A nós, Enfermeiros
Uma Enfermeira
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Quem, como eu, Enfermeira, teve o privilégio de viver a Enfermagem das décadas de 80 e 90 do século passado e da primeira década deste século, nunca, mas nunca, poderia imaginar que chegaríamos ao ponto a que chegámos… E, não se pense que os Enfermeiros são vítimas apenas do contexto socio económico nacional e regional!
Não! O que é mais penoso é reconhecer que é a partir do seu interior que esta nobre profissão se está a destruir!
Onde antes existia uma hierarquia profissional que vivia Enfermagem, respirava Enfermagem e defendia o valor dos Cuidados de Enfermagem para o bem-estar e a saúde das populações, hoje temos um conjunto de pessoas que, por subordinação cega e prepotência utiliza estratégias que parecem visar o enfraquecimento do grupo profissional a que eles mesmo pertencem!
Neste momento, a juntar à desvalorização salarial, à não progressão na carreira, à falta de profissionais nos diversos Serviços, às carências de vária ordem que desafiam o saber e a criatividade dos Enfermeiros para que, em momento algum, seja comprometido o processo de recuperação dos seus utentes ou o alívio dos sintomas quando aquela já não é possível, por vezes até à custa do seu próprio bem-estar, juntamos a desvalorização e o desrespeito com que tantas vezes são tratados pelos seus superiores hierárquicos gerando sentimentos de frustração e desmotivação.
Desde muito cedo, ainda na Escola de Enfermagem, aprendi que os Enfermeiros são gente que cuida de gente. Assim, os Enfermeiros para cuidarem, a par do seu saber profissional, utilizam-se a si próprios como recurso nos cuidados que prestam, nos momentos de alegria, mas e sobretudo nos momentos de tristeza e sofrimento. Alegram-se, entristecem-se e sofrem com os seus utentes e as suas famílias. Como poderemos esperar que Enfermeiros frustrados, cansados, desmotivados deem aquilo que não têm? Quando estão eles próprios tão vulneráveis?
As mudanças no Sistema de Saúde são inevitáveis e a mudança custa, sabemos todos nós! Mas quando esta é feita contra as pessoas, sob ameaça, gerando medo, instabilidade, nunca terá sucesso pondo mesmo em causa a qualidade dos cuidados de saúde prestados!
Sabe-se hoje que, por maiores que sejam as dificuldades contextuais, quando existe um bom clima organizacional em que as pessoas são envolvidas e são respeitadas, as mudanças acontecem com muito menos sofrimento, sendo até frequentemente geradoras de satisfação pessoal e profissional, refletindo-se positivamente na qualidade dos cuidados.
E é tão-somente isto que se exige aos nossos superiores hierárquicos, também eles Enfermeiros: Respeito pelas pessoas dos Enfermeiros, respeito, valorização e reconhecimento pelo seu trabalho e que em instâncias superiores tenham a coragem de desempenhar o papel para o qual são nomeados, a bem da Saúde de todos nós!
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