Trabalho numa UCSP, somos duas Enfermeiras: uma faz as manhãs; outra, as tardes.
P: Se uma adoecer a outra é obrigada a fazer o turno da uma?
R: Não é. Acabado o seu turno de trabalho, a mais não é obrigada, porque não há doentes dependentes, mas rotinas adiáveis, por algum tempo.
O Sr. Ministro da Saúde só tem uma preocupação: arranjar Médicos de Família para os "Sem Abrigo e Sorte".
Há um problema de ordem habilitacional, mas se a OE se não intrometer, o Médico de Família feito em Portugal ou importado já pronto a usar (sorte que os que sendo portugueses e não frequentaram os cursos de dinamização cultural no Instituto do Dr. Pisco, não têm), podem substituir a Enfermeira doente, se a OE, assim entender, repito.
Os ignorantes desconhecem muita coisa, porque ignoram, ainda mais coisas. E os pais, não tendo em que ocupá-los, mandam-nos dar cabo da nossa paciência, que é entretenimento prático.
Uma delas é a origem dos "horários acrescidos" e a percentagem automática dos 30%.
Andam sempre com o livro das estatísticas debaixo da capa, para mostrarem sabedoria e ou destino imaginário, no corredor de ligação.
Ora, a precursora da estatística, dizem os manuais do 12º, foi Florence Nightingale, por isso, sendo uma das nossas admiradas, devido à sua precocidade lúcida, esclarecemos que há, em média, cerca de 30% de ausências ao serviço, por causas várias e normais.
Acabar com os "horários acrescidos" e transformá-los em Enfermeiros com horários normais, seria uma medida inteligente e pensada, se essa reserva ficasse disponível para suprir as carências, onde elas surgem.
Como nada disso é feito, porque estão a gestões, que temos e não devíamos ter, habituadas a abusar das vidas dos Enfermeiros, para resolver carências a custo zero.
Mas a culpa não é dessas gestões, à beira da inimputabilidade; a culpa é dos próprios Enfermeiros, que não se fazem respeitar.
Ora, se a vida da função, que exercem, é controlada pelas gestões, que temos, a outra, dita privada, é de controlo exclusivo dos próprios e não pode colidir com a outra.
Conclusão: não são os governantes e gestores, que têm de mostrar que o valem os Enfermeiros, para que servem, que falta fazem; são os próprios Enfermeiros, que têm de demonstrar tudo isso, impondo respeito por si e pelo seu trabalho.
Prosseguir um turno, de forma imprevista, é um transtorno facilmente quantificável, em parte, mas imprevisível, nas consequências, dado que o cansaço aumenta e potencia as hipóteses de erros humanos.
Não se deixar sobrecarregar é um dever ético e moral, por si, para si e para com os outros.
Se os ministros e administradores não vêem isto, temos de ser nós, quais varinhas de cego, a orientá-los, entenderam.
E não venham cá com as desculpas do medo, pois se fizerem uma asneira devido à sobrecarga de trabalho, a seguradora não cobre riscos desses e, aí, sim, é caso para terem medo!
Com amizade
José Azevedo
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