Hospital Privado de Gaia abre hoje após
investimento de 50 milhões de euros
Projecto do Grupo Trofa Saúde conta com 100 camas e quer chegar às 3000 cirurgias e 150 consultas no primeiro ano de actividade.
A partir desta segunda-feira a zona norte do país conta com mais uma unidade privada de saúde, com a inauguração do Hospital Privado de Gaia, do Grupo Trofa Saúde. O mais recente projecto do quarto maior grupo de saúde em Portugal representa um investimento de 50 milhões de euros nas instalações que vão disponibilizar “serviços de ambulatório/consultas, com 43 especialidades disponíveis em horário alargado, bloco operatório, internamento, cuidados intermédios e intensivos, bloco de partos e análises clínicas”. “Por muito que as pessoas não queiram dizer, a saúde é um mercado apetecível e situámo-nos naturalmente num sítio onde há necessidades, com uma cobertura privada ainda insuficiente e com um Serviço Nacional de Saúde deficitário”, resumiu ao PÚBLICO o administrador do grupo, Artur Osório.
Nesta fase inicial, o Hospital Privado de Gaia arranca com um total de 100 camas, 73 consultórios e 35 salas de exames e tratamentos, mas a ideia é expandir esta oferta, agora distribuída por 11 pisos localizados no Lugar da Barrosa, uma zona central de Gaia. Segundo Artur Osório, “o projecto vem dar resposta à crescente procura de serviços de saúde privada na zona a sul do Porto, nomeadamente Gaia, Espinho, Arouca, Ovar, São João da Madeira e Aveiro Norte”. Além das especialidades médicas, a unidade disponibiliza outros serviços como “acupunctura, nutrição, osteopatia, podologia, psicologia, psicologia da infância e da adolescência, terapia da fala”. Se tudo correr bem, a ideia é fazer 3000 cirurgias e 150 mil consultas no primeiro ano.
O grupo Trofa, com 15 anos de existência, faturou um total de 90 milhões de euros em 2013 e as contas não fechadas de 2014 apontam para os 100 milhões. A ideia é chegar ao final do ano com um aumento para 110 ou 120 milhões, adiantou Artur Osório, lembrando as outras unidades no norte do país com que contam: Hospital Privado da Trofa, Hospital Privado da Boa Nova, Hospital Privado de Alfena, Hospital Privado de Braga, Hospital de Dia de Famalicão, Hospital de Dia da Maia e Instituto de Radiologia Dr. Pinto Leite. Ao todo, com a inauguração de Gaia, somam mais de 500 camas. Apesar das 100 camas agora abertas, a unidade de maior dimensão continuará a ser o Hospital Privado da Trofa, com 112 camas. O futuro passa por uma expensão para Lisboa e “para países de expressão portuguesa”.
Hospitais públicos perdem quase 700 camas num ano e privados
ficam com 30% do total
Capacidade de internamento dos hospitais privados é neste momento igual a metade da que existe no Serviço Nacional de Saúde. Sector já faz 13% das urgências de todo o país, 30% das consultas e 20% dos internamentos.
O recurso às urgências hospitalares continua a ser excessivo em Portugal e o caos nas urgências é um problema cíclico, não sendo um exclusivo português, mas podia ser minorado com algumas medidas, acredita Luís Campos, presidente do Conselho Nacional para a Qualidade em Saúde, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna e autor do “Roteiro de Intervenção em Cuidados de Emergência e Urgência”, apresentado no final de 2014, no âmbito duma avaliação do Plano Nacional de Saúde. “Este é um problema complexo e, como tal, não tem uma receita milagrosa”, avisa
Fez parte de uma comissão que delineou a reforma das urgências em 2008. Presume-se que o vosso trabalho visava, entre muitos objectivos, que as situações de caos vividas ciclicamente nas urgências não fossem tão frequentes nem tão extremas. Por que razão é que se continuam a repetir, de ano para ano?
As urgências são a confluência dos problemas de saúde e sociais das pessoas com todas as disfunções do sistema de saúde, mas, ao mesmo tempo, respondem de forma eficaz, resolvendo ou encaminhando os problemas das pessoas. A situação actual representa, acima de tudo, o arrastar de um problema que é cíclico, é complexo e, como tal, não tem uma solução milagrosa ao virar da esquina, exigindo uma resposta sistémica para as suas múltiplas causas. Existem algumas medidas simples que o poderiam atenuar.
Mas a situação não está pior do que num passado recente?
O agravamento dos problemas de saúde das pessoas, que ocorrem necessariamente em todos os povos que empobrecem, e as restrições no Serviço Nacional de Saúde (SNS) ditadas pela crise económica, que têm dificultado a capacidade de resposta, estarão seguramente a contribuir este ano para a agudização deste problema, mas parece-me abusivo dizer que toda a culpa é da crise assim como afirmar que se deve ao colapso do SNS.
A reforma das urgências não devia ter prevenido este tipo de situações? Será porque não foi concretizada?
A nossa reforma foi implementada na sua quase totalidade mas não poderia prevenir o actual problema das urgências porque foi essencialmente uma reforma estrutural. Os objectivos da reforma de 2008 foram a redefinição da rede de urgências, de forma a melhorar o acesso a este tipo de serviços, a equidade nesse acesso e a qualidade da assistência, garantindo que os hospitais ou centros de saúde tinham capacidade de resposta para o nível de urgência que neles estava sediada. Esta reforma foi, além disso, quem definiu, na prática, a actual configuração da rede de hospitais agudos, levando a uma concentração desses hospitais, que passaram dos 73 para os atuais 41. Com a proposta complementar de 45 Serviços de Urgência Básica, dos quais estão a funcionar 41, conseguiu que mais de 90% da população esteja a menos de meia hora de qualquer ponto de urgência.
Mas então o problema actual é de excesso de procura das urgências ou de diminuição da capacidade de resposta?
O número de urgências não tem aumentado ao longo dos anos, ao contrário do que tem acontecido noutros países europeus, embora continue excessiva. Aumentou apenas no Inverno, embora não mais do que no Inverno passado. No entanto, a gravidade dos doentes tem aumentado nos últimos anos e também o número de internamentos. Este ano assistiu-se a uma menor capacidade de resposta, o que é preocupante porque ainda não estamos sequer em pico de gripe.
Porque é que diz que é excessivo o recurso às urgências e como é que explica esse excesso?
Na realidade, cada 10 portugueses vão, em média, seis vezes por ano a uma urgência hospitalar. Em Inglaterra, por exemplo, apenas vão três vezes. Além disso, em Portugal, 40% dos casos podiam ser resolvidos nos cuidados primários. Para isto contribui um milhão de pessoas sem médico de família, maior dificuldade de acesso ao médico nos centros de saúde que não foram abrangidos pela reforma hospitalar, ausência de outros especialistas ou acesso a exames complementares nos centros de saúde. Mas também existe falta de alternativas nos próprios hospitais, que não estipulam vagas nas consultas para doentes não programados nem fazem um aproveitamento pleno dos hospitais de dia. Depois, a falta de uma resposta integrada proactiva aos doentes crónicos, particularmente aos mais frágeis, idosos e com muitas co-morbilidades, que são os grandes frequentadores das urgências e consomem mais de metade dos recursos da saúde. Finalmente, uma pequena percentagem de doentes dirige-se às urgências apenas por razões de proximidade, ou por conveniência de horário, porque não querem nem podem faltar ao emprego.
Mas disse também que existe uma diminuição da capacidade de resposta. É por falta de médicos?
As limitações nas contratações terão afectado muitos hospitais mas também a diminuição do pagamento das horas extraordinárias tem desmotivado muitos profissionais para a prestação do serviço de urgência, um trabalho altamente exigente em termos físicos e emocionais. Aliado a isto está o recurso a internos, médicos indiferenciados ou mesmo médicos contratados às empresas, que caem nos bancos “de pára-quedas”, a que as equipas fixas recorrem, tendo diminuído os médicos mais experientes na linha da frente. Este facto diminui a capacidade de decisão na área de maior risco na urgência e aquela em que a experiência e competência dos médicos pode acelerar mais os fluxos e diminuir o erro. Mas a acumulação de doentes na urgência por falta de vagas nas enfermarias, mobilizando grande parte de capacidade da equipa que está na urgência, é também uma das causas mais importantes.
Charlie Hebdo 'Mentor' que radicalizou Kouachi agora é... enfermeiro
“Um aluno estudioso e discreto”. É desta forma que os colegas de Farid Benyettou, no hospital Pitié-Salpêtrière, o descrevem. E quem é Farid? Este aluno de enfermagem está a fazer um internato neste hospital, que recebeu vítimas do ataque ao Charlie Hebdo. Anos antes, conta o Le Parisien, foi condenado por associação criminosa. Entre os seus conhecidos contam-se os irmãos Kouachi.
MUNDO
DR
O Le Parisien dá conta de um volte-face curioso envolvendo o ataque à redação do jornal satírico Charlie Hebdo. Farid Benyettou, o antigo 'emir' (comandante, em árabe) que ajudou um dos irmãos Kouachi a radicalizar-se é atualmente um enfermeiro no hospital Pitié-Salpêtrière, uma enorme unidade de saúde que na quarta-feira recebeu feridos do ataque ao Charlie Hebdo.
Nascido a 10 de maio de 1981, Farid (à esquerda na imagem acima) chegou a ser presença regular na mesquita Adda'wa. No início dos anos 2000 conheceu os irmãos Kouachi, em particular Chérif, um dos atacantes, a quem terá professado a sua mensagem radical. Farid chega mesmo a ser descrito como mentor. Em 2008, foi condenado por associação criminosa por liderar a célula Buttes Chaumont.
Conta o mesmo jornal francês que, depois de ter sido libertado em 2011, Farid viria a ingressar no curso de enfermagem no ano seguinte. No início do mês passado integrou o Pitié-Salpêtrière, onde está a fazer o internato em enfermagem.
Farid não foi escalado para trabalhar na quarta e quinta-feira, mas terá voltado ao serviço para um turno na passada sexta-feira. Entre os colegas, o espanto é grande, escreve o Le Parisien.
Com um passado ligado ao radicalismo islâmico, além da relação que construiu com um dos homens que entrou de metralhadora em punho na redação do Charlie Hebdo, Farid tornou-se agora assunto na imprensa francesa. Os colegas, apesar da surpresa, descrevem-no como um “aluno estudioso e discreto”.
É só aparato!
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