em papel. Está também
pendurada uma outra fotografia mais antiga, a preto e branco, com dois rapazes
e uma menina sentados num muro baixinho, por baixo de uma árvore. Foi tirada na
cidade de Ponta Negra, na República do Congo, em 1968.
Naquele espaço cabe uma parte de tudo o
que Virgínia Liahuca hoje precisa para viver. Apenas uma parte, porque a outra
está fora de casa. É que viver sozinha, quando se tem 78 anos, implica duas
coisas igualmente importantes, explica: uma é saber estar em casa e ocupar o
tempo, a outra é saber sair de casa e estar com gente. “É preciso integrar-se,
não se isolar, procurar grupos. Faz 15 dias ligaram-me a perguntar se não me
queria juntar a um grupo de pessoas para ir a Lisboa ver o La Feria ao Casino
Estoril, que ainda tinham um lugar livre. Disse-lhes logo ‘é para já’.”
Virgínia caminha seis quilómetros por
dia, “exceto ao sábado e ao domingo”. Vive na Lourinhã, perto de Torres Vedras,
mas viaja pelo mundo fora – já foi à Tailândia, Costa Rica, ao Peru, à
Argentina, a Cuba, ao Brasil, Vietname. E ainda quer ir ao Canadá, aos Estados
Unidos e a Inglaterra. Parte em excursões com pessoas que não conhece – e isso
permite perceber o quão simples é para si, afinal, apanhar uma camioneta da
Lourinhã até Lisboa para ir ao cinema.
Fotografia
tirada por Virgínia Liahuca durante a excursão que fez ao Peru, em 2005.
Virgínia digitalizou todas as fotografias das suas viagens para as poder
guardar no computador
DR
Foi enfermeira a vida toda, primeiro em
Kinshasa (então ainda Léopoldville), na República Democrática do Congo, depois
no Huambo, em Angola, e finalmente em Portugal, onde trabalhou até aos 70 anos,
no Centro de Saúde da Lourinhã. Já tinha 65 quando acabou um curso de
enfermagem para idosos, para “os entender melhor”. “A velhice programa-se. Não
posso pensar que estou velha e que não vou fazer nada. Sou feliz e é possível
viver assim sem gastar muito dinheiro. Vivo um dia a cada dia. Programo-o e
obrigo-me a fazer o que programo. Digo para mim mesma ‘Virgínia, tens de
fazer’.”
Aprender a envelhecer torna-se uma útil
lição quando o índice de envelhecimento voltou a aumentar em Portugal – por
cada 100 jovens, há agora 141,3 idosos e as Nações Unidas estimam que em 2030
Portugal seja o 3º país mais envelhecido do mundo. Foi em 2000 que, pela
primeira vez, a população com mais de 65 anos superou o número de jovens em
Portugal, como escreve a demógrafa e diretora da Pordata Maria João Valente
Rosa no ensaio “O Envelhecimento da Sociedade Portuguesa”, publicado pela
Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Entre 2003 e 2013, todos os 28 países da
União Europeia tiveram um aumento da proporção de idosos, um decréscimo da
proporção de jovens (excluindo a Irlanda e Espanha) e de população em idade
ativa (com exceção da Polónia, Eslováquia, Luxemburgo e Chipre), segundo dados
do INE.
O último recenseamento também mostra que
numa década, entre 2001 e 2011, o número de pessoas idosas a viver sozinhas
(401 mil) ou a viver apenas com outros idosos (805 mil) aumentou cerca de 29% -
de 943 mil pessoas para 1,2 milhões.
“EU NÃO SINTO A
SOLIDÃO”
Uma das
viagens que Virgínia Liahuca fez foi à Amazónia, em 2005, tinha 69 anos. Entre
2003 e 2006, visitou também Cuba, Peru, Argentina e Chile
DR
A autoestima é um ponto fundamental
quando se envelhece, defende Virgínia. “Toda a gente sabe que vai ficar sozinha
um dia e tem de se preparar para isso. Eu não sinto a solidão. Não sei o que é
isso, porque me ocupo. Tenho livros, televisão, crochê, pintura, ponto cruz.
Não conduzo, mas pego em mim e vou daqui na camioneta para Lisboa. Agora ando a
pensar em ir ver o ‘Pátio das Cantigas’. Para mim, o metro em Lisboa é uma
maravilha. Compro um monte de bilhetes naquelas máquinas cada vez que lá vou e
ponho-me em qualquer lado.”
Reformou-se aos 70 anos e ficou a dar um
apoio no lar de terceira idade da Atalaia, perto da Lourinhã. E depois?
“Comecei a cuidar de mim.” Já fez um curso de pintura, “um curso de
computadores” e faz hidroginástica. “Descobri agora um programa muito bom.
Põe-se no telemóvel e conta todos os passos que dou nas minhas caminhadas.
Aconselho a todas as pessoas.”
É fã do Viber e do Whatsapp. E os
computadores não lhe são estranhos: tem dois, um deles portátil, e usa-os para
jogar às cartas, além de ter todas as fotografias das viagens organizadas por
pastas. Numa delas, em especial, está o registo da visita que fez ao estádio do
Benfica com um grupo de Peniche e da Lourinhã. “Sempre fui do Benfica. Os meus
pais não queriam, porque eram sportinguistas. Mas o sangue corre vermelho. Já
fui ao campo e depois de sairmos do relvado fomos à sala de imprensa. Vi ali a
cadeira onde se senta o treinador e pensei ‘é agora que me sento lá ou nunca
irei’. E sentei-me.”
NA FUGA
DOS ESTUDANTES AFRICANOS EM 1961
Muito fica para trás na história de vida
de Virgínia Liahuca, cruzando-se com o passado das ex-colónias portuguesas e,
em particular, de Angola. É preciso recuar até 14 de dezembro de 1936, dia em
que nasceu, em São Tomé e Príncipe. Nunca mais lá voltou desde que veio estudar
enfermagem para o Hospital de Santa Maria em Lisboa, em 1949. Veio com a irmã
gémea, de quem só se separou há três anos, quando ela morreu. Virgínia ficou a
viver na Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa, criada para acolher os estudantes
das então colónias portuguesas. Por ali passaram ou estiveram associados nomes
incontornáveis como Agostinho Neto, Amílcar Cabral ou Joaquim Chissano.
Dez anos depois de ter chegado a Lisboa,
Virgínia casa-se com um jovem angolano que foi estudar Medicina para Portugal.
A 28 de junho de 1961, fogem os dois para Paris, juntamente com outros
estudantes – naquela que ficou conhecida como a grande fuga dos estudantes
africanos para França. A caminho de Paris, o grupo esteve preso durante três
dias na cadeia de San Sebastián, em Espanha, e depois seguiriam finalmente para
a capital francesa.
Virgínia ia grávida e foi em Versalhes
que teve o primeiro filho. Três meses depois, partiram os três para
Léopoldville, onde o marido – “um grande nacionalista angolano”, como ela o
lembra – se juntou à Frente de Libertação Nacional de Angola (FNLA). Ali em
Léopoldville trabalharam no apoio médico a refugiados, junto do Serviço de
Assistência aos Refugiados Angolanos (SARA), tendo Virgínia, especializada em
obstetrícia, desempenhado um papel importante no apoio a mulheres grávidas.
Ficam na cidade até 1964, quando partiram para Brazzaville, onde viveriam até
1975.
Virgínia fica viúva aos 37 anos com os
três filhos – os dois rapazes e a menina da fotografia a preto e branco,
pendurada na parede – e vai para Angola. Até 1992 trabalha no Hospital Central
do Huambo. “Tive uma grande luta para criar três filhos. Sabia que tinha de ser
mulher, amiga, mãe e criança como eles.” Uma das suas vitórias seria tirá-los
de Angola e pô-los a estudar em Portugal. Hoje, são os três licenciados e
trabalham por cá.
Quando chegou a Lisboa em 1992, Virgínia
tinha 56 anos e não quis ficar parada. Entre trabalhar no Hospital de Santa
Maria em Lisboa e na Lourinhã, é a última que escolhe. “Queria trabalhar com a
comunidade.”
Para Virgínia, o essencial é aprender e
preparar-se para envelhecer. E se nessa altura não houver família, ou se a
família não estiver por perto, é essencial procurar um apoio e encontrar grupos
e amigos. “Bastam dois ou três bons amigos, com quem possam sair quando
quiserem.”
No fundo, é preciso perder o medo de
envelhecer, defende. “A saúde e a doença estão juntas, correm paralelamente,
temos de saber isso. E há um ditado que diz ‘viver não custa, saber viver é que
sim.’ Tenho sempre este lema e levo o envelhecimento assim.”
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