A seta preta simboliza o anarquismo;
A vermelha simboliza os socialismos utópicos;
A branca simboliza a doutrina social da Igreja
Mounier, Emmanuel (1905-1950)
Poder e autoridade
Fundador do personalismo.
Director da revista Esprit, entre 1930 e 1950. Faz uma crítica cerrada ao estatismo tanto na situação limite de Estado Totalitário como no tocante às sementes totalitárias que ele considera existirem no que chama democracia individualista, porque "o estatismo democrático desliza em direcção ao Estado totalitário como o rio para o mar". O personalismo de Mounier é uma espécie de anti-ideologia, como o caracteriza Jean Lacroix, tendo a ver com as próprias vicissitude da revista Esprit, entre 1930 e 1950, que se pretendeu assumir como a enciclopedia do século XX, marcada pela ideia de "refaire la Renaissance". Como salientava o Manifesto do primeiro número. Pormenorizando a asserção de Lacroix, temos que "o personalismo não é nem uma ideologia nem uma filosofia", mas "uma inspiração" que produziu filosofias e "personalistizou" outras ideologias e filosofias. Antes da Segunda Guerra Mundial condenavam o individualismo e a industrialização, apelavam à descentralização e recusavam tanto o liberalismo económico como o marxismo. Chegaram a participar num congresso de intelectuais promovido pela esquerda do Partido de Mussolini, mas também iniciaram uma crítica aos fundamentos do fascismo.
Director da revista Esprit, entre 1930 e 1950. Faz uma crítica cerrada ao estatismo tanto na situação limite de Estado Totalitário como no tocante às sementes totalitárias que ele considera existirem no que chama democracia individualista, porque "o estatismo democrático desliza em direcção ao Estado totalitário como o rio para o mar". O personalismo de Mounier é uma espécie de anti-ideologia, como o caracteriza Jean Lacroix, tendo a ver com as próprias vicissitude da revista Esprit, entre 1930 e 1950, que se pretendeu assumir como a enciclopedia do século XX, marcada pela ideia de "refaire la Renaissance". Como salientava o Manifesto do primeiro número. Pormenorizando a asserção de Lacroix, temos que "o personalismo não é nem uma ideologia nem uma filosofia", mas "uma inspiração" que produziu filosofias e "personalistizou" outras ideologias e filosofias. Antes da Segunda Guerra Mundial condenavam o individualismo e a industrialização, apelavam à descentralização e recusavam tanto o liberalismo económico como o marxismo. Chegaram a participar num congresso de intelectuais promovido pela esquerda do Partido de Mussolini, mas também iniciaram uma crítica aos fundamentos do fascismo.
Têm alguma coincidência com o humanismo integral de Jacques
Maritain, para quem "a pessoa, como pessoa, é uma totalidade" e "o indivíduo,
como indivíduo, é uma parcela". No entanto, enquanto os discipulos do primeiro,
desenvolveram esquemas escolasticamente institucionalistas, os personalistas
assumiram um pendor mais comunitário, numa espécie de reedição das diferenças
entre os aquinistas e os franciscanos.
No pós-guerra, cairam, episodicamente, naquilo que Bernanos
qualificou como "filo-comunismo". Dizia Mounier que "com a teoria comunista não
há acordo possível, mas com os comunistas é preciso trabalhar". Mais, em 1947,
salienta :"desjamos entre nós, na Europa, partidos comunistas fortes, porque são
actualmente a única garantia sólida contra um regresso ao fascismo".
Se certo personalismo faz uma inequívoca tangente com o
marxismo, foram mais marcantes as influências tanto de uma ala existencialista,
com destaque para Berdiaef, em Une Nouvelle Moyen Age, Landsberg, em
Problèmes du personnalisme, em diálogo com Max Scheler, e Paul Ricouer,
como de uma ala classicista, ligada à tradição reflexiva francesa com Jean
Lacroix, Le Senne, Lachièze-Rey e Rougemont.
Cancro do Estado
Com efeito, "o cancro do Estado forma-se no próprio seio das
nossas democracias. desde o dia em que elas despojaram o indivíduo de todos os
seus enraizamentos vivos, de todos os poderes próximos, desde o dia em que
proclamaram que 'entre o estado e o indivíduo não há nada'(Lei de Le Chapelier),
que não devia deixar-se que os individuos se associem, 'segundo os seus
pretensos interesses comuns(ibidem), abriu-se a via para os estados totalitários
modernos. A centralização estende pouco a pouco o seu poder, com a ajuda do
racionalismo, ao qual repugna toda a realidade viva".
Para Mounier "o Estado não é uma comunidade espiritual, uma
pessoa colectiva no sentido próprio da palavra. Ele não está nem acima da
pátria, nem acima da nação, e muito menos das pessoas. É um instrumento ao
serviço das sociedades, e através delas, contra elas se preciso for, ao serviço
das pessoas. instrumento artificial e subordinado, mas necessário".
Aliás, Mounier se considera que a sociedade personalista é uma
sociedade institucionalizada, logo salienta que a instituição tem por base um
contrato.
O Estado tem, pois, um papel negativo e um papel positivo. É
"em último recurso para arbitrar os conflitos das pessoas e dos individuos entre
si" e protege a segurança das sociedades que manifestam uma vontade nacional
comum. Por outro lado, o Estado põe à disposição mecanismos de ligação entre as
sociedades.
Para Mounier o Estado, contudo, também não devia ser neutro:"a
actividade do Estado não é formalmente material; ligada ao homem, ela é
formalmente espiritual, por mais limitado que seja o seu raio de acção". No
entanto, "o Estado personalista não é uma Igreja e também não é uma estrutura
técnica, filosoficamente neutra e indiferente, como é, pelo menos em teoria, o
Estado liberal".
Trata-se, pelo contrário, de um Estado que "colabora duplamente
com as sociedades, suscitando e encorajando as respectivas iniciativas e
reprimindo implacavelmente todo o atentado ao estatuto da pessoa".
Se o Estado se não identifica com a nação, "nem por isso deixa
de ser o guarda da nação; se ele não é autor da sua unidade maleável, nem por
isso e menos o protector da sua paz interior".
Estado articulado
Mais do que um simples pluralismo do Estado, onde se dividia o
poder para impedir o abuso do poder, Mounier defende um Estado articulado ao
serviço de uma sociedade pluralista.
Poder e autoridade
Mounier distingue claramente o poder da autoridade. Se o
primeiro é considerado um domínio, a autoridade é "uma vocação que a pessoa
recebe de Deus (para um cristão), ou da sua missão personalista, que excede a
sua função social (para um não cristão)".
Neste sentido, pretende que o personalismo restaure a
autoridade e organize o poder entendido como "um esforço - e uma técnica - para
apurar em todos os meios sociais o escol espiritual capaz de autoridade". Para
ele "não é o direito que nasce do poder, é o poder, elemento estranho ao
direito, que deve incorporar-se no direito para ser transformado em direito".
Apesar de reconhecer que o personalismo é "um regime para
pequenas nações", concebe, assim, o Estado:"sem domínio das pessoas, não se
reduz ao domínio das coisas:nem totalitário, nem simplesmente técnico. Como o
seu serviço principal é garantir e ajudar as pessoas, o político terá a primazia
sobre o técnico. ".
Para ele, "do ponto de vista personalista, desvanecem-se todas
as diferenças entre o primado germânico da nação, o primado latino do Estado, o
estatismo liberal 'ao serviço' da nação, a ditadura do proletariado 'ao serviço'
da nação proletária", tudo considerado como "diversos aspectos do estatismo",
que "têm variantes ideológicas em torno de uma realidade maligna que releva da
patologia social:o desenvolvimento canceroso do Estado em todas as nações
modernas, qualquer que seja a sua forma política".
Ideologismos, essas imaginações do pensamento, que, conforme
refere Emmanuel Mounier, " correm o risco permanente de fazer passar por cima,
isto é, ao lado da história, as forças espirituais com que nós queremos animar a
história. Umas vezes tomam a forma de um racionalismo mais ou menos rígido.
Constroem então com ideias ou, mais recentemente , com considerações técnicas de
teóricos, um sistema coerente que pensam impõr à história unicamente pela força
da ideia. Quando a história viva ou a realidade do homem lhes resiste, creem ser
tanto mais fiéis à verdade quanto mais aperram ao sistema, tanto mais puros
quanto mantém a sua utopia em imobilidade geométrica" "não é o direito que nasce
do poder, é o poder, elemento estranho ao direito, que dev incorporar-se no
poder para ser transformado em direito" todos eles entendem que "as revelações
feitas ao espírito pela transcendência apenas podem expressar-se numa nova
forma, mescla íntima de saber e não-saber, provocação mais do que certeza. Assim
é precisamente o paradoxo. Brota do ponto de união da eternidade com a
historicidades, do infinito com o finito, da esperança com o desespero, do trans
racional com o racional, do indizível com a linguagem". Ora, "a certeza das
certezas, ou, melhor, o acto de fé central é para a razão uma antinomia, e a sua
solidez está composta do impulso mútuo que se dá nos dois pólos da antinomia".
vem defender que os valores tendem "inevitavelmente a incorporar-se num sujeito
concreto, individual ou colectivo" porque "nascem na consciência da humanidade e
no decorrer do seu desnvolvimento, como se cada época da humanidade tivesse por
vocação descobrir ou inventar para as outras um novo sector de valores". Para o
mesmo autor "cada um nasce, desenvolve-se e depois eclipsa-se durante certo
tempo, numa espécie de sonho histórico... não constituem um mundo já feito...
não se aplicam à realidade como princípios constituídos"do a história. E "a
história não pode ser senão uma co-criação de homens livres", como assinala
Emmanuel Mounier qualifica como o "optimismo trágico". o poder, ainda que seja
habitado pelo mal radical, também acolhe uma tensão para o bem público,
permitindo sempre a esperança da liberdade, a "esperança dos desesperados", de
que fala o mesmo Mounier., por seu lado, vem considerar que a nação é o abraço
que reune o "fervilhar espontâneo de sociedades diversas que rodeiam as pessoas
sob a unidade viva de uma tradição histórica e de uma cultura particularizada na
sua expressão, mas virtualmente universal. Ela é, como se vê, uma realidade
mista e não cristalizada:na base, receptáculo de uma multiplicidade de
sociedades que não lhe cabe digerir, mas sim manter vigorosas; ao alto, senão
uma comunidade no sentido perfeito da palavra, pelo menos, já comunitária, laço
flexível e vivo entre a universalidade espiritual, a única que cada pessoa como
tal pode alcançar e comportar e as sociedades carnais cercam e retêm o
indivíduo" Mounier, tanto apela para o optimismo do poder como para o pessimismo
da pessoa, começou por ser a tendência típica da organização dos homens na
"cidade antiga" da civilização ocidental, desde a "polis" grega à "civitas"
romana. observa que "mais do que um rigoroso estatismo jurídico, é um verdadeiro
panteísmo religioso, no sentido mais estrito, que inspira as suas fórmulas".
Ideologismos passam ao lado da história, 10, 85–Nação, 65, 429–Paradoxo, 24,
155–Poder e direito, 55, 353–Valores incorporados no sujeito, 35, 221, 136, 947
Emmanuel Mounier vai fazer uma crítica cerrada ao estatismo tanto na situação
limite de Estado Totalitário como no tocante às sementes totalitárias que ele
considera existir no que chama democracia individualista, porque "o estatismo
democrático desliza em direcção ao Estado totalitário como o rio para o mar". O
personalismo de Mounier é uma espécie de anti-ideologia, como o caracteriza Jean
Lacroix, tendo a ver com as próprias vicissitude da revista Esprit, entre
1930 e 1950, que se pretendeu assumir como a enciclopedia do século XX, marcada
pela ideia de "refaire la Renaissance", como salientava o Manifesto do primeiro
número. Pormenorizando a asserção de Lacroix, temos que "o personalismo não é
nem uma ideologia nem uma filosofia", mas "uma inspiração" que produziu
filosofias e "personalistizou" outras ideologias e filosofias. Antes da Segunda
Guerra Mundial condenavam o individualismo e a industrialização, apelavam à
descentralização e recusavam tanto o liberalismo económico como o marxismo.
Chegaram a participar num congresso de intelectuais promovido pela esquerda do
Partido de Mussolini, mas também iniciaram uma crítica aos fundamentos do
fascismo. Têm alguma coincidência com o humanismo integral de Jacques Maritain,
para quem "a pessoa, como pessoa, é uma totalidade" e "o indivíduo, como
indivíduo, é uma parcela". No entanto, enquanto os discipulos do primeiro,
desenvolveram esquemas escolasticamente institucionalistas, os personalistas
assumiram um pendor mais comunitário, numa espécie de reedição das diferenças
entre os aquinistas e os franciscanos. No pós-guerra, cairam, episodicamente,
naquilo que Bernanos qualificou como "filo-comunismo". Dizia Mounier que "com a
teoria comunista não há acordo possível, mas com os comunistas é preciso
trabalhar". Mais, em 1947, salienta :"desjamos entre nós, na Europa, partidos
comunistas fortes, porque são actualmente a única garantia sólida contra um
regresso ao fascismo". Se certo personalismo faz uma inequívoca tangente com o
marxismo, foram mais marcantes as influências tanto de uma ala existencialista,
com destaque para Berdiaef, em Une Nouvelle Moyen Age, Landsberg, em
Problèmes du personnalisme, em diálogo com Max Scheler, e Paul Ricouer,
como de uma ala classicista, ligada à tradição reflexiva francesa com Jean
Lacroix, Le Senne, Lachièze-Rey e Rougemont. Com efeito, "o cancro do Estado
forma-se no próprio seio das nossas democracias. desde o dia em que elas
despojaram o indivíduo de todos os seus enraizamentos vivos, de todos os poderes
próximos, desde o dia em que proclamaram que 'entre o estado e o indivíduo não
há nada'(Lei de Le Chapelier), que não devia deixar-se que os individuos se
associem, 'segundo os seus pretensos interesses comuns(ibidem), abriu-se a via
para os estados totalitários modernos. A centralização estende pouco a pouco o
seu poder, com a ajuda do racionalismo, ao qual repugna toda a realidade viva".
Para Mounier "o Estado não é uma comunidade espiritual, uma pessoa colectiva no
sentido próprio da palavra. Ele não está nem acima da pátria, nem acima da
nação, e muito menos das pessoas. É um instrumento ao serviço das sociedades, e
através delas, contra elas se preciso for, ao serviço das pessoas. instrumento
artificial e subordinado, mas necessário". Aliás, Mounier se considera que a
sociedade personalista é uma sociedade institucionalizada, logo salienta que a
instituição tem por base um contrato. O Estado tem, pois, um papel negativo e um
papel positivo. É "em último recurso para arbitrar os conflitos das pessoas e
dos individuos entre si" e protege a segurança das sociedades que manifestam uma
vontade nacional comum. Por outro lado, o Estado põe à disposição mecanismos de
ligação entre as sociedades. Para Mounier o Estado, contudo, também não devia
ser neutro:"a actividade do Estado não é formalmente material; ligada ao homem,
ela é formalmente espiritual, por mais limitado que seja o seu raio de acção".
No entanto, "o Estado personalista não é uma Igreja e também não é uma estrutura
técnica, filosoficamente neutra e indiferente, como é, pelo menos em teoria, o
Estado liberal". Trata-se, pelo contrário, de um Estado que "colabora duplamente
com as sociedades, suscitando e encorajando as respectivas iniciativas e
reprimindo implacavelmente todo o atentado ao estatuto da pessoa". Se o Estado
se não identifica com a nação, "nem por isso deixa de ser o guarda da nação; se
ele não é autor da sua unidade maleável, nem por isso e menos o protector da sua
paz interior". Mounier distingue claramente o poder da autoridade. Se o primeiro
é considerado um domínio, a autoridade é "uma vocação que a pessoa recebe de
Deus (para um cristão), ou da sua missão personalista, que excede a sua função
social (para um não cristão)". Neste sentido, pretende que o personalismo
restaure a autoridade e organize o poder entendido como "um esforço - e uma
técnica - para apurar em todos os meios sociais o escol espiritual capaz de
autoridade". Para ele "não é o direito que nasce do poder, é o poder, elemento
estranho ao direito, que deve incorporar-se no direito para ser transformado em
direito". Apesar de reconhecer que o personalismo é "um regime para pequenas
nações", concebe, assim, o Estado:"sem domínio das pessoas, não se reduz ao
domínio das coisas:nem totalitário, nem simplesmente técnico. Como o seu serviço
principal é garantir e ajudar as pessoas, o político terá a primazia sobre o
técnico. ". Para ele, "do ponto de vista personalista, desvanecem-se todas as
diferenças entre o primado germânico da nação, o primado latino do Estado, o
estatismo liberal 'ao serviço' da nação, a ditadura do proletariado 'ao serviço'
da nação proletária", tudo considerado como "diversos aspectos do estatismo",
que "têm variantes ideológicas em torno de uma realidade maligna que releva da
patologia social:o desenvolvimento canceroso do Estado em todas as nações
modernas, qualquer que seja a sua forma política".
bibliografia
Révolution Personnaliste et Communautaire1935
Manifeste au Service du Personnalisme
Manifeste au Service du Personnalisme
Paris, Éditions Montaigne, 1936. cfr. trad. port. de António
Ramos Rosa, Manifesto ao Serviço do Personalismo, Lisboa, Moraes
Editores, 1967.
Le Personnalisme
Le Personnalisme
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