Os Enfermeiros são das maiores vítimas da estupidez própria, a natural, de que todos temos uma dose maior ou menor e da alheia.
A Classe Médicas e os seus fantasmas não deixam perceber que; entre o trabalho do Enfermeiro e o do Médico há um abismo, tal a grandeza de um e a pequenez do outro.
Basta pensar quanto tempo gasta um Médico para prescrever uma caixa de 20 injecções e o tempo que o Enfermeiro gasta a aplicá-las para se entender, isto para quem não for estúpido de todo, ou fazer-se ainda mais do que se é, para medir as diferenças.
O medicocentrismo é o que retem nas Administrações Regionais de Saúde pessoas que para se manterem no emprego e fingirem que estão a administrar a coisa, encostam à Classe Médica e subservem os interesses desta.
Mas a burrice vem de longe.
Quem não se lembra de uma Enfermeira por cada dois consultórios Médicos e dos hossanas que destituídos de capacidade analítica entoavam, à volta deste esquema.
Daí nasce o conceito de que uma Enfermeira deve ter distribuídos 3000 utentes, porque em cada consultório Médico está um Médico e em cada dois consultórios médicos está uma Enfermeira.
Qualquer pessoa minimamente dotada podia perceber que; se a Enfermeira não tivesse outra função a assistência a 2 consultórios, já estava errada, por duas razões simples:
1 - a Enfermeira não é empregada de consultório, pois tem uma formação inadequada, por ser muito superior à que a assistência ao consultório exige;
2 - o trabalho decorrente das necessidades de cada utente, em cuidados de enfermeiro, não depende nem se esgota, na consulta do Médico.
Não vamos analisar a qualidade e o nível de complexidade da consulta do Médico, para justificar a presença dum licenciado em farmacologia, psicologia ou enfermagem. Na consulta do Médico, faz-se a tentativa de descobrir a causa das queixas do utente, com vista ao diagnóstico. E só.
Mas para os Enfermeiros, além do diagnóstico próprio, que fazem às pessoas em cada circunstância, há a função enfermeira de lhe dar uma solução, o que consome tempo e saberes próprios.
Já em 1970 se dertiminavam rácios de Enfermeiro-Utente de 1 Enfermeiro para 1000 a 1200 utentes.
A estupidez umbigada de alguns profissionais, que tardam em perceber que Enfermeiro é uma coisa bem distinta de outra coisa, o Médico; que ambos abordam o mesmo doente com perspectivas e fins diferentes, interdependentes, alguns, totalmente independentes, outros, quer para o Enfermeiro quer para o Médico.
Bastava perceber a razão remota da existência destes dois profissionais, para se concluir que são diferentes, pois se o não fossem, um fazia as duas coisas, como os hermafroditas.
Bastava saberem um nadinha de gramática portuguesa no ponto da composição das palavras e encotrariam a razão da palavra enfermo+eiro, sufixo que designa acção, por isso a palavra enfermeiro e para agir junto dos enfermos, que, na perspectiva médica, somos todos, se formos bem observados por um deles.
De contrário o Enfermeiro teria de se chamar um nome igual ou parecido com "medicoeiro", ou seja; exercer a sua função junto e no Médico.
Já dissemos alguns pontos, onde entronca a estupidez de não se definir correctamente a rácio Enfermeiro - Utente, porque essa relação depende do conceito que cada um tem do que é um Enfermeiro e da incapacidade deste em demonstrar aquilo que é e para que foi talhado.
Vem tudo isto a propósito duma tal de ERA (Equipa Regional de Acompanhamento), fenómeno que surgiu dos teóricos que implantam ou tentam implantar o conceito espúrio de Médico de Família usurpação feita ao Enfermeiro de Família que já vem do século XIX.
Normalmente escolhem Enfermeiros com um um certo perfil que saibam trabalhar em equipa que neste contexto significa, ouvir o que o pregador-médico do conceito "Médico-de-Família" quer que se entenda da coisa e obrigam os Colegas Enfermeiros a descracterizarem-se, para darem prioridade ao amparo a Médico desvalido, em consulta, a única coisa que faz.
Se usassem a capacidade pensante, veriam que essa ERA para o que diz e faz, não precisa de ter Enfermeiros, a não ser para informar os Médicos das capacidades que têm os Enfermeiros, que não são as de estarem a emoldurar a consulta do Médico.
É através desta confusões que chegamos à irracional e ilógica, ou simplesmente estúpida concepção duma USF onde os números de Enfermeiros e Administrativos dependem do número de Médicos : 7-7-7, por exemplo, que é o número de eleição dos Judeus; 7 portas tem Jerusalém, 7 lâmpadas ou torcidas tem o candelabro...
Da cidade dos Doutores vem uma destas burrices: há uma determinada USF das económicas ou tipo A que tem 7000 utentes a seu cargo. Porque tem 5 Enfermeiras deve passar a ter 4 porque também só tem 4 Médicos.
Por tudo que se diz acima, e não se esgota a matéria, já se pode imaginar a estupidez de que é feita a ERA ao aconselhar que deve tirar uma Enfermeira, para ficarem 4-4; não é difícil provar que a Enfermeira(s) que faz ou fazem parte da ERA são surdas-mudas, na coisa, pois é o Médico que baralha e dá as cartas na mesa do jogo e a Administração da ARSC também não honra a cidade e a sua nobre tradição, onde está plantada e comete a mesma burrice, com a agravante de ter a liberdade de escolher o caminho correcto e mais adequado à função de cada um, pois é isso que também é administrar. Para legitimarem as irracionalidades de ERAs e afins, não seriam necessários.
Que nos desculpem os burros e os estúpidos naturais e involuntários, pois até serão capazes de fazer melhor e, por isso a comparação é abusiva.
Com amizade e atenção,
José Azevedo
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