CEUEM: equidades, falsidades ou inabilidades?
A ‘equidade’ serve para tudo.
É como se fosse um travesti. Quando se lê na imprensa que “Infarmed justifica
autorizações excepcionais com equidade no acesso aos medicamentos” a primeira
atitude será ficar de ‘pé atrás’. Todas as ‘pulhices’ a que este Governo tem
sujeitado os portugueses são sempre e previamente qualificadas de equitativas.
Até que algum órgão competente e independente as analise.
Quando se consulta o despacho
13877-A/2013 de 30 de Outubro 2013 percebemos de imediato o imbróglio que aí
está. No preâmbulo procede-se a uma conflituosa mistura que torna ab initio o
citado despacho num ‘caldo explosivo’: racionalidade, equidade e
excepcionalidade (por esta ordem).
De seguida quando se referenciam e
especificam os Centros Especializados para Utilização Excecional de
Medicamentos (CEUEM) que o artigo 4 do referido despacho considera provisória
(passível de actualização futura) percebe-se logo porquê. Toda a área
oncológica nacional (exceptuando a Oftalmologia) foi ‘entregue’ de bandeja aos
IPO. Para elaborar tão douto despacho não interessou (ou não foi conveniente)
avaliar qual a distribuição do ‘esforço oncológico nacional’. Na realidade,
grande parte deste esforço está distribuída por diversas instituições
hospitalares do País não cabendo aos IPO qualquer posição prevalente ou de
destaque que confira as essas instituições funções tutoriais no campo dos
tratamentos oncológicos. O princípio será que qualquer doente oncológico em qualquer
instituição deverá auferir o melhor que o estado da arte tem para oferecer.
Tudo o que exceder ou tentar contornar este princípio é mera dilação.
Logo, o julgamento especializado e
acantonado no sentido de possibilitar o acesso a medicamentos dependentes de
avaliação prévia, concentrado nos IPO, é a primeira iniquidade e só pode ser
correlacionado como sendo uma prebenda, com graves implicações e riscos (para
doentes e para os profissionais de saúde).
Primeiro, o despacho em causa, quer
no preâmbulo referencia expressamente os doentes oncológicos para os CEUEM,
quer mais adiante (no item 2) ao determinar a sua referenciação para um dos
centros mais próximos que, apesar de posterior emenda verbal, deixam nos
doentes e nos profissionais a indelével imagem de ‘gato escondido com rabo de
fora’. Não se trata de um lapsus calami. Foi o emendar da mão ao retardador na
tentativa de expurgar o despacho de resquícios fundamentalistas que o infectam.
Depois, esta decisão é susceptível
de gerar atritos institucionais e entre os profissionais que dedicam o seu
trabalho e saber à área oncológica. Os oncologistas e outros técnicos dos IPO
não são portadores de quaisquer mais-valias ‘especiais’ ou ‘adicionais’, quer
na área do conhecimento quer no desempenho, em relação às equipas que trabalham
nas diferentes unidades hospitalares do SNS e que integram a rede de referenciação
oncológica.
Uma coisa é agrupar e coordenar os
diferentes centros hospitalares numa rede de referenciação que esteja de acordo
com a complexidade das situações oncológicas e a capacidade de oferecer uma boa
resposta [adequada e qualificada], outra será discriminar arbitrariamente e
despudoradamente competências institucionais e, concomitantemente, esgrimir
fantasmas contra a independência técnica dos profissionais.
O Ministério da Saúde tem
demonstrado sucessivas dificuldades em delinear estas ‘fronteiras’.
Se existe aqui alguma inconformidade
será inversa da que tem sido divulgada. Não são as equipas hospitalares que
insistem em não reconhecer idoneidade (superioridade) aos IPO, mas claramente o
inverso.
O problema é outro e
substancialmente diferente. A Oncologia está sub-financiada com foi denunciado
oportunamente pelo director do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas na
AR (2012). Neste momento e inabilmente tenta erguer-se uma barreira burocrática
aos doentes quanto à acessibilidade a medicamentos inovadores. Paralelamente
camufula-se este ensejo com questões de racionalidade e excepcionalidade. Para
disfarçar fala-se de equidade. Mas falar de equidade nestas circunstâncias não
passa de um embuste como ficou demonstrado à evidência no programa ‘Prós &
Contra’.
Aí foi difícil distinguir entre
inequidades, falsidades e inabilidades. Estiveram de mãos dadas.
E-Pá!
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