segunda-feira, 13 de maio de 2013

AINDA O DIA DO ENFERMEIRO


AINDA O DIA DO ENFERMEIRO

Os Colegas Maria José e Helder falaram muito bem da dicotomia:

Num dos ramos está o doente;

No outro está o registo.

Se registo não tenho tempo de olhar para o doente.

Se olho pelo doente, não tenho tempo de registar.

Se não registo posso ser punido, repreendido, ameaçado de despedimento.

Se não assisto o doente não tenho que registar.

E de duas uma:

Ou não assisto o doente e invento os registos;

Ou assisto o doente e não registo, porque os registos eu posso inventá-los, mas os cuidados ao doente, não posso falsificá-los.

Para complicar, há outro obstáculo: a responsabilidade.

Se não registo os cuidados que presto, ou não presto, sou responsabilizado;

Se deixo para segundo plano os cuidados ao doente e faço os registos direitinhos, ainda que o conteúdo seja falso, sou louvado, sou modelo;

Se os registos não reflectem as regras da CIPE, segundo o entendimento local da instituição, há complicação com o grau de responsabilidade e o processo disciplinar, espreita-me na próxima esquina.

O que será mais vantajoso:

Atender o doente a correr e fazer os registos pausadamente;

Ou atender o doente meticulosamente e fazer os registos à pressa?

Quem me vai avaliar dará mais valor aos registos ou aos cuidados que presto, ainda que o doente já não esteja presente?

É óbvio que os registos ficam e o doente parte. O que fica é a base da avaliação. O que parte é ficção.

Está explicado o fenómeno de os Enfermeiros passarem mais tempo junto dos computadores do que seria para admitir, pois que se trata duma ferramenta para facilitar os registos.

Desta forma o Enfermeiro desvaloriza-se aos olhos do doente, para fabricar bons registos que outro profissional vai ler, servindo a exactidão dos registos para os afastar também, ainda mais do “seu” doente.

E a responsabilidade que, segundo a ética, está acima da obediência, visto que o Enfermeiro deve orientar-se pela natureza ética dos seus deveres, despersonaliza-se e descaracteriza-se, para se aninhar à sombra da responsabilidade doutros profissionais sem tomar consciência de que isso não lhe serve de nada, em caso de negligência comprovada.

É um assunto muito sério e a merecer soluções adequadas ao desempenho correcto, adiando  os modelos fictícios, mal estudados, mal imaginados e mais mal compreendidos, da “manta curta”!

O modelo é uma réplica, em ponto reduzido do real e não do imaginário ou ficcionado.

A ficção não se modela.

 

1 comentário:

  1. Não posso estar mais de acordo com o que li.
    A qualidade e competencia do enfermeiro varia na razao inversa da sua apetencia para o CIPÊS.
    E depois os que contestam são perseguidoa e aos ineptos aplica-se o pricipio de Peter, podendo até, se a tanta imbecilidade se juntar a falta de principios como profissional e cpmo gente, e chegar ao tão ambicionado "cargo" de coordenador(zeco).

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