CONSENSO OU DISSENSO
Andam por aí uns sujeitos, de
candeia na mão, à procura de consensos, na escuridão.
Mas, do outro lado, andam outros
a responder, com dissensos aos pedidos de consensos. E quanto mais uns tentam
consensualizar mais os outros se esforçam por dissensualizar.
Cada qual, a seu modo, procura a
coesão social, uma espécie de cimento a unir coerentemente as partes de um
todo, que constitui a sociedade.
Porém, a família etimológica a
que pertence a palavra [coesão] (co+esão
deriva do latim “cum + hæsi), sendo “hæsi” o pretérito
perfeito do verbo “hæreo”, ou do outro, seu antecessor “hæresco” (que quer
dizer: ficar
ligado ou pegado a) … Pois, pois, mas… também serve de base ou raiz, donde derivam as palavras [opinião, sistema,
doutrina, heresia].
Agora, de posse destas raízes,
vejamos o sentido do consenso e do dissenso.
Imaginemos que o consenso é a pena e o
dissenso, o tinteiro. Se o consenso (a pena) quiser molhar-se, (penetrar no dissenso) e o dissenso (o tinteiro), não estiver quieto, disponível,
por mais que o consenso se esforce, o dissenso, não fica quieto, o tempo
suficiente, para que o consenso o penetre e assimile.
Nestas tentativas de coerir o consenso com o dissenso,
quanto mais o primeiro tenta penetrar o segundo, mais o segundo cresce e se
fortifica, e fecha, nas suas opiniões, sistema,
doutrina ou heresia (é só escolher). Ora se as “hési” ou “heresis”, têm uns agentes que se esforçam por promover e aumentar o
dissenso, perante o consenso, que se lhes oferece; o consenso não é possível,
pois o dissenso não é mais do que o esforço contínuo de o contrário, não perder
a sua entidade ou carácter. Manter a
sua…
Aliás, é o consenso, procurado,
entre os diferentes, que provoca a necessidade de o dissenso se manifestar, na
sua diversidade.
Nem sequer precisa de afirmar os valores, ou a falta deles, que estão na
base da sua diferença: basta dizer que está a afastar-se do inimigo consenso, ou de quem o promove. É nesse
movimento de afastamento que se cria o dissenso.
É este o mecanismo de a coesão ou união de esforços, a chamada “sinergia”
[efeito
resultante da acção de vários agentes que actuam da mesma forma, cujo valor é
superior ao valor do conjunto desses agentes, se actuassem individualmente; o
todo é mais do que a simples soma das partes].
É esta a razão de ser de a coesão
promover incoesão;
a coerência
desembocar na incoerência;
o consenso gerar o dissenso.
Moral da coisa: abaixo o consenso, que gera dissenso.
Talvez, deste modo, se obriguem
os incoerentes, ou “dissensores”, a
justificarem os valores reais e o meio de os conseguir, que estão na base da
sua dissensão ou dissenso; que os incompatibilizam, num consenso: não basta
dizer que está contra; é preciso dizer porquê e como se faz melhor: {Não se aceitam
sugestões, cantigas, de quem saiba mais, mas aceitamo‑las, sim, de quem tenha
feito melhor e não o mesmo, se não muito pior; de quem ponha em prática o que
sabe}.
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