UMA RECEITA PARA O SNS PORTUGUES
Em 21/02/2013, na agência Reuters podia ler-se, o que os nossos “média” não viram ou não quiseram ver:
Basicamente, o artigo diz que os médicos precisam
de reconsiderar a maneira como praticam “atos médicos”, porque "mais, em
saúde, não significa melhor " e chega mesmo a dizer que há demasiados
testes médicos, que são feitos sem necessidade e, em muitos casos, podem
aumentar o risco de cancro, ou piorar o estado de saúde do doente. Não admira,
pois, que a fabriqueta do nosso SNS não tenha beneficiado destes sábios avisos.
Deste modo:
«É assim que muitos exames médicos,
tratamentos e outros procedimentos - muito utilizados, há décadas, - há médicos
que já notaram como, quase sempre, são desnecessários e, muitas vezes, são
prejudiciais; assim, médicos e doentes devem, portanto, evitar exageros e levar
mais a sério esta questão.
As listas de procedimentos lançadas, na quinta-feira, pelas associações profissionais de 17 especialidades médicas, que vão da neurologia e oftalmologia, à cirurgia torácica, integram a campanha: - "escolher com sabedoria", organizada pela Câmara Americana de Medicina Interna, visando sensibilizar os médicos a não executarem procedimentos inúteis e passando a palavra para que entendam o seu significado redutor e sábio, sem se ofenderem com isso.
Os americanos têm a visão de que em saúde: - "mais não é igual a melhor", disse um dia o dr. Glenn Stream, médico de família, que identificou 10 procedimentos desnecessários, ou prejudiciais.
Há um conjunto de coisa, feitas frequentemente, que não contribuem para a melhorar a saúde das pessoas e, até, podem ser mesmo prejudiciais.
Num ou noutro caso excecional, um procedimento, que não produz benefícios para a grande maioria das pessoas, pode ser útil a uma delas. É por isso, que os médicos salientam que só estão a desaconselhar o uso rotineiro de testes e terapias, geralmente desnecessários.
{Em
Portugal, chama-se as estas coisas inúteis, “medicina defensiva”, porque, um dia, alguém se lembrou de acusar de
negligência um médico, que se esqueceu de pedir uma glicemia, a um hipotético
diabético, como alavanca para o comércio instalado, a render vultosas comissões
aos seus municiadores. Foi quanto bastou para montar o uso rotineiro de exames
desnecessários, senão mesmo prejudiciais ao consumidor, alem de dispendiosos
para o SNS}.
Por exemplo; a Academia Americana de Pediatria
afirma que os médicos "devem questionar" o uso de TAC, em menores, com
dores de cabeça e abdominais, pois que, além de não melhorarem o diagnóstico,
aumentam o risco de cancro. Mas, se os médicos suspeitam de algo estranho,
podem prescrever uma bateria de testes.
Para a maior parte dos especialistas, não há que olhar a custos, quando prescrevem exames complementares. Se o seu conselho fosse seguido, no entanto, seria possível economizar biliões de dólares, anualmente, evitando coisas desnecessárias, disse o dr. John Santa, diretor do Centro de Investigação de Consumos e Impostos. É um parceiro nas escolhas racionais.
Num grande grupo médico, com 300.000 pacientes o Dr. John Santa calculou que seguindo o conselho da “Escolha Inteligente”, em 2 procedimentos: eletrocardiograma e densidade óssea, reduziria a faturação em um milhão de dólares, por ano. Mas a nível nacional, significa um bilião de dólares.
O grupo de especialidades médicas trouxe um
lote de 5 procedimentos para analisar. Porém, a maioria dos itens começa com um
enfático "não". Os procedimentos especiais vão desde o banal ao
esotérico (ouvido de nadador, repensando testes, pré-operatórios).
Outros especialistas dizem que não usam antibióticos orais em crianças, com menos de 4 anos, nas otites e gripes; como também não usam drogas para manter o nível de açúcar, no sangue, em adultos idosos, com diabetes tipo 2, com limites apertados. Não há nenhuma "evidência" de que o "controlo glicémico" amplamente praticado - seja benéfico - disse a "American Geriatrics Society". Pelo contrário; os medicamentos usados, no controlo apertado da diabetes, aumentam a mortalidade, pois este controlo, quando demasiado apertado, em si, pode aumentar o perigo de morte, porque pode provocar a hipoglicemia.
Certas recomendações, uma vez adotadas, originariam mudanças significativas, no atendimento do doente. Os geriatras, por exemplo, recomendam o não uso de alimentação por sonda nasogástrica, em doentes com estado de demência, muito avançado, porque provocam feridas e outros problemas, que uma alimentação, cuidadosamente administrada, pode evitar.
Quem já foi operado, tendo um bom estado físico geral, pode simpatizar com a ideia de rejeição de vários testes pré-operatórios. Mas, agora, os oftalmologistas aconselham o ECG e pesquisa de glicose, antes das cirurgias oculares, excetuando os que já são cardíacos ou diabéticos, por estarem controlados.
Já há muitos médicos a desaconselharem muitos procedimentos como; a colheita de imagens para as lombalgias (a menos que a dor dure há mais de 6 semanas), assim como qualquer triagem cardíaca, incluindo ECG, em pacientes sem sintomatologia cardíaca.
O uso, em larga escala "DEXA" - triagem pelo RX na osteoporose - , tornou-se prática corrente, na mira dos reumatologistas. Mas esse exame não deve ser feito, senão de 2 em 2 anos, pois as alterações, na densidade óssea, em períodos mais curtos, são inferiores, à margem de erro das máquinas de medição e isto pode levar as mulheres examinadas a pensarem que estão a perder massa óssea, quando, na verdade, não estão.
Retirada do DEFCON I
Outros "de não te" pode ser difícil, vendem a pacientes para os quais a ideia de qualquer anormalidade requer a versão da medicina do Defcon 1
Por exemplo; aparecimento de células anormais, no colo do útero.
O Colégio Americano de Obstetras e
Ginecologias (ACOG)(Ginecobstetras) diz não tratar as mulheres, cujo teste de
Papanicolau, para rastreio de cancro do colo do útero encontra displasia menor
que as anormalidades que persistem, durante dois anos.
"Danos do tratamento, no colo do útero são o aumento de risco em gravidez posterior", disse o vice-presidente executivo ACOG, Dr. Hal Lawrence. As células anormais são, quase sempre, o resultado de uma infeção vírica, que o organismo elimina, por si; mas nas mulheres que pensam que isso significa o cancro cervical iminente terá de se ser convincente, com elas.
Se os médicos adotarem as recomendações da sua especialidade, com visitas ao médico para algumas doenças crónicas, seria muito diferente. Pacientes com dores de cabeça, recorrentes, não iriam necessitar do eletroencefalograma (EEG), que não melhora o resultado.
E reumatologistas não iriam usar Ressonância
Magnética Nuclear (RMN) para motorizar as articulações, em doentes com artrite reumatoide;
uma avaliação clínica é boa e suficiente.
As mulheres, em particular, iriam receber cuidados bastante diferentes. Os menores de 21 anos e aquelas que fizeram uma histerectomia para nada, desnecessária, significa que o cancro não deve ter papanicolau em tudo, dizem os especialistas. Outras mulheres devem começar a fazer os testes, de 3 em 3 anos e não anualmente, nas idades, entre os 30 e 65 anos.
"Fizemos um grande trabalho de treino para todos; mulheres e médicos, para conseguirmos um teste de papanicolau anual", disse Lawrence da ACOG; agora, verificado o exagero, temos de contrariá-los: isso não vai ser fácil.
A primeira lista "Escolher 45
procedimentos com Inteligência e Sabedoria", foi lançada, em Abril
2012, tempo demasiado próximo, para que haja dados concretos, seguros, quanto a
constatar se eles estão a mudar a prática, ou não. Algumas dessas batalhas
foram lançadas, há anos, com pouco ou nenhum sucesso.
A ACOG tem vindo a tentar reduzir a taxa de cesarianas eletivas, por décadas, e a sua "escolha inteligente e sábia", não é para agendar cesarianas eletivas ou induzir o parto, antes das 39 semanas. A taxa de cesarianas dos EUA, foi de 33%, em 2009, acima dos 21% de 1996, portanto, como mostram os dados federais.
PIOR PARA OS BÉBÉS, MAS MELHOR PARA A RECEITA
A experiência de Intermountain Healthcare, um grupo de hospitais e clínicas, em Utah, sugere a causa do fenómeno. A organização sem fins lucrativos, ainda recentemente reduziu a sua taxa de induções de trabalhos de parto inadequados e cesarianas, de 28% de nascimentos, para 2%, o que reduziu 50 milhões de dólares anuais, nas despesas com a saúde, sobretudo por reduzir o uso da unidade de cuidados intensivos, em neonatologia, onde iam parar muitos bebés, nascidos por cesariana.
"No nosso sistema nacional de saúde (o americano) com taxas de serviços, disse Papai Consumer Reports" pobres e fracos resultados clínicos para os bebés, melhoram fluxos de receita, para os hospitais"; melhoria no atendimento pode reduzir a receita dos hospitais. (por isso o Intermountain perdeu 9 milhões...)
Muitos grupos empresariais assinaram o método "Escolher com Sabedoria", esperando que isso irá reduzir os custos da saúde, sempre a crescerem.
Por exemplo; o Conselho Empresarial Nacional
de Saúde, com 7.000 membros do empregador e do Grupo de Negócios de Saúde
Nacional, tem representação das empresas Fortune 500 e outros grandes
empregadores, estão a distribuir aos seus membros material educativo,
desenvolvido pela “Consumer Reports”, um parceiro no método da "Escolha
Inteligente e Sábia".
Eles têm o cuidado de enfatizar que o conselho (o imperativo) vem dos médicos. "Se os empregadores dizem que você não deve ter todos esses exames ou procedimentos, vai inevitavelmente ser isso visto como:"
- o meu patrão não quer gastar o dinheiro para lhes dar cobertura - disse Helen Darling, presidente do Grupo de Negócios.
Há páginas e páginas de listas a levantar uma questão óbvia:
Como é que tantos procedimentos sendo inúteis e, até mesmo, perigosos, são tão profusamente utilizados?
A explicação:
Por um lado, não há nenhuma exigência regulamentar para os médicos terem de provar que um novo procedimento, que começam a usar, vá ajudar os doentes, ou não, a melhorarem a sua situação; ao contrário do que acontece com os fabricantes de medicamentos, que têm de demonstrar a eficácia do medicamento, antes de vender um produto farmacêutico novo, os médicos não têm de provar coisa semelhante; é a sua convicção ou outras coisas, que se impõem.
Por outro lado; "os americanos querem a
coisa mais recente, o mais novo" disse Howard Brody, da Universidade dom
Texas Medical Branch, cujo desafio, para 2010, é os médicos identificarem
testes inúteis e tratamentos inspirados no, "Escolher com Sabedoria".
"Entusiasmo tecnológico, por parte dos
médicos e do público, em geral, torna-os disponíveis para adotarem coisas
novas, sem testes experimentais rigorosos. Somente, anos mais tarde, e só se e,
quando os estudos são casualmente feitos, com rigor científico, verificamos que
aquilo não é bom"!
Infelizmente a história próxima e distante, demonstra a frequência indesejável destes acidentes de percurso e entusiasmo, apriorístico!
Este texto foi feito para os americanos, onde muitos dos nossos "sábios de ocasião" vão inspirar-se, para virem, depois, para o lado de cá, do Oceano Atlântico praticarem, porque não têm de demonstrar nada, como os Médicos. Quando se comprova a sua inutilidade, é tarde e os prejuízos são enormes. Estamos nesse ponto onde médicos e administradores são responsáveis pelo afastamento dos Enfermeiros da gestão, porque a sua comparticipação economiza e reduz lucros pouco ou nada úteis, para a saúde, onde “mais procedimentos (exames, drogas) não querem dizer melhorar a qualidade”.
Aqui, é oportuno recomendar a leitura dos "Inventores
das Doenças" de Jörg Blech, para se verem os efeitos da imaginação criadora
e como se criam os hipocondríacos saudáveis, desejosos de serem doentes, porque
isso liberta-os do mal de terem saúde; de terem uma alma sã num corpo são.
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