A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR.
FALA-SE POUCO NA FUNDADORA DO ICN
Luís Graça: Textos
sobre saúde e trabalho / Papers on health and work
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141. Graça, L. (2002)
- Ethel Fenwick: o combate pela profissionalização da enfermagem na
Grã-Bretanha e no resto do mundo [ Ethel Bedford Fenwick: The
struggle for the State Registration for Nurses in Britain and Worlwide]
(a)
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Portuguese
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1. Ethel Fenwick (1857-1947)
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Ethel Gordon Manson, de seu nome de solteira, nasceu na Escócia em 1857.
Alguns anos depois, a sua mãe, que enviuvara a seguir ao nascimento da filha,
casou com George Storer, um influente deputado pelo círculo de
Nottinghamshire.
À semelhança de Florence Nightingale, 37 anos mais velha, Ethel
teve acesso a uma educação de acordo com a sua condição social, embora menos
esmerada. Bela e inteligente, decidiu dedicar-se, ainda muito jovem, ao
serviço dos mais pobres, abraçando a enfermagem e seguindo assim as peugadas
de Florence (Callander-Grant, 2001).
Em 1878, com apenas 21 anos, tentou sem sucesso inscrever-se num curso de
formação em enfermagem geral. Acabou por frequentar, pagando do seu bolso, um
estágio no hospital pediátrico de Nottingham (Nottingham Children's
Hospital). Causou muito boa impressão junto da 'patroa' (
"matron") do serviço, não só pela sua elegante maneira de vestir
como pelas suas maneiras de menina bem educada.
Completado o estágio de seis meses, e ainda na sua qualidade de
estagiária ("paying probationer"), inscreveu-se na Manchester
Royal Infirmary para completar a sua formação durante mais um ano. Nessa
época, ela teria pago mais de seis libras pelo privilégio de aprender
enfermagem. Passado um ano, ela vem para Londres, trabalhando como 'irmã'
("sister") no London Hospital, em Whitechapel.
Em 1881, candidatou-se ao lugar de "matron" do St.
Bartholomew's Hospital. Apesar da sua juventude (tinha então 24 anos),
foi-lhe oferecido o lugar. A sua experiência como administradora dos serviços
de enfermagem deste hospital foi marcante na sua vida e carreira. Abandona a
profissão, aos 30 anos, para se casar com o Dr. Bedford Fenwick, médico do
mesmo hospital e que mais tarde desempenhará um importante papel de apoio ao
seu trabalho como líder da enfermagem.
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2. A luta pelo reconhecimento legal da profissão e a inscrição
obrigatória das enfermeiras
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A partir daqui ela vai tornar-se, de facto, uma líder da enfermagem
dentro e fora do Reino Unido:
Em 1904, começa a falar-se na necessidade e nas vantagens de passar a
haver um segundo nível de enfermagem, com menos tempo de formação, com menos
responsabilidades e menos qualificações que a State registered nurse.
Na sequência da guerra e da falta de pessoal médico e de enfermagem, o Nurses' Act of 1943 veio formalmente
reconhecer "this second grade of trained nurse: they were given the name
and status State Enrolled Assistant Nurse" (Callander-Grant,
2001. Itálicos meus. Fenwick irá opôr-se à criação desta figura e lutar pela
unificação e da profissão e pelo seu controlo por parte dos próprios
profissionais.
Quanto à State Registration of nurses (abreviadamente, SRN) Fenwick
vai travar uma longa e difícil batalha: tinha contra ela o Parlamento e bem
como as "matrons" que dominavam os hospitais ingleses e as
apoiantes de Florence Nightingale (conhecidas depreciativamente como as nightingales).
"Miss Nightingale held to the idea that nursing was not a
profession, but a vocation. Although she supported thorough nurse
training - indeed, she founded the first training school for nurses at St.
Thomas' Hospital London in 1860 - a model which was adapted by nursing
schools worldwide - she did not feel that compulsory registration was
necessary" (Callander-Grant, 2001. Itálicos meus).
Mais concretamente, Nightingale achava que o essencial das qualidades de
uma enfermeira não podia ser objecto de ensino, avaliação e regulamentação...
Fenwick irá mobilizar todos os meios (amigos e conhecidos, organizações,
personalidades públicas...) para influenciar o Parlamento a votar
favoravelmente a State Registration.
Em 1887 Bedford Fenwick começou a colaborar no Nursing Record,
publicação que ela acabaria por adquirir. Passou então a chamar-se o British Journal of Nursing (BJN):
Bedford Fenwick defendia claramente que
a formação das enfermeiras devia obedecer aos seguintes três requisitos:
Defendia ainda, em oposição a Florence Nightingale, a ideia de um
organismo ("general council") que regulamentasse a profissão a
nível nacional.
Depois de longos anos de luta em favor da SRN (a inscrição obrigatória das enfermeiras e o reconhecimento legal da profissão), com a oposição da facção Nigthinbgale bem como de médicos proeminentes da época e de alguns parlamentares, Bedford Fenwick viu de facto os seus esforços serem coroados de êxito em 1919:
A inscrição obrigatória dos médicos ingleses remontava a 1858... Setenta
anos depois, as enfermeiras britânicas tiravam partido também da valorização
do seu contributo para esforço de guerra (1914-1918) bem como da luta das
feministas da 1ª geração.
Em 1916 tinha sido criado o College of Nursing (actual Royal College of
Nursing, a maior associação de enfermagem do mundo com mais de 330
mil membros).
O Nurses' Registration Act of 1919 criou o General Nursing Council for
England and Wales (bem como outro para a Escócia e outro para a Irlanda).
Estes corpos separados sobreviverem até 1979, altura em que forma integrados
no UKCC (United Kingdom Central Council for Nursing, Midwifery and Health
Visiting ), sob tutela do Parlamento que veio dar origem,e m 2002, a um
"new regulatory body", o Nursing
and Midwifery Council).
Acrescente-se ainda o seguinte a respeito do papel de Ethel Bedford
Fenwick:
Inspirando-se no International Council of Women, Bedford
Fenwick decidiu formar o futuro International Council of Nurses,
aliando-se a profissionais de enfermagem de vários países. A primeira reunião
da comissão organizadora foi em 1899.
O ICN (de que a Associação Portuguesa de Enfermeiros é membro) celebrou
em 1999 o seu 1º centenário. Do discurso da presidente do ICN, Kisten
Stallknecht, em 1999, destaca-se o seguinte (vd. versão inglesa em em http://www.icn.ch/openingspeech.htm ; também disponível em francês e
espanhol).
Se hoje fosse viva, Ethel Bedford Fenwick reconher-se-ia na definição do
conceito de enfermagem do ICN:
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Referências bibliográficas
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Callander-Grant, Stephen (2001) - Mrs Bedford Fenwick, A Short Biography.
Site on Internurse.com, London, U.K. (http://www.internurse.com/history/ethellife.htm ) (23.02.2002)
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Última actualização: 10 de Novembro de
2004 / Last update: November 10, 2004.
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