NB:
Quando Ulisses veio até uma terra que lhe fechou as pernas ao U e passou a O, primeira letra de Olissipo, em homenagem a esse heroico navegador, hoje chama-se Lisboa, deixou a guadar-lhe o reino de Ítaca, a sua amantíssima esposa, Penélope de seu nome.
Os gulosos rodeavam o palácio de Ulisses onde os jantares se repetiam.
O objectivo era casar com Penélope, já que Ulisses nunca mais regressava.
Esta, que jurou fidelidade ao legítimo esposo, não pretendia substitui-lo, porque ainda não tinha sido criada a lei do divórcio. Arranjou uma maneira habilidosa de manter distantes os pretendente: fazer um manto a ser usado no casamento.
Simplesmente, o manto nunca mais terminava, porque o que fazia de dia desfazia de noite.
Ora este caso do FF é parecido, pois os gastrólogos, lá do sítio, fazem nas horas extras o que desfazem ou não fazem mesmo, nas horas normais de trabalho.
A razão deste proceder é simples:
Se fizessem nas horas normais o que fazem nas extraordinárias, para que seriam necessárias as extras.
É esta forma de agir/não agir, que sugerimos aos Enfermeiros, quando falamos em greve de braços caídos, porque, além de não sofrerem os descontos na remuneração, ainda por cima, mostram o valor do "Acto Enfermeiro" e determinam o recurso a horas extraordinárias, para receber «à peça, por peça», que é um modelo "extra"dentro do outro modelo das horas extras.
Por isso, lendo, abaixo, a denúncia feita aos 4 ventos, por quem ainda não perdeu, de todo, a vergonha, facilmente se pode, a partir destas práticas construir um modelo de greve de zelo ou braços para baixo.
Exmo. Sr. Director Clínico do Hospital Fernando Fonseca, EPE
Dr. Nuno Alves
Exmos Srs.
No actual contexto económico de Portugal, urge refletir e promover medidas de racionalização de recursos humanos e materiais.
Assim sendo, sinto ser meu dever denunciar uma situação recorrente e sistemática, lesiva para os bons interesses dos doentes e para a necessária sustentabilidade do SNS:
1.Esta prática decorre no Serviço de Gastrenterologia do Hospital Fernando Fonseca EPE, do qual é responsável o Dr. J. de D. e D.
2.O serviço não tem capacidade de execução, explorando o horário ordinário dos seus elementos, de todos os exames complementares (endoscópicos) solicitados.
3.Foi acordado entre a administração e os médicos que o aceitaram, a realização deturnos extra de exames endoscópicos, pagos "à peça" - vários médicos, incluindo o director, aceitaram-nos.
4.Ora, existe umaenorme disparidade entre a rentabilidade de um turno "normal" e um turno "extra", motivada, claramente, pela compensação monetária que o pagamento "à peça" traduz.
5.Essas diferenças de produção chegam a atingir os 100%, estando geralmente agendado um número de exames nunca comparável com os turnos ordinários e sempre impossível de cumprir, se observadas as normas de boa prática médica e endoscópica.
6.Salienta-se que isto tem colocado, indubitavelmente, em risco asegurança do doente e, muitas vezes, torna questionável o interesse desse exame e determina frequentemente a sua repetição.
7.São forçosamentetestemunhos desta situação os elementos não médicos do serviço, enfermeiros e auxiliares, que assumidamente não são cúmplices disso.
8.Será fácil comprovar esta denúncia, ao rever e comparar os agendamentos informáticos, bem como ao analisar a produção dos médicos em turnos ordinários e extras.
9. Uma última nota para aescandalosa prestação de serviço de um médico externo, contratado para realização de exames de CPRE: pago à peça, realiza múltiplos exames por turno, múltiplos exames por doente e recebe múltiplos do ordenado de qualquer dos médicos contratados desse hospital. Claro, com o conluio do director de serviço e do director clínico.
Porque esta prática reiterada e do conhecimento dos responsáveis, é altamente lesiva para a saúde e herário públicos, sinto ser meu dever denunciá-la às entidades competentes, ainda que anonimamente.
Não deve persistir e deve haver responsabilização.
Outubro de 2013
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