Um novo caminho para a
Europa:
Plano da CES para o
investimento, crescimento sustentável e empregos de
qualidade
Adotado na reunião do Comité Executivo da CES
a 7 de Novembro de 2013
Introdução
A situação económica e social na União
Europeia, em particular nos países em
dificuldade, é alarmante. Lamentamos o
aumento das desigualdades e dos
desequilíbrios geográficos, o aumento do
desemprego - especialmente para os jovens
- a redução do consumo, a coesão social
comprometida, aumentando a instabilidade
política, a ascensão de grupos
anti-europeus e o colapso dos mercados locais. Este é
o resultado de políticas de austeridade que
incentivaram a desvalorização interna, a
privatização de serviços públicos, cortes
nos salários, nas pensões e nas prestações
sociais. Estamos presos a uma espiral
económica descendente e ao aumento da
dívida pública. A recessão ameaça alastrar
a todo o continente, com impacto negativo
na economia global. Estas políticas exacerbaram
as divergências económicas e
políticas da UE em lugar de as superar.
O desespero de muitos trabalhadores nos
países mais afetados leva à migração de
cidadãos em busca de emprego temporário ou
permanente noutros Estados membros
da União Europeia e fora do mercado de
trabalho regulado, criando uma situação de
mobilidade forçada e não a desejada
liberdade de circulação.
A evolução demográfica, a escassez dos
recursos naturais, o aumento dos preços da
energia, o papel das economias emergentes
no comércio mundial, a crescente
dependência das empresas no conhecimento e
na tecnologia e as contínuas
incertezas no sector bancário constituem
grandes desafios adicionais que enfrentamos
nesta segunda década do século XXI.
Vencer a recessão e a estagnação das nossas
economias é a mais urgente tarefa que
temos diante de nós. A contínua queda no
PIB em alguns países da UE deve ser
interrompida e revertida. Precisamos de uma
forte recuperação, apoiada por um sector
financeiro sólido que sirva a economia
real, de forma a evitar a estagnação prolongada
em toda a UE como um todo. Este é o caminho
que garante a sustentabilidade das
finanças do Estado. A consolidação dos
orçamentos do Estado deve ocorrer em fases
económicas estáveis e deve ser levada a
cabo ao longo de um período mais
prolongado no tempo. Os orçamentos devem
ser equitativos a nível social e garantir
serviços públicos de qualidade. Este
objetivo pode ser conseguido, permitindo
flexibilidade no défice público e/ ou
introduzindo a possibilidade de não submeter o
investimento produtivo específico para as
restrições orçamentais do Pacto de
Estabilidade.
A CES acredita que a UE tem potencial para
combater a crise. Este potencial depende
de pessoas detentoras de elevados níveis de
qualificações, de uma forte base
industrial, de bons serviços públicos e
privados, de investigação e instituições de
ensino inovadoras, de sistemas estatais bem
organizados, de riqueza cultural, de bemestar
social inclusivo e bem distribuído no seio
da EU e de uma Zona Euro com uma
moeda única estável. Este potencial deve
ser utilizado para superar a crise em
benefício das pessoas. Infelizmente, este
potencial está a ser dissipado, em vez de ser
desenvolvido. A UE tem que mobilizar as
suas forças para um futuro melhor, mais
igualitário, próspero, democrático e
pacífico.
Isto requer investimentos na geração de
energia, reduzindo o consumo de energia
para reduzir a dependência energética e
para diminuir as emissões de gases de efeito
estufa. Requer investimento em indústrias
sustentáveis, especialmente PMEs e em
serviços, formação e educação, investigação
e desenvolvimento, infraestruturas de
transporte modernos, na reindustrialização
da UE, em serviços privados eficientes e
em serviços públicos de qualidade.
Há uma necessidade urgente de enveredar por
um novo rumo para o futuro, de
estabilizar o ambiente económico, de criar
postos de trabalho para o século XXI e de
dar acesso à prosperidade para todos. A
Europa precisa de um plano de recuperação
a longo prazo.
Um plano de recuperação levaria a uma União
Europeia mais integrada, seria benéfico
para todos os países e um ato de
solidariedade para com os países em dificuldade; é
baseado na democracia, na estabilidade e na
coesão. Contribuiria consideravelmente
para a modernização das economias nacionais
e para a melhoria da produtividade.
Trabalhar em conjunto na União Europeia para o investimento sustentável e para
empregos dignos.
As políticas de desvalorização interna têm
tido consequências negativas para a
procura e para os investimentos; tais
políticas também têm estimulado a concorrência
desleal sobre os salários, as condições de
trabalho e o direito do trabalho. Precisamos
de inverter esta tendência através do
reforço da cooperação.
As seguintes medidas proporcionariam a
possibilidade de maior cooperação:
• Cooperação em matéria de fuga aos
impostos, evasão e paraísos fiscais através da
partilha exaustiva de informações, da cooperação
entre as autoridades fiscais
nacionais e da harmonização da base
tributária das empresas;
• Reforma do mercado financeiro para
reequilibrar a economia da UE;
• Maior cooperação entre as autoridades
nacionais e os serviços públicos para
promover serviços públicos de qualidade a
longo prazo;
• Envolvimento dos parceiros sociais no
reforço do diálogo social, na negociação
coletiva e na participação dos
trabalhadores, em especial quanto ao processo de
governação económica a nível nacional e da
UE, relativamente à educação, à
formação e à reforma do mercado de
trabalho;
• Promoção, respeito e ampliação dos padrões
sociais europeus, por forma a lutar
contra a precariedade do emprego e a
promover o trabalho digno, de qualidade.
Alguns países em dificuldade precisam de
medidas adicionais para estabilizar a sua
economia e para criar estruturas estatais
sólidas. Alargar os termos dos acordos de
empréstimos bilaterais e multilaterais
existentes, em especial para novos
investimentos a longo prazo e reduzir substancialmente
as taxas de juros
proporcionaria segurança no desenvolvimento
económico. Neste contexto, a
introdução de Eurobonds pode proteger os
países em dificuldades da especulação
descontrolada e constituir uma ferramenta
eficiente para investimentos produtivos. Isto
implica também uma revisão do mandato do
BCE, garantindo a esta instituição um
papel de credor de última instância.
O orçamento da UE e em particular os fundos
estruturais devem apoiar o crescimento
sustentável, os investimentos e os empregos
dignos. Tanto os recursos não utilizados
como os novos fundos estruturais devem
promover as prioridades estabelecidas neste
plano, em coerência com os objetivos da
Estratégia Europa 2020. A utilização dos
fundos estruturais deve ser facilitada
através da simplificação dos procedimentos e
retirando recursos de cofinanciamento do
défice e da dívida.
A UE necessita de um
plano de recuperação para o crescimento sustentável e
para o trabalho digno.
Um estímulo de curto prazo, tal como foi
defendido em 2009, já não é suficiente.
Precisamos de uma perspetiva de longo prazo
para superar o agravamento das
dificuldades e das divisões na UE. Propomos
uma meta de investimento de mais 2 %
do PIB da UE por ano, durante um período de
10 anos.
O objetivo é:
• Garantir riqueza, bem como suficientes
trabalhos dignos e de alta qualidade com
futuro, especialmente para os jovens;
• Ser sustentável, concebido de forma a
manter a coesão das sociedades europeias e
ajustado aos desafios ecológicos, sociais e
demográficos;
• Ser controlado democraticamente;
• Ser iniciado como um projeto
supranacional pan-europeu e não como o valor total do
estímulo nacional ou como um programa de
investimento dos países europeus;
• Implementar medidas necessárias a curto
prazo, no contexto dos desafios de longo
prazo e dar-lhes continuidade, mesmo
durante o período de ascensão económica;
• Estabelecer regras para o mercado e
prover orientação política, orientando desta
forma também os investimentos privados para
projetos inovadores para o futuro;
• Ter um financiamento robusto e ao mesmo
tempo colocar os países europeus em
condições de gerar impostos sobre o
rendimento para a prestação de serviços
públicos e a redução da dívida pública;
• Contribuir para a redistribuição dos
rendimentos de forma a combater as
desigualdades e a pobreza a nível nacional
e europeu;
• Acompanhar as políticas fiscais que
possam incentivar o investimento que por sua
vez promove o crescimento do emprego de
alta qualidade e incentiva as empresas a
adotar um comportamento socialmente
responsável.
Os países e grupos ricos e mais fortes a
nível económico terão que contribuir mais
para o financiamento de investimentos
futuros.
Tal plano deverá ser aberto a todos os
países da UE, embora os investimentos só
devam ser direcionados para os países que
tenham contribuído para o plano.
As orientações para o investimento podem
ser retiradas do passado da UE e as
prioridades, do BEI, nomeadamente:
• Transformação de energia (ver Roteiro
para a Energia 2050, Comissão Europeia);
• Rede e infraestrutura de transportes (por
exemplo, Rede Transeuropeia de
Transportes – TEM transport);
• Educação e formação;
• Expansão das redes de banda larga;
• Futuro industrial (apoio a PMEs - com a
condição de que sejam aplicadas regras
legais e acordadas através de negociação
coletiva - eficiência energética e utilização
eficiente de recursos, empréstimos
bonificados, programa de microcrédito, etc);
• Os serviços públicos e privados (ex.
renovação urbana, saúde e bem-estar);
• Infraestruturas e habitação para idosos;
• Habitação social;
• Promoção da gestão sustentável da água.
Os projectos de investimento à escala
europeia devem ser desenvolvidos em conjunto
com projectos de investimento de âmbito
nacional. Deve ser dada prioridade aos
investimentos com maior impacto sobre a
atividade económica doméstica. Isto deve
também ser consistente com a orientação do
investimento de modo a proporcionar
uma maior perspetiva de futuro retorno
financeiro.
Rumo aos acordos
institucionais democráticos e ao financiamento do plano de
retoma económica
É necessária uma instituição europeia para
gerir o plano; tal instituição vai abrir o
acesso ao financiamento em toda a UE e pode
emitir obrigações europeias de longo
prazo com taxas de juros relativamente
baixas como base para o financiamento de
investimentos em toda a UE.
Existem diferentes possibilidades para a
direção, coordenação e implementação do
plano de investimento europeu, e para o seu
controlo democrático, por exemplo,
· O uso de organismo(s) existente(s), como
o BEI
e/ou
· A criação de um novo organismo, a ser
concebido pelos Estados-Membros, o
Parlamento Europeu e a Comissão Europeia.
Em ambos os casos será indispensável
assegurar o controlo democrático da
orientação e supervisão das políticas
estratégicas do plano de recuperação e
assegurar a sua coordenação. O Parlamento
Europeu terá que decidir como fazê-lo.
Os parceiros sociais devem ser envolvidos
em todas as fases do processo
democrático.
Em ambos os casos a instituição irá receber
e gerir o capital inicial e posteriormente
obter financiamento adicional pela emissão
de títulos de longo prazo que incorrerão
em taxas de juro anuais, aproveitando os grandes
volumes de poupança, tanto dentro
como fora da UE, em busca de oportunidades
de investimento seguras.
O método padrão deve ser o investimento
direto, os empréstimos com juros
bonificados, os subsídios ao investimento e
/ ou as obrigações de projetos
recentemente introduzidas. Estes irão
acompanhar pedidos de empresas, governos
nacionais, autoridades regionais e locais e
outras organizações nos Estados membros.
O êxito depende assim de um fluxo
satisfatório de projetos convincentes.
As obrigações de juros para empréstimos
contraídos pelos organismos públicos
poderão ser financiadas com receitas
fiscais adicionais provenientes da recuperação
económica.
Os empréstimos ao sector privado devem ser
comercialmente viáveis e, por
conseguinte, garantir um retorno.
A fim de manter a taxa de juro das
obrigações a 10 anos o mais baixo possível, a
instituição europeia que emite os títulos
deve ser vista como um devedor solvente com
classificações de crédito sólidas nos
mercados financeiros. Seria, portanto, necessário
ter capital suficiente à sua disposição. Os
Estados-Membros teriam que decidir como
organizar a fonte deste património.
No entanto, tendo os trabalhadores e
contribuintes suportado já o peso principal da
crise, é chegado o momento de os ricos e
abastados participarem também neste
financiamento pontual de capital para o
guardião europeu do crescimento e do
investimento, através, por exemplo, de um
imposto pontual sobre a riqueza.
Os Estados-Membros podem decidir usar
recursos não utilizados do fundo estrutural
para contribuir para este património e / ou
utilizar os fundos estruturais como uma cogarantia
para os empréstimos. A Comissão também pode
ser envolvida como cogarantia
para os empréstimos.
Os requisitos iniciais de reembolso são
extremamente baixos, atingindo apenas os
juros sobre créditos de longo prazo. Embora
isto aumente ao longo do tempo,
especialmente quando os empréstimos
iniciais têm de ser reembolsados, é sempre
uma pequena quantia em relação ao aumento
das receitas fiscais, assumindo que
sobe em linha com o PIB, assim que o
crescimento do PIB for restaurado.
Assim, não há necessidade de aumentar ou
introduzir novos impostos. No entanto, os
Estados-Membros podem escolher os seus
próprios meios para aumentar a receita.
A receita proveniente do Imposto sobre
Operações Financeiras poderia contribuir para
o financiamento do capital inicial a ser
pago pelos governos nacionais ou para o
financiamento dos juros dos empréstimos.
Prever os resultados:
Um plano de investimento a longo prazo deve
aumentar o rendimento nacional e os
níveis de emprego das seguintes maneiras:
· Efeitos imediatos do investimento, o que
significa mais emprego em projetos de
construção e maior procura daí resultante.
· Um aumento substancial das receitas
fiscais será mais do que suficiente para pagar
os empréstimos.
· Ao longo dos próximos anos podem ser
feitas previsões razoáveis dos efeitos
resultantes sobre o rendimento e o nível de
emprego.
A proposta de aumento do investimento em 2%
do PIB da UE por ano deve dar o
impulso inicial do investimento privado
adicional e assim promover medidas de
modernização privadas em larga escala.
No longo prazo, a ofensiva de investimento
numa revisão fundamental das economias
nacionais da Europa em termos de política
energética poderia render até 11 milhões
de novos postos de trabalho inovadores e a
tempo inteiro (ver Anexo 1 ao documento
de origem, em inglês - http://www.etuc.org/IMG/pdf/EN-A-new-path-for-europe-2.pdf)
O crescimento quantitativo e um elevado
nível de emprego também criam a melhor
base para a redução dos níveis da dívida e
da orçamentação de forma sustentável. O
nosso plano vai beneficiar os países da
União Europeia, uma vez que receberão um
impulso adicional para o crescimento e o
emprego e poderão usá-lo para gerar
receitas fiscais diretas e indiretas
significativamente maiores a partir do IRS, do IVA e
do IRC, bem como das contribuições para a
segurança social, e reduzir o custo do
desemprego. Isto, por sua vez, irá facilitar
o reembolso da dívida contraída.
As despesas de investimento no
desenvolvimento de novas instalações para a
educação, formação, investigação, saúde e
outros serviços podem ter um impacto
significativo a longo prazo apenas se
houver despesas correntes para empregar o
pessoal necessário. A criação de empregos
de qualidade entra em conflito com as
políticas de austeridade, cujos cortes nos
gastos públicos levaram em muitos casos à
emigração e à fuga de cérebros.
Os efeitos a longo prazo, assim que os
projetos de investimento estejam concluídos,
não podem ser estimados com precisão. Eles
devem ser substanciais. Por exemplo,
uma transformação de energia irá reduzir as
emissões de dióxido de carbono e
dissociar o fornecimento de energia da
Europa da importação de combustíveis,
poupando assim 300 mil milhões na conta da
energia de combustível europeia. Este é
um dos fatores mais importantes para a
competitividade do amanhã. Isto irá permitir
que a Europa faça uma contribuição
significativa para a redução do impacto da crise
climática global e se torne um modelo para
outras regiões económicas em todo o
mundo.
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