quarta-feira, 30 de outubro de 2013

BEM VISTO...


Médicos de família querem listas de utentes consoante população atendida

Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar teme que aumento das listas por médico de 1500 para 1900 doentes não tenha em conta a realidade das populações, sobretudo numa altura de crise.
Os médicos de família lembram as diferenças entre o litoral e o interior em termos de necessidades de cuidados RUI GAUDÊNCIO



O presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) defende que o número de utentes por médico de família seja definido consoante as especificidades da população atendida.
“Uma lista de 1500 utentes no interior não é o mesmo do que em Lisboa”, disse João Sequeira Carlos, em entrevista à agência Lusa. Para este médico de família, o número de utentes “deve ser sensível às realidades e especificidades da população e isso nem sempre é levado em conta”.

A associação já alertou para “o risco” que pode constituir o aumento do número de utentes seguidos por um único médico de família, numa referência à passagem de 1500 para 1900 utentes por clínico, acordado entre os representantes sindicais dos médicos e o Ministério da Saúde.

Segundo José Sequeira Carlos, tem-se assistido a “uma maior carga assistencial”, a qual está relacionada “com uma mudança do padrão de procura que se alterou bastante de ano para ano”. “Como a resposta tendencialmente melhora e tem melhorado, é natural que haja uma maior procura”, afirmou, adiantando que o aumento de utentes por médico é mais um contributo para o aumento da “carga assistencial”.

“A abordagem do médico de família em relação aos seus doentes tem de adaptar-se aos tempos que vivemos”, sublinhou, lembrando que “nesta conjuntura socioeconómica é facilmente transponível para o gabinete de consulta as dificuldades sentidas pelos doentes e pela sociedade em geral”.

“Sabemos que há uma relação muito próxima entre níveis de maior insuficiência económica, maior dificuldade financeira, um ambiente que pode ser mais adverso, do ponto de vista social e económico, e os níveis de saúde sentida”, adiantou.

Os médicos de família estão atentos à expressão orgânica da crise: “Hoje em dia temos algumas queixas” que podem estar intimamente relacionadas com “um ambiente social e económico de maior adversidade”. Nesse aspecto, adiantou, “obviamente que o médico de família, sendo o especialista na área médica que está na linha da frente e tem uma prestação de cuidados de saúde em proximidade, facilmente consegue sentir o que são essas mudanças ao nível da saúde da população”.

“Sentimos e expressamos as preocupações que temos sentido”, disse, alertando para “um risco maior de prevalência de problemas de saúde mental: ansiedade, stresse laboral, aumento da prevalência de perturbações afectivas, depressão”. O médico alertou ainda para o efeito que a crise tem nos doentes crónicos, os quais poderão sofrer consequências de uma vigilância menos adequada.

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