segunda-feira, 1 de abril de 2013

«Quem te Manda, Sapateiro, Tocar Rabecão»


O Povo diz esta máxima, por experiência própria, assimilada ao longo dos anos, e da figura que faziam os sapateiros, quando se punham a ir além do chinelo, tentando dar-nos música. Faziam sempre má figura. Por isso, foi exarado, no livro da sabedoria popular, o adágio em epígrafe.

É, assim, com os nossos administradores e chefias, que não sabem o terreno que pisam, nem as circunstâncias, que o rodeiam.

A Enfermagem é uma profissão essencialmente feminina, eis uma das circunstâncias previstas.

As suas origens vamos bebê-las, no antigo gineceu da família, onde o homem, só entrava para nascer e para morrer, isto quando as famílias eram grandes e inter-geracionais.

Esta situação tem consequências, quando da prática doméstica, se passa à institucional pública.

Há dias, uma das mulheres Enfermeiras, que merece o louvor da raça, porque está a dar o seu contributo para a renovação e propagação da espécie, tem o direito, bem magro, aliás, de poder dar assistência ao seu rebento, com um horário adequado, condição mínima essencial.

Agora, pasmem; num Hospital com 17 0 18 centenas de Enfermeiros, ou mais, calharam duas Enfermeiras no mesmo serviço, com crianças a requererem apoio materno, logo, a dormirem de noite e estarem alerta, de dia.

Só poderiam dar horário adequado a uma delas, alternadamente. Miséria das misérias…

Depois, vem o diretor dos Recursos Humanos arengar que tem de compreender que só podem dar horário a uma das mães, ainda que sabendo que não estão a dar nada, mas a conceder uma regra, que a maternidade impõe.  

Há bastantes anos que se concluiu que há uma ausência permanente, de cerca de 30%, de Enfermeiras, por gozo das várias licenças, nomeadamente, a da maternidade. Seja qual for o sistema de gestão, terá de contar com as ausências inerentes à condição feminina e fazer-lhes frente, com substitutos adequados, claramente.

Se não se tratasse de serviços de humanização permanente, ficamos com algumas dúvidas acerca da humanidade destes humanizadores, que usam o espeto de pau, em casa de ferreiro.

As filhas do Salazar ficaram conhecidas por não poderem casar e trabalharem em Hospitais públicos… mas podiam ter filhos, curiosamente.

Este pequeno nada queria dizer; se pretendem ter filhos, o Hospital Público, não reconhece à mãe, qualquer direito de assistência materna.

Será que esta forma de pensar; “salazarou-se” e mantém-se em vigor, no espírito e na letra, apesar de tantas coisas que aconteceram, à volta dos Hospitais públicos e das mães!

Esta mentalidade tem de ser substituída pela de quem perceba que uma profissão essencialmente feminina, comporta uma carga própria, que convém ter em consideração, para quem administra estes Hospitais, pois não pode fazer tábua-rasa dos direitos humanos, um dos quais é o filho poder contar com a assistência da mãe, no seu crescimento, em tempo oportuno e não antes ou depois de…

Vamos lá a ter maneiras e a ser criativos na organização dos serviços, sem estar a transferir vergonhosa e preguiçosamente, a obrigação de prever e ajustar estas condições humanas, para as próprias mães, ainda que não tenham acompanhado os seus, se é que os têm!

Mostrem que ser chefe ou administrador de recursos humanos é coisa complexa e para levar a sério, não toda a gente quer ser isso, por ser tão cómodo, o cargo…

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