quarta-feira, 13 de agosto de 2014

AO SENHOR DA SAÚDE!

"Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuito,
Aos montes ensinando e às ervinhas

O nome que no peito escrito tinhas."
[Lusíadas canto III estrofe 120]

Tal como a linda Inês de Castro vivia naquele engano da alma,ledo e cego, que a fortuna não deixa durar muito, também os Enfermeiros recordam o tempo, com saudade, em que o seu trabalho era dignificado e compensado mais decentemente do que hoje. Mas que a fortuna não deixou durar muito.
Tinha acabado de escrever que o meio salário que estão a pagar aos Enfermeiros, o que os obriga a trabalhar o dobro, para ganharem o mesmo, impõe que trabalhem metade do que trabalham para ganharem o dobro e coincidência, a emissora Antena 1 notícia:
«EXAUSTÃO DOS ENFERMEIROS - O Ministro da Saúde afirmou: "Os Enfermeiros têm um trabalho essencial na saúde e, no SNS, em particular. E têm um trabalho muito intenso designadamente quando, agora, estão a cumprir 40 horas semanais de trabalho.
Mas não podemos esquecer especificamente que um Enfermeiro desempenha muitas das vezes o seu horário num hospital público e, depois, tem uma outra função, às vezes mais 2, com que acumulam.
Há aqui uma questão não de trabalho na área da Enfermagem que não deriva apenas do SNS."

Disse ainda: "não é com greves que os problemas se resolvem".

Ora, se os Enfermeiros ganhassem o dobro do que ganham, só precisavam de trabalhar metade do que trabalham, não será esta a verdadeira questão, ó Excelentíssimo Ministro Economista da Saúde?
Portanto; o problema é mesmo de contabilidade em que V.E. tem dado provas de conhecimentos fora do comum. 
O nosso trabalho sindical resume-se a uma equação a 2 incógnitas:
1 - Sensibilizar os Enfermeiros para acreditarem nas suas capacidades para exigir do Governo os vencimentos que correspondem ao seu estatuto académico e profissional (licenciatura com grau 3 de complexidade na acção).
2 - É exigir de V.E. e da Ministra das Finanças a verba que pertence aos Enfermeiros e que anda dispersa por outros lameiros, numa espécie de rega em manta, com péssima distribuição das águas.

Num Estado, onde há um Governo, que não consegue justificar por que há um grupo de profissionais, o médico, que embolsa, sozinho, 85% da massa salarial total do Ministério da Saúde e ainda explora o trabalho altamente especializado dos Enfermeiros nas tais acumulações, que o Excelentíssimo refere, precisava de ouvir o que o poeta diz a D. Afonso IV, com o seu erro fatal, que desencadeou a acção de D.Pedro I,

[A D. Afonso IV, pai de D. Pedro I o Justiceiro ou o Cru]


" Ó tu, que tens de humano o gesto (= a rosto) e o peito
(Se de humano é matar uma donzela
Fraca e sem força, só por ter sujeito
O coração a quem soube vencê-la)
A estas criancinhas tem respeito,
Pois o não tens à morte escura dela;
Mova-te a piedade sua e minha,
Pois te não move a culpa que não tinha."
CANTO TERCEIRO - ESTROFE 127

As greves, não servem para resolver problemas, mas ajudam a concentrar a visão de quem se distrai com as problemáticas que o cercam a concentrar as atenções.
Estas greves podem ser comparadas a uma espécie de petardos de Carnaval.
Quando entrar a artilharia pesada com morteiros de alto poder destrutivo (ver história da greve de 1976), veremos se ajudam ou não a resolver problemas a que o Governo não tem ligado à importância que têm.
A greve só serve para demonstrar a falta que faz o nosso trabalho a Ministros distraídos ou, talvez não, nem sequer reparam com olhos de ver mais além.

Com amizade 
José Azevedo 

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